Alertas sobre neurose sociais da atualidade

Alertas sobre neurose sociais da atualidade


A sociedade atual está repleta de pessoas descontentes com sua identidade, com a aparência, com seus bens, com a vida que possuem, buscando preencher o vazio existencial com coisas e práticas que as aproximam cada vez mais do pecado. A família está sendo desestruturada, formando pais ausentes, que se afastam da educação dos próprios filhos, correndo atrás de projetos pessoais e promovendo uma cultura de frieza afetiva. Com o lar sendo menosprezado, os cônjuges acabam se afastando afetivamente e os vínculos com a parentela são esvaziados.

Até mesmo em algumas igrejas evangélicas o discurso é de que os crentes realmente abençoados por Deus são belos, ricos, poderosos e livres para ser e viver como desejam. Muitos estão rasgando a Bíblia, procurando espaços para representatividade social ou buscando a “fama gospel” a qualquer preço.

Esta sociedade mergulhada no pecado, cada vez mais distante do real sentido de viver, tem produzido pessoas adoecidas emocionalmente, afetando, consequentemente, também a vida espiritual. São muitos os conflitos mentais, as dores interiores, que alteram a identidade e geram inúmeras neuroses.

Neuroses

As neuroses podem ser definidas, de forma simples, como confusão mental que resulta em manifestações comportamentais não funcionais para a pessoa que sofre e/ou para os que estão ao redor dela. Elas podem ser causadas pela vivência de abusos e traumas emocionais, por uma educação desregrada e ausente de afeto, pela falta de conexões sociais genuínas que levam à uma solidão extrema e por conceitos e valores que desestruturam a formação saudável da personalidade, formando indivíduos com uma identidade difusa, conflituosa e/ou sofrida.

Muitos dos sintomas das neuroses podem ser confundidos com manifestações clínicas de outras doenças catalogadas, como ansiedade, depressão ou esquizofrenia. Dentre esses sintomas podemos citar: sensação de vazio e não pertencimento; isolamento social; paranoia; angústia; apatia; insônia; pessimismo; melancolia; disfunção de identidade, dores físicas crônicas de fundo emocional, cansaço intenso, dentre outros.

As fobias, também associadas às neuroses, também têm se avolumado. A lista é enorme, mas as que mais crescem são: a Fobia Social (dificuldade de se relacionar com as pessoas); a Fobia de Desempenho (medo em dar palestras ou apresentações); a Claustrofobia (medo de lugares apertados); a Demofobia (medo de multidões); a Autofobia (medo de ficar sozinho); e a Gamofobia (medo de casamento).

Os distúrbios causados pelas neuroses produzem muita angústia e sofrimento mental, o que faz com que muitos comportamentos impulsivos se tornem ampliados com a finalidade de compensar a dor psíquica. Assim sendo, amplia-se a busca por drogas ilícitas e o envolvimento em práticas compulsivas relacionadas à sexo, bebidas alcoólicas, compras e jogos de azar, além de outras atitudes irracionais que levam, inclusive, ao suicídio.

Alertas alarmantes

Infelizmente, um olhar cuidadoso nas atitudes de pessoas com quem convivemos, bem como uma varredura em posts das redes sociais, nos alertam para o adoecimento da sociedade em que vivemos na atualidade. Hoje, os delírios (construções do pensamento que estão fora do real), as alucinações (construções irreais senso-perceptivas) e as ilusões (distorção de algo presente com aspecto totalmente díspar do presenciado) têm se avolumado de forma estarrecedora.

Na atualidade, nossa sociedade tem observado um aumento significativo de indivíduos adultos que se identificam, de maneiras não convencionais, como animais, objetos, personagens fictícios ou até mesmo como bebês. Na Psicologia, isto é tratado como Disforia de Identidade, mas há uma pressão social em muitos países para que este termo seja revisto, pelo fato de que muitos acreditam que nasceram em corpos ou formas erradas e defendem seu direito de adotar essas identidades como uma forma de expressão pessoal.

Cresce no mundo o número de pessoas que desenvolvem o Infantilismo: adultos se identificam como bebês ou crianças pequenas, e passam a usar fraldas, chupetas e roupas infantis, indo além do fetiche sexual e desenvolvendo uma forma de escapismo para lidar com traumas infantis. Além disso, o Transtorno de Personalidade Borderline e o Transtorno de Espectro da Parafilia ampliam ainda mais o número de pessoas que experimentam mudanças rápidas e extremas em sua percepção de quem são, levando-as a se comportar de forma atípica.

Os Terians (ou therians) são indivíduos que acreditam ou sentem que eles são animais, inclusive andando de quatro, usando coleiras e grunhindo como os animais com os quais se identificam. Há os que se identificam como plantas, os botanossexuais, que são pessoas atraídas sexualmente por plantas, e os ecossexuais, que dizem sentir um profundo amor e atração sexual pela natureza.

