A fé cristã, em sua essência, começa com um reconhecimento fundamental: o ser humano, por si mesmo, está em estado de pecado e carece da graça de Deus. Esse é o primeiro passo para salvação em Cristo. O apóstolo Paulo afirma: “Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23). Não há exceções. O pecado não é um ato isolado, mas uma condição espiritual que nos separa de Deus. No entanto, reconhecer tal estado não significa desespero sem saída, mas oportunidade para abrir o coração à obra redentora de Jesus, que, pelo Seu sangue, nos oferece perdão e vida nova.
Na perspectiva arminiana pentecostal, a ênfase recai sobre a
realidade bíblica da graça preveniente de Deus. Apesar de a humanidade estar
mergulhada no pecado, o Senhor, em Sua misericórdia, estende a todos a
possibilidade de salvação. Nenhum ser humano é deixado sem testemunho, pois o
Espírito Santo atua continuamente convencendo do pecado, da justiça e do juízo
(João 16.8). Portanto, o reconhecimento do estado pecaminoso não nasce apenas
de introspecção humana, mas da ação graciosa de Deus, que abre os olhos
espirituais para enxergar a própria condição.
Contudo, é necessário compreender que esse reconhecimento exige
humildade e disposição em aceitar a verdade divina. A tendência do coração
humano é justificar-se, minimizar erros ou transferir responsabilidades. Desde
o Éden, a humanidade tenta encobrir sua culpa ou projetá-la sobre outros. Mas o
caminho da salvação começa quando, em quebrantamento, o pecador se coloca
diante de Deus sem máscaras, reconhecendo: “Senhor, eu sou pecador e preciso da
tua graça”. Essa confissão não é formalidade religiosa, mas fruto de um coração
tocado pelo Espírito.
Essa verdade precisa ser proclamada com clareza e amor.
Vivemos em uma cultura que relativiza o pecado, chamando de virtude o que é
abominação para Deus. Muitos enxergam erros morais como “opções pessoais” ou
“expressões legítimas da individualidade”. Nesse cenário, a mensagem bíblica de
que somos pecadores soa ofensiva ou antiquada. Porém, silenciá-la é trair a
essência do evangelho. Cristo não veio apenas dar bons conselhos éticos, mas
resgatar o ser humano do poder do pecado. Sem reconhecer a própria culpa, ninguém
experimenta o perdão.
Confissão de pecado não é ato de desvalorização pessoal, mas
de libertação. O pecador que insiste em negar sua condição permanece escravizado.
O salmista reconheceu: “Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus
ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia” (Salmos 32.3). O silêncio
diante da culpa corrói a alma; já a confissão traz cura, restauração e paz. É
necessário arrependimento genuíno e quebrantamento para que haja transformação
de vida.
Reconhecer o estado de pecador é abrir-se para três atitudes
indispensáveis. Primeiro, o arrependimento: metanoia, mudança de mente e
direção que nos leva a abandonar o caminho da rebeldia. Segundo, a fé em
Cristo: confiar não em obras próprias, mas no sacrifício de Jesus, que nos
reconcilia com o Pai. Terceiro, a submissão ao Espírito Santo: deixar que Ele
opere a regeneração, produzindo novo nascimento. Assim, o reconhecimento da
condição de pecador não termina em desespero, mas em esperança, pois leva à
salvação, que é oferecida gratuitamente.
Ressaltamos ainda a responsabilidade humana. A graça é
oferecida a todos, mas deve ser acolhida com decisão pessoal. Deus não obriga
ninguém a reconhecê-Lo. Ele chama, convence, mas respeita a liberdade humana.
Por isso, a Escritura insiste: “Hoje, se ouvirdes à sua voz, não endureçais os
vossos corações” (Hebreus 3.15). A oportunidade de salvação é presente, mas não
eterna. Adiar o reconhecimento do pecado é correr o risco de perder a visitação
da graça. Além disso, o reconhecimento da condição de pecador não é apenas o
início da caminhada cristã, mas uma atitude contínua. Mesmo após a conversão, O
crente deve manter um coração sensível, pronto a admitir falhas e buscar a
purificação constante no sangue do Cordeiro. A espiritualidade pentecostal não
se apoia em triunfalismo humano, mas em dependência diária do Espírito, que nos
santifica e molda à imagem de Cristo. Reconhecer fraquezas, confessar pecados e
render-se à graça é sinal de maturidade espiritual, não de fraqueza.
Cada cristão precisa cultivar uma espiritualidade honesta.
Não há espaço para máscaras religiosas que escondem a realidade interior. A
igreja não é palco de exibição de perfeição, mas hospital para pecadores em
processo de cura. Quando reconhecemos quem realmente somos, experimentamos o
poder transformador de Deus e nos tornamos testemunhas vivas de Sua graça.
Reconhecer o estado de pecador é o primeiro passo para a vida abundante em
Cristo. É admitir nossa falência diante de Deus e, ao mesmo tempo, abraçar a
oferta de redenção feita na cruz. Ninguém está excluído da graça, mas ninguém
será salvo sem abrir os olhos para sua condição e responder com fé e
arrependimento. O chamado é urgente: olhe para si, reconheça seu estado de
pecador e volte-se para aquele que é poderoso para perdoar, restaurar e dar
vida.
por Sérgio Pereira
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