O falar em línguas como evidência do batismo no Espírito Santo

O falar em línguas como evidência do batismo no Espírito Santo


De acordo com 1 Coríntios 12.29-30, nem todos falam em línguas. Como, então, o pentecostalismo clássico pode afirmar que todos os batizados com o Espírito Santo manifestam, de forma física e inicial, o falar em línguas?

Ouvi esses dias um pastor presbiteriano utilizando aquilo que, para ele, foi o argumento irrefutável contra a fé pentecostal no que diz respeito à doutrina da evidência inicial. O argumento usado, em resumo, é uma interpretação do texto de 1 Coríntios 12.29,30: “Porventura, são todos apóstolos? São todos profetas?

São todos doutores? São todos operadores de milagres? Têm todos o dom de curar? Falam todos diversas línguas? Interpretam todos?”. Paulo, neste capítulo, está falando da diversidade dos dons do Espírito no corpo de Cristo e de como cada dom tem sua função e propósito específicos. As perguntas feitas por Paulo nesses versículos são retóricas, e o “não” é a resposta esperada para todas elas. Em outras palavras, o que o apóstolo está dizendo é que nem todos são apóstolos, profetas, doutores ou operadores de milagres. Nem todos possuem o dom de curar, nem todos falam em diversas línguas ou interpretam.

A questão sustentada pelo pastor presbiteriano é que esse texto invalida a doutrina da evidência inicial. E por quê? Porque a doutrina pentecostal afirma que há um sinal físico e inicial que confirma o recebimento do batismo no Espírito Santo — um sinal que está atrelado à fala.

No Novo Testamento, vemos que o fenômeno fonético das línguas cumpre esse objetivo, sem exceção (Atos 2.4; 10.44-46; 19.6). Logo, espera-se, de acordo com a fé pentecostal, que todo aquele que é batizado no Espírito Santo fale em línguas, assim como ocorreu na Igreja Primitiva descrita em Atos.

Mas a questão ainda permanece: seria esse ponto de vista pentecostal uma contradição daquilo que Paulo disse nesses versículos? Pois, supostamente, de acordo com 1 Coríntios 12.29,30, nem todos podem falar em línguas. Como, então, o pentecostalismo clássico pode afirmar que todos os batizados com o Espírito Santo manifestam, de forma física e inicial, o falar em línguas?

Essa questão pode ser resolvida ao atentarmos que esse texto fala do dom de variedade de línguas. Em 1 Coríntios 12–14, Paulo não está tratando do batismo no Espírito Santo e nem das línguas como sinal, mas do mau uso dos dons espirituais pelos cristãos em Corinto; por isso, nessa carta, Paulo está tratando do dom de línguas, e não do sinal do batismo no Espírito Santo.

O Dicionário de Paulo e Suas Cartas (2008, p. 804-805) reconhece que Paulo, em 1 Coríntios 12–14, trata das línguas como dom, e não sobre o sinal do batismo no Espírito Santo. A questão do sinal é depreendida dos textos lucanos, e não dos textos paulinos. Para Paulo, as línguas como dom funcionam como um carisma que edifica o falante, bem como a igreja, quando há intérprete. Já para Lucas, as línguas funcionam como um sinal do recebimento do batismo no Espírito Santo, confirmando o revestimento de poder.

Nem todos recebem (ou receberão) o dom de variedade de línguas. Embora, no ato do batismo com o Espírito Santo, se espere que o indivíduo fale em línguas, isso não significa que ele tenha recebido o dom de variedade de línguas, pois o que ele recebeu foi apenas as línguas como sinal físico e inicial do revestimento de poder. O dom precisa ser buscado posteriormente ao batismo. Eurico Bergstén é um dos teólogos pentecostais que defendeu essa perspectiva (Lições Bíblicas, 1º trimestre de 2004 – Lição 7).

por Melquesedec Damaceno

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