Como entender o texto de Lucas 23.34? É possível dizer que aqueles homens foram salvos pela oração de Jesus?
Lucas 23.34 mostra Jesus orando na cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Mesmo sendo injustiçado, Ele não pede vingança – como era comum no Antigo Testamento (Salmos 137.7-9; Jeremias 15.15) –, mas intercede por seus agressores. Sua justificativa revela que os via como espiritualmente ignorantes – “não sabem o que fazem” –, ideia confirmada em Atos dos Apóstolos, que mostra que muitos não compreendiam plenamente quem era Jesus nem a gravidade de suas ações (Atos 317; 3.27; 1416; 17.30; 26.9). Essa oração é exemplo de misericórdia e perdão. Seu espírito foi repetido por Estêvão em Atos 7.60, ao rogar que Deus não imputasse culpa aos que o apedrejavam. Assim, a intercessão de Cristo manifesta graça e serve como modelo aos cristãos.
Conforme as Escrituras, as orações de Jesus sempre foram atendidas
(João 11.41,42), pois Ele vivia em plena obediência ao Pai (João 8.29). Assim,
não há motivo para pensar que Sua súplica na cruz foi rejeitada. Se o pedido
visava evitar juízo imediato – como a destruição dos soldados –, foi atendido: Deus
conteve sua ira e deu tempo ao arrependimento. Se dizia respeito à salvação
eterna, a resposta dependeria da fé e do arrependimento – elementos que a
maioria dos envolvidos na crucificação não demonstrou.
Contudo, há uma exceção notável: o centurião romano. Ele
provavelmente fazia parte do grupo de soldados que pregou Jesus na cruz e,
liderando a execução, declarou: “Verdadeiramente este homem era justo” (Lucas
23.47) e “Filho de Deus” (Marcos 15.39). Isso pode parecer contraditório – alguém
que instantes antes participava da tortura de Jesus, agora o reconhecia como
Filho de Deus. No entanto, algo semelhante aconteceu com um dos ladrões crucificados
ao lado de Cristo. Inicialmente, ambos zombavam dEle (Mateus 27.44), mas um
deles se arrependeu (Lucas 23.39-43) e recebeu a promessa de estar com Jesus no
Paraíso. Dessa forma, a confissão do centurião aponta para uma fé genuína e
pode ser vista como fruto direto da oração intercessora de Jesus.
Como afirma. C. Ryle (2018), os resultados dessa intercessão
jamais serão plenamente conhecidos até que todas as coisas cheguem ao fim, pois
é impossível saber quantas pessoas se converteram em Jerusalém nos seis meses após
a crucificação. No entanto, ele tem convicção de que essa intercessão resultou
na salvação de pessoas como o centurião e o ladrão na cruz. Além disso, crê que
a súplica de Cristo naquele momento também contribuiu para a salvação de quase
três mil pessoas no Dia de Pentecostes. Com base nessa operação contínua – dos
pés da cruz até Pentecostes –, conclui-se que, sim, essa oração foi atendida
pelo Pai, pois Ele sempre ouve o Filho.
REFERÊNCIA
KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia
Novo Testamento Recurso Indispensável para Conhecer em Detalhes o Contexto
Histórico e Cultural de cada Versículo do Novo Testamento. São Paulo: Vida
Nova, 2017.
ROBERTSON, A.T. Comentário Lucas: À Luz do Novo
Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2013.
RYLE, J.C. Meditações no Evangelho de Lucas. São José
dos Campos, SP: Fiel, 2018.
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