A Doutrinação da Imputação

A Doutrinação da Imputação


Com o primeiro pecado cometido por Adão, um estado deplorável instalou-se em toda a humanidade, uma consequente natureza corrompida e degenerada tornou-se comum a todos os homens. O homem tornara-se rebelde por natureza e passa a ter um sério problema em relação a Deus, principalmente no que concerne à santidade e à justiça divina. Deus é santo, nEle residem todas as perfeições morais. Como diz certo teólogo, Ele é pureza absoluta que nem mesmo a sombra do pecado pode manchar (Salmos 71.22; 78.41; Isaías 6.3). O Ser Divino também é justo, ou seja, sempre age de acordo com o Seu caráter e Sua lei. Neste sentido, Ele deve punir o pecador. Sua justiça exige a aplicação de Sua ira. A ira de Deus é Sua eterna indignação contra todo mal e injustiça dos homens (Salmos 5.5.; 7.11; João 3.36; Romanos 1.18). É Sua justiça em ação para castigar e punir o pecador. Por outro lado, a Bíblia nos diz que Deus é amor (1 João 4.8). Ele ama a todos os homens e tem profundo interesse em perdoá-los (João 3.16; Tito 2,11). Eis o grande dilema: o amor versus a à ira. Como Deus resolve esse problema? A Doutrina da Imputação apresenta uma resposta convincente é coerente a esse problema.

Imputar significa “atribuir algo de positivo ou negativo a outrem, ou creditar à conta de alguém”. Robert Johnston afirma que “essa ideia forense de imputação tem suas origens parciais na linguagem comercial e jurídica do mundo greco-romano; a pessoa que tivesse algo que lhe fosse imputado seria responsável diante da lei”. Um exemplo disso é o que Paulo faz com o escravo fugitivo Onésimo. O apóstolo escreve a Filemon, senhor do escravo, dizendo: “Portanto, se você me considera companheiro, receba-o como receberia a mim E, se ele causou algum dano a você ou lhe deve alguma coisa, ponha tudo na minha conta” (Filemon 17,18). Dessa forma, a dívida do escravo foi imputada (atribuída ou creditada) ao apóstolo.

“Muitos estudiosos das Escrituras Sagradas consideram a Doutrina da Imputação o coração do evangelho. É difícil assimilar o conceito de redenção dentro do Cristianismo sem o entendimento que as Sagradas Escrituras nos apresentam quanto a ideia de imputação de culpa ou de justiça a alguém.

Existem três aspectos que destacaremos em nosso estudo: 1) a culpa de Adão foi imputada a todos. os homens; 2) os pecados dos homens foram imputados a Cristo; e 3) a justiça de Cristo é imputada aos que creem. Analisemos esses aspectos cuidadosamente.

A imputação da culpa de Adão

Culpa é a condição de merecer à condenação. Que todos os homens são considerados dignos de Juízo por conta de seus pecados pessoais não é algo tão difícil de entender, mas e quanto à imputação da culpa como consequência do pecado de Adão?

Em Romanos 5.12-21, Paulo. apresenta o contraste entre Adão e Cristo. Esses dois homens realizaram obras cujas consequências perpetuam-se pela Eternidade. Segundo Graig S. Keener, Adão pensava tornar-se como Deus percorrendo o caminho da autossuficiência; Cristo tomou-se homem caminhando pela estrada da obediência. Em sua desobediência, Adão trouxe condenação, Jesus Cristo, em Sua humilhação, nos trouxe à redenção,

As expressões “pela ofensa de um só, morreram muitos” (v. 15); “porque o julgamento derivou de uma só ofensa, para a condenação” (v. 36); “pela ofensa de um e por meio de um só, reinou à morte” (v. 17); e “por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação” (v.18), presentes em Romanos 5, apontam para Adão como representante legal da humanidade e nos mostram que a imputação da culpa é consequência do pecado original. O pastor Rayfran Batista afirma que Romanos 5.12-21 “não está falando dos pecados que as pessoas efetivamente comentem no dia-a-dia, pois todo o parágrafo trata da comparação entre Adão e Cristo. (1) Diz o referido autor que “além da corrupção herdada, há também a culpa legal que Deus imputa aos homens por causa do pecado de Adão”. A maior parte dos teólogos ortodoxos é uníssona ao afirmar que Adão pecou como nosso representante legal ou cabeça federal. Assim, recebemos toda a consequência legal de sua escolha.

