Uma das características mais marcantes da atual sociedade pós-moderna é o relativismo que norteia o pensamento moral, cultural, filosófico, sociológico, antropológico e religioso. Produto do sofisma filosófico grego, o relativismo afirma que não existem verdades universais, com a verdade defendida por cada pessoa sendo nada mais do que o resultado das experiências e contextos de vida de cada um.
Tal pensamento leva os valores, estruturas e relações
sociais a estarem em constante ressignificação, sendo caracterizado pela
ausência de solidez e permanência. Esta situação levou ao desenvolvimento, pelo
sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017), do conceito de “modernidade
líquida”, onde ele afirma que, após a Segunda Guerra Mundial, principalmente a
partir da década de 60 do século passado, o mundo passou a viver uma época em
que todas as relações sociais, econômicas e de produção se tomaram frágeis e
maleáveis como um líquido.
Esse conceito inspirou pesquisadores, sociólogos e
estudiosos da masculinidade a desenvolverem a ideia de “masculinidade líquida”,
sendo esta uma tentativa de descrever os desafios enfrentados pelos homens no
mundo pós-moderno. As definições tradicionais de masculinidade – como força
física, dominação, provisão financeira – são consideradas por alguns teóricos
como sendo antiquadas, reflexos de uma “masculinidade tóxica”, que deve ser
substituída por formas mais amplas de “ser homem”.
Essa nova forma de masculinidade apresentada pelo pós-modernismo
é marcada pela fluidez de papéis e identidade, onde os homens assumem papéis
tradicionalmente vistos como femininos, como, por exemplo, dedicarem-se ao
cuidado da casa e serem vulneráveis emocionalmente. Outra característica é a
afirmação de que a masculinidade é plural, ou seja, não existe uma única forma
de ser homem, mas as masculinidades variam de acordo com a classe, cultura,
raça e outros fatores, até mesmo a sexualidade. Tal cosmovisão sofre a
influência das grandes transformações sociais ocorridas em nossa época, pois a ideologia
de gênero, o feminismo e o avanço da agenda progressista têm causado um
profundo impacto na forma como os homens se veem e são vistos.
O questionamento da masculinidade tradicional, considerada como
tóxica, tem como resultado a busca por autenticidade por muitos homens que
tentam equilibrar as expectativas da sociedade com um modo de vida que faça
sentido para eles. Essa busca tem gerado insegurança e crise de identidade,
pois a ausência de uma referência social do que é ser “masculino” tem gerado ansiedade
e crises, frutos de uma tentativa de se adaptar à fluidez da pós-modernidade,
que busca dissolver as velhas certezas, mas sem fornecer alternativas claras.
Não é objetivo do Criador que o homem tenha uma vida de
insegurança e incerteza com relação a um conceito que deveria ser natural a
todos os nascidos do sexo masculino. A inerrante Palavra de Deus descreve com clareza
e objetividade o papel e as características do homem, características estas que
refletem o caráter do Senhor e os propósitos estabelecidos por Ele, que têm como
base o amor, o serviço, a responsabilidade e a liderança.
O modelo de masculinidade apresentado na Bíblia, e que é considerado
“tóxico” pelos defensores da pós-modernidade, afirma que a liderança familiar deve
ser exercida pelo homem. Esta liderança, porém, deve ser exercida com
responsabilidade e amor. O homem não é um ser emocionalmente distante, mas, segundo
as Sagradas Escrituras, deve amar a sua esposa assim como Cristo amou a Igreja
e se entregou por ela (Efésios 5.25). Sua liderança tem como base a busca pelo
bem do outro e o sacrifício pessoal, e não o domínio e a imposição. Um exemplo
desta liderança foi José, que, mesmo em meio a desafios, protegeu e cuidou de
sua família (Mateus 2.13-15).
A masculinidade bíblica possui sua força firmada na fé e na justiça.
A tradução King James da Bíblia traduz o texto de 1 Coríntios 16.13 da seguinte
forma: “Vigiai, estai firme na fé, portai-vos como homens e sede fortes”. Nesta
passagem, somos ensinados de que ser homem é se manter firme, com fé e retidão,
enfrentando todos os desafios com coragem e confiança em Deus.
Ser homem, segundo a Bíblia, é ser humilde e servir ao próximo,
pois o verdadeiro homem não busca status, mas se coloca na posição de servidor
de seu próximo. Somos chamados para servir nossas famílias e comunidades. O Senhor
Jesus é o maior exemplo disso, pois, mesmo sendo Filho de Deus, lavou os pés
dos Seus discípulos (João 13.14,15).
Uma das críticas do pensamento de masculinidade líquida ao modelo
bíblico é que este afirma que o homem deve ser o provedor de sua família. Este
é o papel do homem, estabelecido por Deus, e esta responsabilidade não se
limita apenas ao campo financeiro, mas também exige proteção emocional e
espiritual. O homem foi chamado por Deus para cuidar e proteger sua família (1 Timóteo
5.8).
O homem que serve a Deus é chamado para ser santo em todos os
seus relacionamentos, seja em público ou em particular, devendo viver de forma
coerente com os valores ensinados na Palavra de Deus (Salmos 101.2). Este
modelo de masculinidade não deve ser definido pela força física e poder, mas
pelo caráter moldado pelas Sagradas Escrituras, priorizando sempre o amor, o
serviço e a justiça. O homem é chamado para refletir a imagem de Deus em todas
as áreas de sua vida.
A masculinidade pós-moderna tem como base de sustentação o relativo,
enquanto que a Bíblia afirma que devemos nos sustentar em verdades absolutas. O
propósito pós-moderno é a satisfação pessoal, enquanto que as Escrituras ensinam
o serviço ao próximo. O atual pensamento apresenta uma identidade fluida,
adaptável ao momento, mas a Palavra de Deus diz claramente qual deve ser o
papel do homem na criação: guardião, provedor e líder espiritual. Por ser
fluido e instável, o atual conceito de masculinidade é descompromissado,
evitando compromissos profundos, mas nós fomos chamados para estabelecer
alianças e honrarmos nossos compromissos e responsabilidades. Por esses
motivos, o homem pós-moderno deixará um legado momentâneo, pois negligencia os
impactos de suas escolhas no futuro, mas o homem espiritual deixará um legado
eterno, pois transmitirá sabedoria e instrução às futuras gerações, incentivando-as
a viver de uma forma que glorifique a Deus.
A masculinidade líquida é um reflexo de um mundo que “jaz no
maligno” (1 João 5.19), estando em constante crise de identidade. Mas o modelo
determinado pela Palavra de Deus aponta para um ideal que transcende o entendimento
do homem natural, pois está fundamentado no caráter do Senhor e em princípios
imutáveis. Este modelo é um chamado para que os homens tenham uma vida de
coragem, integridade e amor. O homem cristão deve rejeitar a instabilidade da
cultura pós-moderna e abraçar o propósito eterno para o qual foi criado.
por Sérgio de Moura Sodré
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