Quado era criança, um dos primeiros textos bÃblicos de que tenho lembrança de ter decorado foi Salmos 1.1, que diz: “Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos Ãmpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores”. Minha avó materna o citou na primeira vez que o ouvi. A minha pouca idade não permitia que eu tivesse total compreensão do que significavam aquelas palavras, mas, pela aplicação que vovó Martina fez, eu entendia que não era coisa boa andar segundo o conselho dos Ãmpios, deter-se no caminho dos pecadores e nem se assentar na roda dos escarnecedores.
Tratando-se especificamente da “roda dos escarnecedores”,
que foi o ponto que mais me chamou a atenção na citação bÃblica, ela dizia: “Quando
você perceber alguém falando mal dos crentes, não se junte a essas pessoas”.
Com o passar do tempo, fui entendendo que a “roda dos escarnecedores”
é muito mais do que apenas um grupo de pessoas reunidas zombando ou fazendo piadas
ofensivas contra os crentes. O escárnio à s coisas de Deus, à BÃblia Sagrada, o
desprezo à verdade e a celebração do pecado fazem parte do repertório da
“roda”. Nesses ambientes, entre essas pessoas, aquilo que é santo é ridicularizado,
incluindo as manifestações autênticas do EspÃrito Santo, como o falar em
lÃnguas estranhas.
Com o advento das redes sociais, percebi que a “roda dos
escarnecedores” é muito mais do que um lugar fÃsico, como praças e mesas de
bares, por exemplo. Assim como a “roda dos escarnecedores”, temos também o que
eu chamo de “rede dos escarnecedores”. Nela, há pessoas que se sentem à vontade
para destilar ódio, sobretudo por se acharem protegidas pelo anonimato. Se você
faz parte de alguma rede social e percebe alguém zombando de Deus, não ria com essa
pessoa. Não seja cúmplice nesse pecado. Não considere tal comportamento como
normal. Não curta e, principalmente, não compartilhe conteúdos com esse teor.
“E não vos associeis à s obras infrutÃferas das trevas; antes, porém, reprovai-as”
(Efésios 5.11).
Em lugar de se incomodar, muitos crentes estão se acomodando
às coisas do mundo (Romanos 12.2). Inclusive, há alguns que até têm práticas
similares às dos escarnecedores: fazem gracejos com expressões espontâneas de crentes
em adoração e até imitam falas em lÃnguas estranhas. É o escárnio disfarçado de
humor. O que também há de negativo nisso é que, ao verem outros serem ridicularizados,
aqueles que têm o desejo de receber o batismo no EspÃrito Santo receiam ser as
próximas vÃtimas de chacota.
Precisamos cultuar a Deus com temor, discernimento e
reverência. Não podemos participar de cultos onde o Senhor está se movendo e fazer
piadas de coisas sérias.
Em alta desde o inÃcio dos anos 2000, os chamados memes —
conteúdos midiáticos em imagem, vÃdeo, texto etc., com situações engraçadas do
cotidiano de pessoas, tanto comuns quanto famosas — têm seu “filão” evangélico.
Nas redes sociais, gafes de pastores e cantores em cultos têm viralizado,
alcançando milhões de compartilhamentos, curtidas e comentários. Canções e
mensagens bÃblicas que antes expressavam sentimento cristão de adoração ao Senhor
enfrentaram ressignificação do sentido e do objetivo originais, como a clássica
música “Os Galhos Secos”, também conhecida como “Para Nossa Alegria”. Ficou
difÃcil, depois de viralizado em 2012 com o meme de dois irmãos cantando na
sala de casa ao lado da mãe com “extravagante alegria”, a canção ser entoada
nas igrejas sem que fosse feita a associação ao conteúdo das redes sociais.
Adorar a Deus com “Para Nossa Alegria” tornou-se um desafio.
