A honra e glória são do Senhor

Na sociedade em que vivemos, as pessoas fazem de tudo para terem milhões de seguidores, visualizações, likes e compartilhamentos dos seus conteúdos na internet. Até em acidentes e tragédias, antes de pensar em socorrer as vítimas, tem gente filmando e fazendo transmissões ao vivo. Há pessoas que quando realizam alguma obra social ou algum ato filantrópico, fazem questão de publicar nas redes sociais para que todos vejam.

Esse tipo de atitude é normal em um mundo sem Deus, pois o mundo jaz no maligno e é influenciado por ele. O grande problema é que esse tipo de comportamento adentrou o meio evangélico. De uns anos para cá, muitos cultos têm se tornado palco para artistas aparecerem, desfiles de modas, sessão de fotos e disputas para ver quem é o melhor cantor, pregador, ensinador etc.

Nos dias em que Jesus viveu neste mundo como homem, disputas também aconteciam, embora, a meu ver, em escala menor. Certa vez, seus discípulos discutiam entre si para saber quem seria o maior no Reino dos Céus. Em outra ocasião, os filhos de Zebedeu pediram para que eles se assentassem um à direita e o outro à esquerda de Jesus no Céu (Marcos 10.35-37). Quanta petulância!

João Batista também enfrentou esse problema, pois havia certa competição, não por parte dele, mas dos seus discípulos e de outras pessoas, para ver quem batizava mais, se era ele ou Jesus. Foi nesse contexto que disseram a João que Jesus e os Seus discípulos estavam do outro lado do Jordão batizando, e muita gente ia ter com ele. À resposta de João Batista nos dá uma lição de humildade e nos ensina qual deve ser a postura do verdadeiro discípulo de Jesus: “É necessário que ele cresça e que eu diminua” (João 3.30). A missão de João era preparar o caminho para o Cristo e, para isso, ele precisava sair de cena.

João Batista era um levita, pertencente à família sacerdotal (Lucas 1.1-15). Os levitas eram os descendentes de Levi. Os sacerdotes também eram levitas, mas somente a família de Arão foi chamada para ser a família sacerdotal. João era filho de Zacarias, que era sacerdote na época do nascimento de Jesus, e de Isabel, que era prima de Maria, mãe de Jesus. Abrindo um parêntese aqui: nem todos os levitas eram cantores. Os cantores de outras tribos de Israel e de outras nações não são levitas.

O nascimento de João Batista foi um milagre (Lucas 1.7-25), pois O seu pai, Zacarias, era avançado em idade e Isabel, sua mãe, era estéril. Na velhice deles, o anjo Gabriel apareceu à Zacarias e anunciou-lhe o nascimento do seu filho, dizendo que ele seria “grande diante do Senhor, não beberia vinho, nem bebida forte, e seria cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe” (Lucas 1.15). Zacarias não creu e, por isso, ficou mudo até o dia do nascimento do menino.

João Batista era um pregador politicamente incorreto e não realizou nenhum milagre (Mateus 3.1-7). Usava roupas feitas de pelos de camelo, amarradas com um cinto de couro. Seguia uma dieta esquisita, alimentando-se de mel e de gafanhotos. A sua mensagem era de arrependimento. Ele não media as palavras contra pessoas fingidas, que se recusavam abandonar o pecado. Em seus sermões, chamava-as de “raça de víboras”.

Como dito, em seu ministério, João nunca realizou nenhum sinal miraculoso. Seria um pregador reprovado em nossos dias. Mas Jesus disse que “entre os nascidos de mulher não se levantou ninguém maior do que João” (Mateus 11.11). Isso nos ensina que, no ministério, o importante não é O que as pessoas pensam sobre nós, mas se estamos agradando ao Senhor da Seara. João Batista era zeloso pela verdade, corajoso e ousado. Herodes Antipas casou-se com Herodias, ex-mulher do seu irmão, Filipe. João falou várias vezes que aquele relacionamento não era correto. Herodes passou a odiá-lo e mandou prendê-lo. Depois disso, embriagado, Herodes fez um juramento impensado à filha de Herodias, de que daria qualquer coisa que ela pedisse. A menina perguntou à sua mãe o que deveria pedir e esta a aconselhou que pedisse a cabeça de João Batista num prato. Herodes cumpriu o juramento e mandou decapitar João na prisão (Mateus 14.1-12).

