“Por que Jesus tratou a mulher sirofenícia daquele modo, comparando-a a um cachorrinho, para só em seguida atender o seu pedido?”
Para darmos uma explicação plausível sobre o tema em tela, é necessário que façamos, em primeiro plano, uma breve análise da situação geográfica e social dos dias de Jesus. A situação geográfica: Jesus estava andando pelas partes de Tiro e Sidom, duas cidades estados da Fenícia (atual Líbano). Eram localidades portuárias do Mar Mediterrâneo, ao norte de Israel. Essas duas cidades eram históricas, também muito ricas pela exploração do comércio. Essa proximidade de fronteira tornava natural que a travessia fosse realizada por Jesus e seus discípulos.
Quanto à situação social vigente, a expressão siro-fenícia é
aplicada pelo evangelista Marcos (Marcos 7.26). Isso se deve ao fato de que a
região estava anexada à Síria. Já Mateus conhece aquela mulher como sendo
cananéia (Mateus 15.22). O que podemos depreender dessas duas afirmações é que
cla era gentia, ou seja, não pertencia à linhagem do povo de Israel.
Quanto à pergunta da presente seção — Como explicar o tratamento
de Jesus à mulher sirofenícia? —, podemos assim discorrer: as atitudes de Jesus
durante o seu ministério foram muitas vezes incompreendidas por apresentarem
alguns elementos ou métodos novos. Nesse caso em particular, encontramos
algumas atitudes que nos encaminham para um aprendizado importante. Analisando
o texto de Mateus 15.21-28, podemos distinguir alguns pontos importantes para a
elucidação dessa pergunta.
A aparente indiferença de Jesus: “Mas Ele não lhe respondeu
palavra” (v23). Isso não quer dizer que Jesus no ligava para a situação daquela
miserável mulher. Isso apenas indica que Ele deseja que o ser humano demonstre
a sua fé na busca pelo Criador.
A discriminação dos discípulos para com ela: “E os seus discípulos
chegando ao pé dele, rogaram-lhe, dizendo: despede-a, que vem gritando atrás de
nós” (v23). As circunstâncias eram adversas, mas ela foi perseverante.
Há uma adoração e um pedido veemente de socorro (v25). Jesus
demonstrou o caráter inicial de sua vinda apenas para a nação de Israel,
esclarecendo para a mulher sirofenícia que os judeus deveriam ser os primeiros
a ter a oportunidade de aceita-lo como Messias porque era da vontade de Deus
que levassem a mensagem da salvação a todos. Jesus não estava rejeitando aquela
mulher que era de origem gentílica; Ele estava testando-lhe a fé e usando a
situação como uma oportunidade para ensinar que a fé está à disposição de todas
as pessoas, sejam elas de origem judaica ou gentílica.
A expressão usada por Jesus: “Não é bom pegar o pão dos
filhos e deitá-los aos cachorrinhos” (v26). Era um termo usado pelos judeus
para se referir aos gentios naqueles dias. Jesus aproveitava tal termo para
dizer em tom forte para aquela mulher (provando-lhe a fé) que a bênção,
inicialmente, era apenas para os judeus. A mulher humilhou-se copiosamente e
alcançou o favor do Senhor. Ela não procurou discutir se tinha ou não o valor
de um cão. Porém, concordou ser comparada a um cachorrinho desde que sua filha
pudesse receber a bênção de Deus, liberta daquela terrível possessão.
Há determinados momentos que não entendemos o modo de agir
de Deus em nossas vidas, como Ele às vezes nos prova. Porém, devemos analisar
esses momentos olhando pelo ângulo da soberania do Criador. Cabe a nós a
resignação de aceitar os desígnios do Altíssimo.
Jesus não queria desprezar ou humilhar publicamente aquela
mulher, mas o seu objetivo, como foi revelado em seguida, era o de mostrar para
os orgulhosos judeus que a salvação trazida por meio dEle nunca foi
exclusivista, mas para todos, inclusive para aquela pobre e desprezada mulher
sirofenícia.
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