Norman Geisler destaca que *Adão tinha uma procuração passada por Deus com poderes sobre toda a humanidade”. (2) Dessa forma, como salienta Rodimans Willians, todos os homens são culpados diante de Deus por causa do que Adão cometeu. Foi necessário vir o segundo Adão para revogar o que fez o primeiro e ofertar, assim, à possibilidade de salvação a todos os homens.

Pecado imputado sobre Cristo

Diz-nos o apóstolo Paulo “Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Coríntios 5.21). A expressão “Aquele que não conheceu pecado” aponta para a impecabilidade de (Cristo. Significa que Ele estava isento de pecado. Jesus não herdou a velha natureza adâmica, pois Sua concepção foi sobrenatural e, durante Seu curso de vida, Ele foi “verdadeiramente santo cumprindo-a, por isso estava qualificado. para morrer em nosso lugar. O teólogo alemão Werner de Boor diz que em 2 Coríntios 5.21 o apóstolo ultrapassa em muito àquela declaração que nos é familiar: “Jesus carregou nosso pecado”. Deus lida com Jesus, o único puro, como com o próprio pecado. O juízo sobre o pecado que se processou no Calvário é inconcebivelmente terrível. O grito de nos lábios do Filho devido ao abandono por Deus Pai pode nos proporcionar uma ideia disso. Toda a ira do Deus santo e vivo se bate sobre Jesus, que está diante de Deus como nosso substituto – sim, feito nosso pecado. (4)

Também ao comentar esse texto, Norman Champlim diz que “essa frase fala da total identificação de Cristo com os pecadores, a fim de que possa ser reputado como um deles, já que se tornou o portador do pecado por todos os pecadores”.

Nossos pecados foram colocados na conta de Jesus. Ele pagou a nossa dívida e sofreu o nosso castigo. Diz a Escritura: “O SENHOR fez cair sobre ele à iniquidade de nós todos” (Isaías 53.6). O conceito de imputação também aparece no sistema sacrificial do Antigo Testamento. Vemos que a Lei exigia que dois bodes fossem oferecidos como oferta pelo pecado. O segundo bode, o expiatório, que literalmente significa “um bode para remoção”, era enviado para o deserto, indicando que os pecados não somente haviam sido perdoados, mas igualmente desaparecidos. Todo esse ritual apontava à morte de Cristo, através de quem recebemos o completo perdão de nossos pecados.

Justiça imputada a quem crê

Paulo, escrevendo aos Romanos, afirma de maneira categórica: “Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus. Todos se desviaram e juntamente se tornaram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer" (Romanos 3.10-12). A palavra para justo no grego é dikaios. Para Merril Unger, W. E. Vini e William White Jr. no Novo Testamento o termo descreve o homem que é um com a dike (a lei), tornando-se a própria personificação da Lei. É o indivíduo que não pode ser acusado de nem um dolo ou pecado, quer seja por ação ou omissão, quando submetido tanto ao crivo dos homens quanto ao padrão divino. (6)

No pensamento paulino, o homem sem Deus jamais pode se enquadrar nessa categoria, por isso não há nenhum justo sequer. Deus é santo e Sua santidade exige Sua justiça. Dizer que Deus é justo é afirmar que Ele se mantém contra tudo o que viola Seu caráter e tudo que contraria a Sua santidade, como já destacado. Dessa forma, o homem não pode ser aceito na presença do Deus Sarto sem o auxílio da graça divina, pois é pecador, é corrupto. E ainda diante da expectativa de encontrar -se com Deus, a reação instintiva do homem sem Deus é de vestir-se de justiça própria, mas o Senhor considera "todas as nossas justiças como trapo da imundícia” (Isaías 64.6).