Diante do exposto, você pode perguntar: como não se sentar
na roda dos escarnecedores se o lugar onde trabalho e estudo, além dos demais
lugares que preciso frequentar e dos grupos dos quais faço parte, incluindo as
redes sociais, está repleto, majoritariamente, de pessoas Ãmpias? Se você não tem
como sair de tais ambientes, influencie, imponha respeito pelo testemunho,
proponha mudança de assunto nas conversas. Em todo caso, se insistirem: “Estai sempre
preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão
da esperança que há em vós, tendo uma boa consciência, para que, naquilo em que
falam mal de vós, como de malfeitores, fiquem confundidos os que blasfemam do
vosso bom procedimento em Cristo, porque melhor é que padeçais fazendo o bem
(se a vontade de Deus assim o quer) do que fazendo o mal” (1Pe 3.15-17).
O mesmo apóstolo Pedro, no texto acima citado, fala do surgimento
de escarnecedores nos últimos tempos. Não que eles não existissem no tempo do
salmista.
Sim, eles existiam àquela época. Se assim não fora, o
escritor veterotestamentário não os teria citado. Assim nós lemos em 2 Pedro
3.3-7: “Sabendo primeiro isto: que nos últimos dias virão escarnecedores, andando
segundo as suas próprias concupiscências e dizendo: Onde está a promessa da sua
vinda? Porque, desde que os pais dormiram todas as coisas permanecem como desde
o princÃpio da criação. Eles voluntariamente ignoram isto: que pela palavra de
Deus já desde a antiguidade existiram os céus e a terra, que foi tirada da água
e no meio da água subsiste; pelas quais coisas pereceu o mundo de então, coberto
com as águas do dilúvio. Mas os céus e a terra que agora existem pela mesma
palavra se reservam como tesouro e se guardam para o fogo, até o Dia do JuÃzo e
da perdição dos homens Ãmpios”.
Em Judas 1.17,18, lemos assim: “Mas vós, amados, lembrai-vos
das palavras que foram preditas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo,
os quais vos diziam que nos últimos tempos haveria escarnecedores, andando
segundo as suas Ãmpias paixões”.
Como vimos, entre os argumentos dos escarnecedores está o de
desacreditar a mensagem da promessa da volta de Jesus: ensino central da fé
cristã (João 14; At 1.9-11; 1 Tessalonicenses 4.16,17). Quando um crente se torna
escarnecedor, ele pode estar beirando a apostasia ou a blasfêmia — se já não
tiver incorrido nelas (1 Timóteo 4.1-5; Mateus 12.31,32).
Mas o que leva um cristão sério a se unir a escarnecedores
para zombar de Cristo, de Sua Palavra e de Seus servos? Seja por conveniência,
medo de rejeição ou desejo de aceitação, aliar-se aos escarnecedores é abrir
mão da comunhão com Deus em troca da aprovação do mundo.
Ainda há a advertência bÃblica de que não podemos usar de chocarrices,
que são brincadeiras grosseiras, zombarias ofensivas ou graças de mau gosto. É
uma forma de gozação que passa do limite, muitas vezes com a intenção de
ridicularizar alguém. Assim lemos em Efésios 5.3,4: “Mas a prostituição e toda
impureza ou avareza nem ainda se nomeiem entre vós, como convém a santos; nem
torpezas, nem parvoÃces, nem chocarrices, que não convêm; mas, antes, ações de
graças”. Mesmo que todos estejam fazendo, não convém a santos fazer.
O que faço aqui não é uma crÃtica à s redes sociais, mas um
alerta quanto ao uso delas para fins de deboche e escárnio. Parece que vale tudo
em nome do entretenimento e da diversão. Estejamos atentos! Divertir-se à custa
do sagrado pode atrair severo juÃzo. Assim lemos em IsaÃas 28.22: “Agora, pois,
não sejais escarnecedores, para que não se façam mais fortes os vossos grilhões;
porque do Senhor, o Senhor dos Exércitos, determinei uma destruição, e esta já
foi ajustada sobre toda a terra” (ARA).
A BÃblia afirma em Gálatas 6.7: “De Deus não se zomba; pois
tudo o que o homem semear, isso também colherá”. A zombaria contra Deus é uma
semente que, cedo ou tarde, trará frutos de consequências. “Preparados estão os
juÃzos para os escarnecedores e os açoites para as costas dos tolos” (Provérbios
19.29).
por Francisco Edilberto da Silva
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