Jesus, ao proferir esta parábola não quis, certamente, referir-se a todos os homens. Quando se trata das coisas de Deus, o termo filho, em relação a Deus, indica novo nascimento, transformação. Assim, são filhos os já nascidos de Deus pelo Espírito Santo, os salvos. Desse modo, a parábola só tem aplicação a nós, os crentes, e filho pródigo é todo o crente que está longe da casa do Pai Celestial.
Notemos que Casa do Pai não significa a casa de oração, o templo, nem mesmo a comunidade na igreja local. Casa do Pai é aquele lugar celeste que pode ser encontrado a qualquer tempo e em qualquer lugar. Casa do Pai é a comunhão íntima do crente com Deus; é o monte onde Pedro exclamou extasiado: “Bom é estarmos aqui!”. Casa do Pai é sentir aquela alegria imensa que enleva a alma; Casa do Pai é ter o Reino de Deus dentro de si. Isso é Casa do Pai.
Quem não sente gozo, paz e alegria no Espírito Santo, quem não pode dizer “Bom é estarmos aqui!”, quem não sente mais aquela doce comunhão com Deus por Cristo, quem não ama o seu irmão como a si mesmo, quem conserva ira no seu coração, quem não perdoa como Deus em Cristo nos perdoou, quem pratica o que não é certo, não está na Casa do Pai, é um filho pródigo e precisa voltar para ela, ainda que esteja em comunhão com a igreja local, ainda que se assente no púlpito da casa de oração para ensinar a seus irmãos, e muito mais se estiver sem comunhão com a igreja, vivendo dissolutamente.
Duas coisas se salientam na parábola: o amor do pai e a ingratidão e rebeldia do filho pródigo.
“Pai, dá-me a parte que me pertence”. Como não feriu o coração do pai essa palavra tão dura! Tudo o que ele gozava, toda a sua riqueza, pertencia ao pai e só pela bondade do pai ele de tudo desfrutava. Tudo o que de mais sublime que o crente possui não é dele. É de Deus. De Deus vem salvação, perdão dos pecados, fé, batismo no Espírito Santo, dons e tudo mais. Apesar de pedido rebelde e ingrato, o pai permitiu ao filho que tudo levasse. O filho partiu para uma terra longínqua deixando a casa do pai e levando na sua bagagem aquilo que pertencia ao pai. Os dons de Deus permitem que nós, rebeldes e ingratos, levando o que é dele, partamos para uma terra longínqua!...
Longe da casa do pai, o filho rebelde desperdiçou toda a sua fazenda que não era sua, mas do pai. Muitas vezes o crente assim procede: deixa a casa do pai, a comunhão com Deus, parte para um lugar que não é aquele lugar do monte da transfiguração, parte para um lugar onde não pode dizer: “Bom é estarmos aqui!”. Assim, o crente desperdiça a fé que Deus lhe dera, desperdiça a alegria do Espírito Santo que Deus lhe concedera, desperdiça a paz que Deus lhe oferecera, desperdiça o amor que recebera do Pai. Em vez de rosto brilhante como o de Estêvão, que via o Senhor na hora da morte, passa a ter rosto caído como o de Caim, que matara seu irmão. Já não pode mais amar, não pode levantar a Deus mãos santas sem ira nem contenda, não tem mais dentro de si o Reino de Deus.
Que encontra o crente longe da Casa do Pai, na terra longínqua, que possa saciar a necessidade da sua alma? O quê? Nada, absolutamente nada do Senhor em terra estranha. Todos os tesouros do mundo, todos os prazeres do mundo, todos os divertimentos que o mundo oferece, são apenas “bolotas de porcos” e não podem dar ao crente que está longe da Casa do Pai nem ao menos uma migalha daquele gozo celeste que enchia a sua alma. O crente verdadeiro, longe da Casa do Pai, sente a sua vida vazia c sem razão.
“Eu aqui pereço de fome e de tristeza e na casa de meu pai até os jornaleiros têm abundância de pão”, raciocinou o filho rebelde.
Na Casa do Pai, o mais humilde crente vive na abundância do pão da vida; mas, longe da Casa do Pai, o crente perece de fome. Longe da Casa do Pai o moço perdera tudo: perdera suas belas vestes (estava andrajoso, ou seja, esfarrapado, mendigo, maltrapilho), perdera as moedas de ouro que trouxera, perdera seus anéis, sua aliança, perdera até mesmo seu caráter e a aparência de filho de pai rico e poderoso — tudo, tudo perdera. Era um trapo humano no lamaçal de um chiqueiro. O moço decidiu: “Levantar-me-ei e irei ter com meu pai” (notai outra vez estas palavras: “...meu pai”).
“E levantando-se foi”. Ele sabia que seu pai não influiria na sua decisão, mas tinha a certeza que o esperava à porta de casa.
Meu prezado irmão, essa é uma mensagem que da parte de Deus chega a você: a parte humana Deus não faz. Ele ressuscitou Lázaro, mas não tirou a pedra do seu túmulo nem desatou as suas ataduras. Se você sente hoje a chamada do Espírito Santo, levanta-te também e, como o moço da parábola, encaminhe-se à Casa do Pai. Essa é a sua parte. Isso Deus não pode fazer por você.
Agora, a mais bela e a mais comovente cena da parábola: “Quando ainda estava longe, viu-o seu pai e moveu-se de íntima compaixão e, correndo, lançou-se lhe ao pescoço e o beijou” O pai não o censurou pela ingratidão cometida. A alegria do pai pela volta do filho perdido superava toda a tristeza, toda a dor causada pela ingratidão do filho.
Deus está pronto a restituir tudo o que longe da Casa do Pai você desperdiçou.
O encontro filho-pai provocou uma resolução definitiva do filho: ele não tinha mais vontade de deixar a casa do pai, de desperdiçar a sua fazenda. Agora, ele desejava Sempre c sempre estar na casa do pai e com mais experiência e com mais humildade, conhecendo já a dor de estar longe da casa do pai.
por Nemuel Kesler
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