Há 67 anos, a então Ministra das Relações Exteriores de Israel, Golda Meir, em concordância com o Primeiro Ministro David Bem Gurion, dava início a um programa de cooperação denominado MASHAV, sigla para Agência Israelense de Cooperação para o Desenvolvimento Internacional do Ministério das Relações Exteriores de Israel, com o objetivo de estabelecer parcerias com outros atores internacionais, para implementação de projetos de desenvolvimento, enfrentamento de catástrofes, incentivo a inovações tecnológicas e formação de pessoal competente com capacitação de mão de obra local.
Gozando de reconhecido destaque nas áreas de desenvolvimento
tecnológico, Israel tem alcançado soluções práticas e acessíveis que podem
tornar-se verdadeiros diferenciais em países necessitados. Citamos a questão da
água, com o método de irrigação por gotejamento, além do conhecimento técnico
para dessalinização e reutilização de resíduos hídricos, o combate à
desertificação, agricultura sustentável, uso de recursos locais e adaptações
necessárias diante de alterações climáticas. Além disso, a agência também
oferece suporte em situações de guerras e deslocamentos humanos.
Para o Embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zohar
Zonshine, o princípio norteador de tais iniciativas é o conceito judaico de
“Tikkun Olam, ou seja, uma responsabilidade inerente a cada ser humano e às
comunidades em geral de “curar o mundo”. Segundo declaração sua (abril de
2023): “As aspirações de Israel para ajudar a tornar nosso planeta um lugar
melhor está enraizada no ensino ético e religioso judaico, como o Tikkun Olam
(o conceito de que todos nós temos o dever de consertar o mundo) e valores que
os israelenses prezam, como igualdade, respeito pela dignidade humana e
compaixão pelos necessitados”.
O desejo de cooperar com as demais nações materializou-se
nas iniciativas recentes de ajuda humanitária à Ucrânia. Em voos que partiram
de Israel rumo à Polônia e Hungria, países que fazem fronteia com o território
ucraniano, o país enviou centenas de toneladas de equipamentos, incluindo
roupas de inverno, sacos de dormir, medicamentos, sistemas de purificação de
água, suprimento imediato de água, toneladas de alimentos pré-cozidos, fontes
portáteis de energia, além de outros itens essenciais para a saúde e bem-estar
humanos. Em seis semanas de operação de um hospital de campanha, 6.200
ucranianos foram tratados por 270 médicos israelenses. Também foram oferecidos:
treinamento de profissionais para serviços psicológicos, treinamento para
educação em tempos de emergência, tratamento para vítimas de traumas,
tratamento para adultos e crianças com necessidades especiais, técnicas de
tratamento de água em situações de emergência, além de socorro aos refugiados.
Esse último item, de vital importância, abrange a assistência aos ucranianos
que se deslocaram para lugares como a Moldávia, a Polônia e a Lituânia. Para
eles, são distribuídos alimentos e equipamentos e são oferecidos: treinamento
de pessoal, equipamentos hospitalares e tablets para crianças refugiadas. A
agência também contribui com a população ucraniana através da doação de
pequenos e médios geradores, de suma importância para permitir os demais
atendimentos, a doação de equipamentos para o Hospital Infantil de Kiev, apoio
a crianças em tratamento oncológico, e a pacientes necessitados de próteses e
reabilitação, além da construção de abrigos antiaéreos em escolas, o que
demonstra a triste expertise alcançada por uma nação que vive a realidade de
buscar constantemente dar curso à vida diária, mesmo sujeita a constantes
ataques.
Fazemos referência a posturas humanitárias formalizadas na metade
do século XX, reflexo do entendimento de um povo que crê firmemente na máxima “Israel
não é parte do problema, é parte da solução” (Zohar). Práticas em curso há
décadas, tais ações precederam em muito os Acordos de Abraão (2020), de alcance
local, e a própria Agenda 2030 das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Sustentável. A nação de Israel vem oferecendo contribuições relevantes para o
desenvolvimento da humanidade, em diferentes campos e para diferentes nações
não por temores surgidos diante de perigos iminentes e reais, mas,
simplesmente, pelo senso de dever para com o próximo, manifesto em múltiplos
serviços a pessoas de distintos povos, sem fazer restrições a aspectos
ideológicos (vide o socorro prestado nos últimos anos aos atingidos pela guerra
civil na Síria) para isso arcando com elevado custo e apesar da promoção de
boicotes e do antissemitismo crescente.
Podemos e devemos questionar e divergir de vários pontos da
Agenda 2030; podemos perceber nos Acordos de Abraão mais um projeto de
visibilidade do que uma intenção real de cooperação no Oriente Médio, mas não
podemos ignorar a significativa contribuição de Israel ao mundo, em especial
àquela parcela que enfrenta a opressão e o descaso. Através de ações em
conjunto com outras nações ou de forma isolada, Israel segue sendo uma bênção
para os povos.
Resta uma pergunta: se o testemunho de ajuda humanitária se
revela claro, mensurável, tangível, experimentável, por que descrer da mão
estendida para a perseguida população de Gaza, que ainda sofre os horrores da
dominação de um grupo terrorista, que rouba dos habitantes locais, verdadeiros
reféns, o mínimo para sua sobrevivência?
Mesmo divergindo do conceito de que o ser humano possa, de
fato, “consertar ou curar o mundo”, entendemos que é nosso prazer e dever
cooperar com o próximo, atendendo-o em suas necessidades, sem ignorar, sem
passar ao largo, procurando fazer aquilo que nos é possível, levando provisão e
consolo, seja através de ajuda material, treinamento, palavras ou incentivo. O
que para alguns é esforço, para os nascidos de novo é fruto natural, esperado
de alguém ligado à Videira Verdadeira, convidados a caminhar nas boas obras de
antemão preparadas para nós. Mas, reflitamos, fazer isso atravessando linhas
inimigas, arriscando a própria vida, investindo materialmente num terreno de
onde partiram e partem bombas de ataques a nós e aos nossos queridos exige
firme dedicação. Pior ainda quando o estorço é roubado, desviado por agentes
locais com o intuito de dominar seus semelhantes, usando bens básicos à
sobrevivência como moeda, aliciando jovens combatentes para somarem forças
contra o povo que lhes estendeu a mão.
Israel experimenta décadas (para mencionar apenas algumas
iniciativas) de ajuda humanitária. As ações em Gaza não são isentas de
coordenação ou estratégia. Sua eficácia, porém, vem sendo questionada por
pessoas que desconhecem a realidade local. Se levassem em consideração os
ataques daquele outubro terrível e da permanência de reféns israelenses com o
Hamas, talvez não exigissem da nação ofendida tais socorros. As duras
circunstâncias, provocadas pelas ações terroristas, apenas prolongam o
sofrimento de uma comunidade já marcada pela dor da opressão.
A inação não é resposta e Israel não é a fonte do problema.
Oremos pelas populações envolvidas e lembremos dos necessitados - próximos ou
distantes. Se pudermos, o quanto estiver em nós, estendamos um pouco de carinho
e compaixão a quem o Senhor aproximar de nossas limitadas fronteiras ou, se
crermos, estendamos nossas fronteiras, ampliando-as até estarem ao alcance dos
necessitados.
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