As árvores de silício e os gigantes

As árvores de silício e os gigantes


É incrível, e um pouco irritante, a capacidade que o ser humano tem de inventar hipóteses fantásticas (não emprego do adjetivo como extensão de admirável, mas como sinônimo de folclore mítico) para qualquer coisa que queira. O caso das árvores de silício é um exemplo acabado daquilo que a mente humana é capaz de produzir para satisfazer sua necessidade de relacionamento com o sobrenatural. Antes de mais comentários, entendamos, o caso.

Lembra-se daquelas vezes perdidas na infância, quando você passava algum tempo olhando as nuvens até vê-las tomar a forma de um animal, ou outra coisa? Há quem tenha trazido à vida adulta esta mania, mas agora com contornos científicos. Antes de continuar a leitura, recomendo que você observe atentamente a foto que ilustra este texto. Percebeu? Notou como a montanha de topo chato lembra vagamente o toco de uma árvore cortada? Pois, bem. A brincadeira é dizer que estas formações geológicas foram, nos idos tempos antediluvianos, de fato árvores. Mas não árvores quaisquer. Árvores obviamente gigantescas, com vários quilômetros de altura. Mas, calma, essa pseudociência fica ainda mais inacreditável e risível.

Além da estapafúrdia suposição de que estes acidentes geográficos foram árvores, os devotos desta aberração, sustentam que as tais eram minerais, especificamente silício (material encontrado nessas rochas) e que elas foram cortadas pelos nefilins, os homens de grande estatura citados em Gênesis 6.4, onde lemos: Havia, naqueles dias, gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus entraram às filhas dos homens e delas geraram filhos; estes eram os valentes que houve na antiguidade, os varões de fama”. A alegação dá conta que os homenzarrões precisavam do silício para suas atividades. Sinceramente? Não consigo escolher o que é mais difícil para mim: acreditar numa suposição enlouquecida como esta, ou aceitar que existam pessoas (muitas delas cristãs) que se permitam confundir por alucinações assim. Mas sou professor, e foi lecionando que me convenci de algo: não há dúvida inútil, e embora existam perguntas sobre assuntos inúteis, todo questionamento pode ser proveitoso para algum aprendizado. Vamos, então, aprender algumas coisas com este absurdo?

As formações de topo achatado são rochas erodidas e elas têm de centenas de metros a alguns quilômetros de área. O mais importante é que fique claro, estabelecido e confirmado que são, foram, e sempre serão acidentes geográficos. Só a mais remota hipótese de que elas hajam sido árvores gigantes de silício deve ser rechaçada com veemência.

Em segundo lugar, os nefilins aqui citados como desmatadores de gigantescas florestas de silício já foram arrolados em outra suposição teológica absurda e infundada, a de que eles teriam nascido da relação sexual entre anjos e mulheres – algo que a magia negra chama de incubos. Meus irmãos, isto não é verdade e não existe o mínimo fundamento bíblico para afirmar algo tão animalesco e aberrante. Os nefilins eram homens grandes, muito maiores que os seres humanos médios. Tão altos e corpulentos, não é difícil imaginá-los valentes ou valentões. Só isso, e nada mais.

Em terceiro lugar, em Teologia (e este é um assunto teológico, por mais estranho que pareça), a resposta mais simples é, quase sempre, a correta. E o mais simples é o óbvio: as montanhas de hoje foram montanhas no passado – como seria diferente? Os nefilins foram homens grandes como Bernard Coyne, SultanKösen ou Don Koehler, alguns dos homens gigantes mais conhecidos da história. E sabemos que não passa disso porque é só e somente assim que a Bíblia os trata.

Em último lugar, voltemos ao que afirmei no parágrafo de abertura deste artigo, quando disse que ideias tais são fruto da necessidade que o ser humano tem de se relacionar com o sobrenatural.

Quando feito por Deus, o homem foi concebido à imagem e semelhança do Criador. Gosto muito da forma poética como Moisés narrou os fatos incontestes da Criação. Nos dois primeiros capítulos do livro do Gênesis aprendemos que a cada um dos animais o Senhor deu uma ordem clara, e repetida com métrica e necessidade doutrinaria pelo líder hebreu, reproduzam-se conforme a sua espécie. Os seres aquáticos multiplicam-se conforme a sua espécie. Os animais terrestres igualmente o fazem conforme a sua espécie. As aves, é claro, geram outras aves conforme a espécie que são. Ao homem é dada uma ordem parecida, mas não igual. Adão, Eva e nós devemos nos reproduzir e multiplicar, mas não há o aposto de que isso seja feito conforme a nossa espécie, porque a espécie que somos não é própria de nós, mas é, sim, imagem e semelhança do Criador. Magnífica e generosamente, Deus colocou dEle em nós. O resultado é que uma das três porções constituintes de quem somos, o nosso espírito, anseia ardentemente o relacionamento com o Senhor.

Como é sabido, a intimidade entre Deus e o ser humano foi quebrada pelo pecado, e só pode ser reatada por intermédio de Cristo, o suficiente Salvador. Mas lamentavelmente, a imensa maioria da humanidade recusa a reconciliação com em Jesus. Não quer dizer, porém, que se possam sufocar os soluços saudosos do espírito que chama o Eterno, que sabe precisar dEle para ser completo e salvo. Buscando ludibriar a si mesmo, o homem produz para si teorias, hipóteses ou falsa ciência que, ele espera, possam distrair o seu espírito de sua real necessidade que é religar-se a Deus. A ironia é que o desprezo humano por Deus produz crenças ilógicas, absurdas mesmo, quando seria mais fácil aceitar os fatos conforme narrados na Bíblia. Mas cientistas e teóricos da conspiração aceitam mais facilmente que haja evolução ocorrendo no mundo, em vez de aceitar que tudo foi feito pela ordem poderosa do Senhor. Lhes parece mais factível que o mundo haja sido tomado por imensas árvores de silício, que admirar os eventos geológicos e geográficos, muitos deles provocados pelo dilúvio, quando romperam as fontes inferiores das águas. Lhes parece mais promissor vibrar com algum gigante nascido de mulher e demônio que receber o Filho de Deus, nascido da virgem, em seu coração.

por Gunar Berg de Andrade

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