Vivemos em uma era marcada por avanços tecnológicos impressionantes. A inteligência artificial (IA), outrora considerada ficção científica, agora permeia quase todos os aspectos da vida cotidiana — das recomendações em redes sociais aos diagnósticos médicos e à automação industrial. No entanto, esse fenômeno também tem alcançado o universo da fé cristã, e com preocupantes implicações. A facilidade de acesso a plataformas que “escrevem sermões” ou “interpretam a Bíblia” tem seduzido muitos pregadores, professores e estudantes de teologia. Mas será que a inteligência artificial pode, de fato, substituir o estudo diligente da Palavra de Deus? Quais os riscos que se escondem por trás dessa comodidade?
A formação de um sermão bíblico-teológico exige tempo, oração,
pesquisa e sensibilidade pastoral. O uso da IA, embora prático, tende a
favorecer um modelo de “produção rápida” de conteúdo, esvaziando o processo formativo
que o Espírito Santo opera no coração do pregador. A Escritura nos exorta:
“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se
envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Timóteo 2.15). A IA pode
oferecer textos coerentes e até bem redigidos, mas ela não ora, não jejua, não
se quebranta e, por isso, não pode substituir o preparo espiritual de um servo
de Deus.
Outro problema é que as ferramentas de IA são treinadas com
vastas quantidades de dados disponíveis na internet, o que inclui teologias
liberais, heresias antigas recicladas, filosofias seculares e até conteúdos
ocultistas. A inteligência artificial não possui uma consciência teológica nem
discernimento espiritual; seu critério de organização do conteúdo é
probabilístico e estatístico, e não doutrinário ou bíblico. Quando um pregador desavisado
utiliza tais plataformas sem senso crítico, pode reproduzir conceitos errôneos,
comprometendo a ortodoxia da doutrina cristã e introduzindo, ainda que
involuntariamente, ele mentos estranhos a fé evangélica.
A IA, ao sugerir interpretações bíblicas, pode misturar
verdades com erros sutis, tornando a mensagem contaminada por ideologias
contrárias à cosmovisão cristã. É o velho perigo do “outro evangelho”, contra o
qual o apóstolo Paulo advertiu severamente: uma mensagem que parece semelhante
à original, mas que, na essência, distorce a graça e compromete a verdade.
“Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de
Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam
e querem transtornar o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um
anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado,
seja anátema. Assim como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo: se
alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema” (Gálatas
1.6-9).
Em tempos de relativismo teológico e sincretismo crescente, O
uso acrítico da IA pode servir como canal de disseminação de doutrinas
espúrias, mascaradas de erudição ou atualidade. Cabe ao pregador fiel rejeitar
toda forma de contaminação doutrinária e manter o zelo pela sã doutrina, como
Paulo orientou a Timóteo: “Guarda o bom depósito, mediante O Espírito Santo que
habita em nós (2 Timóteo1.14).
O púlpito não pode ser governado por algoritmos nem pela
cultura digital, mas pela Palavra de Deus revelada, inspirada e suficiente. O
sermão não é apenas um discurso religioso: é uma comunicação viva, profética,
encarnada no contexto e na realidade da igreja local. A IA, por mais avançada
que seja, não conhece o rebanho, não sente as dores da comunidade, não chora
com os que choram nem se alegra com os que se alegram. A homilia cristã é fruto
de empatia, discernimento e vida vivida. Substituir isso por uma máquina é
reduzir o púlpito a um mero canal de informação religiosa, e não de edificação
espiritual.
A autoridade do pregador não vem da retórica nem da erudição
em si, mas da unção do Espírito Santo. Homens como João Batista, Paulo e Elias
não tinham “textos prontos”, mas tinham um coração inflamado pela verdade divina.
A IA, por mais impressionante que seja, não é inspirada pelo Espírito. Ela pode
ser uma ferramenta auxiliar, mas jamais pode ser a fonte da Palavra. Ao depender
exclusivamente da IA, o pregador perde sua voz profética e se torna um eco do
digital. O ministério da pregação é, antes de tudo, um exercício de obediência
à revelação divina, e não um ato de compilação de dados. A pregação, no seu
âmago, é ato espiritual, profético e pastoral — é Deus falando por meio de vasos
humanos quebrantados, e não apenas uma articulação lógica de conceitos.
A artificialidade da inteligência computacional pode simular
eloquência, mas não pode transmitir o peso da glória, o impacto do arrependimento,
nem a chama do avivamento. Um sermão gerado por máquina pode comover à razão,
mas jamais quebrantará o coração, pois lhe falta a centelha da vida que emana
da Palavra viva. Como nos dias dos profetas, Deus ainda busca homens e mulheres
que digam com ousadia “Assim diz o Senhor”, e não “Assim disse o algoritmo”.
Isso não significa rejeitar completamente o uso de recursos tecnológicos. À tecnologia
pode ser uma bênção quando usada com sabedoria. Comentários bíblicos digitais, dicionários,
ferramentas de exegese automatizada e bancos de dados teológicos são recursos
que podem apoiar o preparo do servo de Deus. No entanto, o discernimento
espiritual deve nos guiar. A IA deve ser um servo discreto, jamais um senhor
dominante. É preciso manter a centralidade da Bíblia, da oração, do jejum e da dependência
do Espírito Santo.
Em tempos de tanta informação, o que as igrejas mais necessitam
não é de conteúdo copiado ou de sermões polidos por algoritmos. Precisamos de pregadores
cheios do Espírito, com lágrimas nos olhos e fogo no coração. A IA pode ajudar
a organizar ideias, mas jamais substituirá a revelação. Que voltemos a dizer
como Paulo: “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em palavras
persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder” (1
Coríntios 2.4).
por Brayan Lages
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