No sermão Profético, ao responder a uma pergunta tripartida de Seus discípulos, o Senhor menciona sinais escatológicos identificados como “princípio das dores” (gr. arché odínon, Mateus 24.3-8). Embora a palavra “dores” aqui (gr. odin) tenha o sentido de “contrações sentidas por uma gestante durante o trabalho de parto”, o termo precedente, “princípio” (gr. arché), indica que tais dores não são ainda as que acontecem quando o útero está prestes a expulsar o bebê. Em 1 Tessalonicenses 5.1-3, Paulo emprega o mesmo termo odin sem o precedente arché para se referir às “dores” que trarão destruição repentina sobre o mundo, as quais têm a ver, especificamente, com o Dia do Senhor, que abarca o período tribulacional subsequente ao Arrebatamento da Igreja (2 Tessalonicenses 2.1-9, NAA).
O Dia do Senhor, previsto pelos profetas (Amós 5.18; Joel
1.15; 2.31; Sofonias 1.14; Jeremias 46.10), sobrevirá ao mundo de forma súbita,
como as contrações que assaltam uma grávida quando esta entra em trabalho de
parto (BENWARE, p. 368). Já os sinais constantes do “princípio das dores” (Mateus
24.6,7), os quais têm ocorrido desde o primeiro século, não são ainda as “dores
do trabalho de parto”, mas as contrações que o precedem. Por isso, é necessário
distinguir entre “dores de parto” repentinas e “princípio das dores” que
ocorrem de modo gradual, antes do “trabalho de parto”. O que acontece no mundo,
hoje, é comparável às primeiras contrações ou incômodos sentidos por uma
gestante antes do momento exato em que o bebê vai nascer. Ou seja, ao empregar
o termo arché odínon, Jesus se refere ao que acontece antes do Dia do Senhor,
o qual será um período de juízos divinos, após o rapto dos salvos (cf. Apocalipse
6-18).
Alguns teólogos afirmam, de modo peremptório, que o Sermão Profético
diz respeito, única e exclusivamente, a Israel. Entretanto, está escrito que
perseguição recairá sobre aqueles que ostentam e propagam o nome de Jesus (Mateus
24.9). Os israelitas vêm sendo perseguidos, ao longo dos séculos, mas não por
causa do nome de Jesus. Quem tem sofrido perseguições, de maneira cada vez mais
intensa, pela mencionada causa, são os cristãos. Ademais, o que o Mestre diz,
em seguida, também se refere à Sua Igreja, e não a Israel (vv. 10-12). É evidente
que, dentro do período tribulacional, haverá perseguição aos que se converterem
a Cristo, bem como deserção em massa nas igrejas — a grande apostasia (2 Tessalonicenses
2.3) —, já que muitos serão enganados por falsos profetas a serviço da segunda
Besta (cf. Apocalipse 13.11-18). Não obstante, isso já principia antes do
Arrebatamento da Igreja.
Conquanto os sinais mencionados por Jesus (guerras e rumores
de guerras, falsos cristos, desastres naturais e perseguição) apliquem-se de
modo particular à era da Tribulação, como salienta o apóstolo Paulo (cf. 1 Tessalonicenses
5.1-3; 2 Tessalonicenses 2.1-3), esses mesmos males são também aflições que têm
caracterizado a totalidade da era cristã (MACARTHUR, p. 89-90). Nesse caso, o
Senhor apresenta dores que vêm se intensificando ao longo dos séculos, numa
gradação, até atingirem o ápice. Em outras palavras, o ponto culminante do “princípio
das dores” — as quais começam ainda antes do início do período tribulacional —
marca o início do Dia do Senhor, quando as aflições se intensificam sobremaneira,
num período de 7 anos, até que o Senhor desça à Terra em poder e grande glória
com a Sua Igreja glorificada para instaurar o Milênio (cf. Apocalipse
19.11–20.6; Mateus 24.29-31; 25.31-46).
A afirmação de que o “princípio das dores” diz respeito aos
dias em que vivemos não equivale a posições equivocadas de que já estamos
passando pela Tribulação. Embora seja verdade que a abertura dos primeiros
selos revele que haverá enganadores, guerras, fome e pestilência logo no início
do período de 7 anos (Apocalipse 6.1-8), estes males não devem ser confundidos
com o “princípio das dores”, termo que alude a sinais escatológicos graduais,
como as dores que antecedem o parto e indicam que este se aproxima. As “dores
de parto”, propriamente ditas, referem-se a aflições jamais experimentadas
antes (Mateus 24.21). Mas não há dúvida de que já estamos experimentando o
“princípio de dores”, nesses “últimos segundos” da “última hora” (1 João 2.18) ou
nessas “últimas horas” dos “últimos dias” inaugurados no Dia de Pentecostes (Atos
2.14-21).
