Amor e acolhimento aos órfãos

Amor e acolhimento aos órfãos


Ao longo dos anos, nos deparamos com acontecimentos que afetam as famílias de modo avassalador. São guerras, conflitos internos, catástrofes e pandemias. Geralmente, quando esses eventos ocorrem, há um aumento significativo no número de órfãos – pessoas entre 0 e 18 anos que perderam seus pais ou um deles.

Como exemplo, apenas no Brasil, e somente no período de 1º de março de 2020 a 30 de abril de 2021, durante a pandemia de Covid-19, segundo estudo publicado pela revista médica The Lancet,1 estima-se que faleceram em nosso país 87,5 mil pais, 25,6 mil mães e 17,1 mil avós, deixando mais de 130,3 mil crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. Muitos foram acolhidos por parentes e amigos; poucos entraram na fila de adoção. Toda essa situação provocou um impacto econômico relevante para o país e um grande impacto social e emocional nas famílias. Para muitas delas, houve empobrecimento, devido ao aumento do número de membros, sem, contudo, haver aumento da renda.

Acolhendo os órfãos

Em primeiro lugar, é preciso que o adulto que acolher um órfão entenda que ele nunca será um fardo, mas, sim, uma missão. Em Marcos 9.36,37, lemos: Trazendo uma criança, colocou-a no meio deles e, tomando-a nos braços, disse-lhes: Qualquer que receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me recebe; e qualquer que a mim me recebe, não recebe a mim, mas ao que me enviou”. Vemos, então, que quem cuida de um órfão com amor e carinho é como se cuidasse do próprio Jesus. À luz da Bíblia, percebemos que os órfãos sempre receberam cuidado especial por parte de Deus.

A família acolhedora não estará apenas prestando um favor, mas será coparticipante da bênção que Deus tem reservada para os órfãos e viúvas. Assim lemos em Deuteronômio 10.18,19: “Pois o Senhor, vosso Deus, é o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e temível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita suborno; que faz justiça ao órfão e à viúva e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e vestes”.

Apresentar Deus como Pai

O salmista Davi nos apresenta Deus como Pai dos órfãos (Salmos 68.5). Deus sempre foi e sempre será o defensor deles. Como Pai, os protegerá, dará provisão e será o seu justo juiz.

Sabemos que toda separação provoca dor e, muitas vezes, essa dor pode gerar revolta contra Deus. A criança ou adolescente ainda não possui maturidade espiritual suficiente para compreender que a culpa não é de Deus. O sentimento que aflora nesses momentos é o de injustiça. Eles podem questionar: “Se tudo está nas mãos de Deus, por que Ele permitiu que meus pais morressem? Por que não os curou?”. Esse processo doloroso é compreendido por Deus, pois Ele é Pai, entende a nossa dor e sofre conosco. Muitos entram em depressão diante do luto. Nesse momento, é bom falar sobre a eternidade, explicar que a separação é temporária e que um dia estaremos juntos com os nossos entes queridos no Céu.

Para aqueles cujos pais eram evangélicos, o Céu é uma realidade. Saber que seus pais estão com o Senhor trará conforto. É importante explicar a eles que não estão sozinhos, dizer que muitas pessoas já passaram por essa dor e que jamais estarão desamparados, pois o Pai Celestial sempre cuidará deles. Para os que perderam pais que não eram convertidos, é importante apresentar a bondade de Deus como uma realidade. Nesse caso, mostre o Deus bondoso que terá o maior prazer em cuidar deles e chamá-los de filhos (João 1.12).

Expresse amor

Não há nada mais reconfortante do que se sentir amado. A Bíblia diz que “Deus é amor”. Esse amor é demonstrado por meio da cruz. Portanto, abra os braços e abrace. Fale palavras de conforto, mas também de encorajamento. Conte histórias bíblicas de órfãos que Deus cuidou (Joás, Jefté e Ester). Demonstre seu amor de forma prática. Mostre aos órfãos que eles são importantes para você e para Deus. Diga-lhes que o amor de Deus é a maior força que existe. Ele é inigualável, incomparável e capaz de quebrar qualquer barreira. Esse amor tem o poder de transformar vidas e curar feridas. Nem a morte pode nos separar desse eterno amor (Romanos 8.38).

Se você, que adotou um órfão, tiver filhos biológicos em casa, esteja atento às situações que podem gerar conflitos. Eles também precisarão se adaptar e aprender a renunciar a certas coisas em favor do outro, inclusive aprender a compartilhar o pai e a mãe. Isso pode gerar sentimento de perda ou ciúmes. Explique que a situação é temporária, e que logo tudo entrará em equilíbrio, pois todos formarão uma só família.

O papel da Igreja

A Igreja de Cristo não pode permanecer omissa diante da orfandade, pois tem um papel importante delegado por Deus. O acolhimento de órfãos e viúvas é uma das tarefas sociais da Igreja.

A perda de um ente familiar direto, como pai, mãe ou cuidador da família, tem impacto emocional, social e financeiro na vida dos filhos. Em meio às dificuldades do luto, além da dor da perda, há também a solidão, o medo do futuro, a ausência do provedor do lar e até o estresse causado por mudanças de casa e escola.

Na carta de Tiago, capítulo 1, versículo 27, lemos que, se quisermos servir a Deus com um coração puro e sem mácula, devemos cuidar dos órfãos e das viúvas. A Bíblia está repleta de versículos que mostram essa necessidade. A Igreja pode ajudar com cestas básicas, apoio psicológico, assistência jurídica, visitas e, principalmente, acolhimento com amor. É necessário ter empatia para viver o evangelho de forma genuína.

Como sugestão, os professores da Escola Dominical devem estar preparados para ouvir as crianças e adolescentes que quiserem compartilhar seus sentimentos, conduzindo-os ao entendimento de que Deus não perdeu o controle de suas vidas e que elas não estão sozinhas. Confiar e sentir a presença do Senhor é fundamental quando nos sentimos desamparados. É nesse momento que devemos ensinar com amor e conduzir aquela pessoa a um verdadeiro encontro com o Pai Celestial. Nada é mais seguro do que os braços do nosso Pai (Hebreus 13.5).

Nota

(1) Disponível em: < https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/piis0140-6736%2821%2901253-8/fulltext?utm_source=chatgpt.com> Acesso em: 7 out. 2025.

por Vera Lúcia da Silva

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