Além do enorme catálogo de identificação sexual já conhecido, há os que se denominam sapiosexuais, em que a atração sexual é direcionada a pessoas inteligentes, independente da aparência física. E também há pessoas que desenvolvem a síndrome de objetofília, que é caracterizada pela atração sexual ou emocional intensa por objetos inanimados: podem se apaixonar por vasos, carros, estátuas ou até mesmo prédios!

Bebês Reborn

Brincar é uma maneira de retratar e trabalhar realidades familiares e profissionais vivenciais futuras, sempre com o cuidado de manter os vínculos afetivos sob controle, de modo a não gerar dependência. Criança não pode ser dependente de um boneco, nem mesmo de uma manta velha, para dormir ou se sentir amada e segura. A segurança ou autoestima precisa estar arraigada em seu íntimo.

Em todas as brincadeiras, é necessário que haja uma concepção clara de que as situações encenadas não são reais. Não pode haver sobreposição conceitual em que a fantasia da brincadeira seja compreendida como algo real. Em jogos ou brincadeiras, a barreira entre fantasia e realidade não pode ser ultrapassada, fazendo sobressair uma grande carência emocional não suprida pela vida real.

No caso dos bebês reborn, é fato o quanto as pessoas estão em uma tentativa frustrada de, mais uma vez, substituir pessoas por coisas, retratando a dificuldade de estabelecerem laços afetivos seguros, buscando bonecos que não reclamam, não apontam erros e não rejeitam ou abandonam.

Há casais em processo de divórcio, procurando advogados para organizar a divisão da guarda dos bebês reborn. Há maternidades que simulam o nascimento dos reborn, sites que ensinam como amamentar o boneco no seio, e até movimentos, em diversos países, para que estes bebês reborn sejam atendidos pelos sistemas de saúde. Casais postam a rotina diária de “alimentação” e cuidados como se o boneco fosse um bebê vivo, e eu já vi um bebê reborn carregado por um casal na Europa, que portava, inclusive, uma bolsa de bebê a tiracolo!

No âmbito espiritual, esta situação ainda aponta para uma nova estratégia de aprisionamento psíquico, além de um traço claro de idolatria, em que muitos isolam o Deus vivo de suas vidas, tentando preencher o vazio da alma com bonecos inanimados e desalmados.

Conclusão

Nossa sociedade, cada vez mais longe de Deus e da racionalidade do Evangelho, está cada vez mais adoecida, onde muita gente vivencia transtornos associados ao luto, ao afeto e a medos desenvolvidos por traumas. Há tratamentos psiquiátricos e psicológicos específicos que podem ajudar os indivíduos a reconhecer e modificar padrões de pensamento distorcidos e comportamentos problemáticos. Medicamentos podem ser utilizados e há terapias próprias para ajudar na aceitação de si mesmo, ensinando habilidades para a regulação emocional, tolerância ao estresse e melhoria das relações interpessoais, reduzindo comportamentos compulsivos que aprisionam o ser.

Como psicóloga, é fácil diagnosticar distorções de personalidade, traços de dependência, negação da realidade, borderline, histrionismo, depressão, delírios, atitudes paranoicas, solidão, vazio existencial e ilusão e sofrimento emocional graves. Contudo, infelizmente, não estamos tratando só de doenças da alma que corroem a realidade e a afetividade das pessoas, mas também do vazio como decorrência da ausência de Deus. Cada vez mais necessitamos disseminar o Evangelho que restaura a alma ferida.

As neuroses sociais da atualidade são o reflexo de pessoas adoecidas pelo pecado e pelas dores deixadas por relacionamentos abusivos com pessoas egoístas, que escolhem ferir a amar. Afinal, estamos vivendo o contexto bíblico de 2 Timóteo 3.2-5: “Nos últimos dias sobrevirão tempos terríveis. Os homens serão egoístas, avarentos, presunçosos, arrogantes, blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, ímpios, sem amor pela família, irreconciliáveis, caluniadores, sem domínio próprio, cruéis, inimigos do bem, traidores, precipitados, soberbos, mais amantes dos prazeres do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando o seu poder”.

Precisamos valorizar e cuidar mais dos nossos relacionamentos reais, amando e construindo afetos sadios na família e na igreja que frequentamos. Necessitamos analisar e tratar as distorções malignas que adoecem pessoas que amamos. Lembremo-nos que os dias são maus, o sofrimento emocional tem sido atroz, mas a vida plena, mesmo quando inclui momentos e pessoas difíceis, só é possível com Deus!

por Elaine Cruz

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