Diz António Gilberto: “Para que o homem fosse justo – por conta própria – diante de Deus, seria preciso que nunca praticasse o mal e jamais quebrasse a lei divina. Além disso, seria necessário que sempre fizesse o bem, como está escrito em Eclesiastes 7.20: ‘Que faça o bem, e nunca peque’. Há pessoas que relativamente não pecam tanto, porém não estão sempre praticando o bem". (7) Há outro agravante: o homem sem Deus deve paga por sua injustiça, é merecedor de juízo e condenação. O Deus justo não deixará os pecadores impunes. Contudo, se estabelece assim um dilema. Deus é justo e Sua ira se volta contra o pecador, mas também é amor e com Seu amor deseja perdoar o pecador. Deus resolve esse paradoxo enviando Seu Filho e colocando na conta do infanto a justiça do justo por isso, dizemos que imputação é lançamento de justiça de Cristo a nosso favor, mediante à nossa fé em Cristo (Romanos 4.3ss; Gálatas 2.16ss; 3.6-8; Gênesis 15.6; Tiago 2.23)” (8)

David Steele é Curtis Thomas nos oferecem muita luz ao se referir a imputação da justiça de Cristo também como uma mudança de posição do homem diante de Deus. Da posição de injusto e digno do inferno passa à posição de justo e inocente live de toda condenação. A justiça pessoal que Cristo obteve durante Sua vida na terra é imputada ao pecador no momento em que este crê. A justiça de Cristo é outorgada ao crente; e Deus o vê como se ele mesmo houvesse feito todo o bem que Cristo fez. A obediência de Cristo, Seus méritos, Sua justiça pessoal, são imputados (atribuídos) ao crente. Deus. considera a justiça de Cristo nossa justiça. Há uma mudança de posição do crente diante de Deus. (9)

Contudo, não podemos olvidar a grande verdade de que Cristo morreu por todos os homens (João 1.29; 3.16,17; 12.27; Romanos 5.6,18,19; 2 Coríntios 5.14,19; 1 Timóteo 2.3,4,6; 4.10; Hebreus 2.9; 2 Pedro 2.1; 3-9; 1 João 2.2). No entanto, em se tratando da imputação da justiça de Cristo ao pecador, essa imputação é condicional, sendo necessária a decisão voluntária e consciente do pecador para que se tome efetiva. Somente os que creem podem desfrutar dessa graça. A condição nesse caso é a fé.

Notas

(1) SILVA, Rayfran Batista da. O Nosso Cremos. Uma introdução às principais doutrinas da fé cristã ensinadas pelas Assembleia de Deus. São Paulo: Editora Reflexão, 2018.

(2) GEISLER, Normam. Teologia Sistemática. Pecado, Salvação, A Igreja, Últimas Coisas. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 105.

(3) WILLIAMS, Rodman. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. São Paulo: Editora Vida. 2011.

(4) BOOR, Werner de. Cartas aos Coríntios, 2 Coríntios, Comentário Esperança. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2004, p. 21.

(5) CHAMPLIN, Norman. O Novo Testamento Interpretado Versículo Por Versículo: Volume 4. São Paulo: Hagnos, 2014, p. 447.

(6) VINI, W. E.; UNGER, Morril; JR. White William. Dicionário Vine: O Significado Exegético e Expositivo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2014.

97) GILBERTO, Antônio. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2008, P. 344.

(7) Idem.

(8) FIGUEIREDO, Erivelton. A Imputação do Pecado e a Justiça atribuída a Cristo e ao Crente. Disponível em: <https:/Avww.blog-doeriveltonfigueiredo.com.br/2017/04/09/a-imputacao-do-pecado-e-a-justica-catribuida-a-cristo-e-ao-crente/>. Acesso em: 12 ago. 2025

por Wesley Anselmo

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