Estamos no limiar do cumprimento das profecias do tempo do fim
e avançamos a passos largos para o ápice da História. Afinal, temos visto a
manifestação de todos os sinais constantes da Palavra profética. Entretando,
sabemos que as “dores de parto”, propriamente ditas, ainda não começaram e, por
isso, não devemos cair na tentação de antecipar o futuro, transformando
especulações em fatos. Se nos conscientizarmos, de uma vez por todas, de que o
Arrebatamento da Igreja é o evento desencadeador do Dia do Senhor, não há
motivo para nos desesperarmos com o que ora ocorre no mundo. Mas precisamos
estar prontos para a volta do Senhor, que é iminente (Mateus 24.36-42).
A iminência — doutrina bíblica ligada ao Arrebatamento da Igreja
— abarca três aspectos: certeza de que Jesus pode voltar a qualquer momento;
incerteza do momento exato dessa vinda; e ausência de sinais. Em outras palavras,
embora haja muitos sinais acerca do tempo do fim, não há qualquer sinal que
aponte para o dia e a hora do rapto dos salvos. Sabemos que este pode ocorrer a
qualquer momento, mas, a julgar pela intensidade dos males que Jesus menciona
no Sermão Profético, não há dúvida de que tudo caminha a passos largos para o
clímax da História. Faz-se necessário, aqui, verberar contra a escatologia especulativa,
fantasiosa e aterrorizante de modo mais enfático. É lamentável que haja
pregadores e ensinadores tidos como especialistas em Palavra profética que não
priorizam o estudo a respeito do futuro centrado nas Escrituras, mas, sim,
especulações que geram pânico entre os incautos, deixando cristãos e não
cristãos confusos e amedrontados.
Claro está, a partir da premissa da iminência, que não cabe
a quaisquer de nós determinar o momento exato do cumprimento de profecias sobre
o Arrebatamento da Igreja e eventos subsequentes. Não obstante, a cada dia,
aumenta o número dos “escatólogos do terror”, que se valem dos acontecimentos
atuais para prestar um desserviço ao povo de Deus e desviá-lo da esperança de
que o rapto dos salvos ocorre antes do período tribulacional (1 Tessalonicenses
1.10; 4.13-18; 5.1-9; Apocalipse 3.10,11). Alguém enfatiza que acabamos de
passar por uma pandemia e que agora estamos no limiar da Terceira Guerra
Mundial. Mas, pensemos: quando ocorreram a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais
(respectivamente, em 1914-1918 e 1939-1945), muitos cristãos tinham a certeza
de que as profecias já estavam se cumprindo. E o Arrebatamento da Igreja não aconteceu!
Passadas as duas grandes guerras, veio a criação do Estado
de Israel (1948), e a certeza de muitos de que Jesus estava à porta foi retomada.
Veio, então, a Guerra Fria entre Estados Unidos e a ex-URSS, o fortalecimento
da comunidade europeia, e isso fomentou ainda mais a escatologia especulativa e
aterrorizante. Os livros daquela época davam como certa a invasão de Gogue e
sua coalizão a Israel (cf. Ezequiel 37-38), alegando que a profecia sobre o
vale dos ossos secos (cap. 37) já havia se cumprido plenamente. Sabemos — à
luz, especialmente, da profecia de Daniel 9.24-27 — que a restauração de Israel
também abarca o aspecto espiritual, o que só ocorrerá após o Arrebatamento da
Igreja.
Portanto, não nos assustemos com o “princípio das dores”,
pois a mensagem escatológica para a Igreja é de vitória (2 Timóteo 4.7,8), já
que o Arrebatamento é nossa “bem-aventurada esperança” (Tito 2.14). Nosso
sentimento diante disso não deve ser de medo. Não percamos de vista o fato de
que o rapto da Igreja pode acontecer a qualquer momento, e não necessariamente
em meio a uma catástrofe (Mateus 24.36-42). Purifiquemo-nos (1 João 3.1-3) e
nos alegremos ao ver o cenário sendo preparado para o início do cumprimento
profético a partir do evento desencadeador: o Arrebatamento da Igreja. “Ora, vem,
Senhor Jesus” (Apocalipse 22.20).
Referências
BENWARE, Paul. Manual de Escatologia Chamada. Porto
Alegre: Chamada, 2021.
MACARTHUR, John. Segunda Vinda. Rio de Janeiro: CPAD,
2013.
por Ciro Sanches Zibord
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