Quando João disse “é necessário que Ele cresça”, não está se referindo a se tornar maior do que já é, pois Deus é imutável. Ele nunca foi menor do que é hoje e nunca será maior. Ele se referia a tornar-se conhecido. Como servos de Deus, temos a obrigação de anunciar Jesus ao mundo e torná-lo conhecido, pois, somente assim, as pessoas poderão ser salvas de seus pecados.

Na sequência, João Batista disse: “É necessário que eu diminua”. Escrevendo aos Filipenses, o apóstolo Paulo disse: “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo” (Filipenses 2.3). Devemos seguir o exemplo de Jesus, que sendo Deus, se humilhou e se fez servo.

Não fomos chamados para falar de nós mesmos ou da nossa denominação. O mundo não precisa saber quem eu sou, precisa saber quem é Jesus. João Batista, mesmo sendo um profeta reconhecido, não buscava a glória pessoal, mas apontava sempre para Jesus.

Por mais que sejamos usados por Deus e tenhamos dons espirituais e ministeriais, não temos do que nos gloriar, pois tudo é de Deus. Ele dá a quem quer, para aquilo que for útil e para atender aos propósitos dEle. Os dons não são para elitizar o crente ou para render-lhe elogios. A glória é sempre de Deus e Ele não a dá a ninguém (Isaías 42.8).

O apóstolo Tiago afirmou em sua Epístola: “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (Tiago 4.6). O orgulho procede do Diabo, pois ele foi o primeiro ser criado a se orgulhar, querendo igualar-se ao Altíssimo (Isaías 14.12-15). Por causa disso, foi expulso do Céu com uma terça parte dos anjos.

A soberba precede a ruína (Provérbios 16.18) e todos os que se ensoberbecem serão humilhados. Nabucodonosor se orgulhou e Deus o fez comer ervas como os bois (Daniel 4.28-33). Herodes quis a glória de Deus e morreu comido de bichos (Atos 12.21-23).

Todos nós, antes de conhecermos a Cristo, éramos escravos do pecado (João 8.34). Ele nos libertou, mas não para sermos senhores, mas não para sermos senhores das nossas vidas. Fomos livres da escravidão do pecado, mas nos tornamos servos da vontade de Deus. O servo não tem liberdade para fazer o que quer. Só pode fazer aquilo que o seu senhor ordenar. Sendo Deus o Senhor absoluto do Céu e da Terra, e nós os Seus servos, temos que fazer aquilo que Ele quer e não aquilo que queremos.

No Reino de Deus, seremos aprovados não pelo que fazemos, mas pela fidelidade ao Senhor. Muitos crentes pensam que seremos aprovados por Deus pela quantidade de trabalho que realizamos na igreja, mas estão equivocados. O importante é sermos fiéis ao nosso chamado, fazendo exatamente aquilo que Deus nos mandou fazer. Um soldado é obrigado a cumprir as ordens do seu comandante, sob pena de ser preso. O lema do soldado é: “Missão dada, missão cumprida”.

Tudo o que fazemos deve glorificar a Deus e não a nós mesmos. No Reino de Deus, em tudo o que fazemos, os méritos são de Deus. Portanto, a Ele devem ser dirigidos todos os elogios e exaltações.

O saudoso pastor Valdir Nunes Bícego era um pregador eloquente, usado por Deus nos dons espirituais, exímio ensinador da Palavra de Deus, escritor, comentarista de Lições Bíblicas da CPAD e pastor da Assembleia de Deus Ministério do Belém no bairro da Lapa, na capital paulista. Ele era muito conceituado no ministério que fazia parte e em todo Brasil, mas, quando alguém o elogiava, ele ficava sem graça e dizia: “Foi o Senhor quem fez isso”. A frase de João Batista continua ecoando: “E necessário que Ele cresça e que eu diminua”. Infelizmente, muitos têm invertido a frase e buscam a exaltação que é devida a Deus. Enaltecem mais a si mesmos e a seus currículos do que a Deus. Ficam chateados se as pessoas não os exaltam publicamente ou se esquecem de algum dos seus títulos.

Igreja do Senhor, precisamos urgentemente aprender com Cristo e nos revestir de humildade e simplicidade, reconhecendo a majestade de Deus e à nossa insignificância diante dEle. Tudo O que somos e temos, na verdade, pertence a Ele. Desçamos do pódio, pois os méritos por tudo o que fazemos são de Deus. À Ele, pois, a glória para todo o sempre. Amém!

por Welliano Pires

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