Como entender a atitude de Abraão de partir ao monte para tirar a vida do próprio filho, embora tenha sido a pedido do Senhor a fim de prová-lo, como uma virtude (Gênesis 22.1-12; Tiago 2.21)?
O presente texto é uma narrativa que psicologicamente gera um quadro emocional tenso, pois descreve a atitude do pai para com o filho, o qual deveria ser sacrificado pelo mesmo. Abraão faria tal ação por uma solicitação divina, é nesse poliedro que são cabíveis as palavras de Paulo, quando fala da loucura de Deus (1 Coríntios 1.25). Frente a esta solicitação divina, Abraão expressa amor, fé e obediência para com Deus, sendo sua fé já bem desenvolvida, posto que agora acreditava que Deus poderia até ressuscitar seu filho da morte. Isaque é visto como vítima, ou seja, o servo que sofre, evidenciando assim que está pronto para sofrer o que Deus determina. Assim, tal texto apontava para a pessoa de Cristo Jesus.
Podemos compreender essa atitude de Abraão no Monte Moriá a
fim de sacrificar seu filho como uma virtude atentando para três aspectos: fé,
obediência, providência divina. Até chegar ao capítulo 22 Abraão desenvolveu
sua vida com Deus crendo na promessa que lhe fora feita; ser solicitado por
Deus que sacrificasse seu filho era um desafio à sua fé, como lhe fora dito que
seria pai de uma grande nação, agora era preciso evidenciar isso por meio de
uma verdadeira fé.
Abraão revelou-se obediente e totalmente devoto, ainda que
Sua solicitação parecesse moralmente incorreta, angustiante, mesmo assim mostrou-se
inabalável em sua fé, pois não questionou a Deus, mas aceitou tudo crendo
totalmente Nele. Por fim, no momento em que Abraão estava prestes a sacrificar
seu filho Isaque, da parte do próprio Deus veio a ordem para que Abraão não fizesse
tal coisa, o que de imediato já deixa claro que Deus não estava querendo a
morte de Isaque, mas que com tal ação objetivava-se apenas provar a fé e a
obediência do patriarca. A providência divina entrou em ação dando um cordeiro substituto.
Jamais se deve pensar que Deus desejasse o sacrifício
daquela vida humana, ou seja, de Isaque, o pai Abraão entendeu, diante da ordem
divina, que deveria sacrificar o filho, destarte, a questão envolvida era se o
patriarca estava plenamente disposto a apresentar seu unigênito, gerado de Sara
como prova total de sua entrega a Ele.
A atitude de Abraão pode ser considerada como uma virtude frente
à ordem divina pelo fato dele demonstrar fé, obediência e confiança plena em
Deus. Ao lermos essa passagem bíblica, devemos olhar para ela exegeticamente, que
busca destacar a fé e a obediência do patriarca Abraão frente a uma situação
conflitante; pelo aspecto hermenêutico, em sua contextualização, essa história nos
ensina que os princípios de fé e obediência podem ser aplicados nas mais
diversas situações desta vida. Compreende-se então que tal passagem não dá
qualquer margem para o sacrifício de crianças, pois iria contrariar o que Deus
reprovava (Levítico 18.21; 20.21). Apesar do substantivo feminino hle ‘olah,
oferta queimada, estar presente, quem entendeu que era para sacrificar Isaque
foi o patriarca, mas jamais Deus queria tal coisa.
Abraão considerou correto a ordem de Deus porque agora já tinha
aprendido a viver pela fé, a crer nas palavras divinas, ora, se o Mesmo falou
que iria lhe tornar uma grande nação, descansaria em tais promessas. A partir
desse momento a fé de Abraão não estaria atrelada ao senso comum, ao que é
terrenal, ao afeto humano, mas totalmente em Deus, para quem tudo é possível (Lucas
1.37), é por causa de sua ação firme que Tiago o descreve como nosso exemplo de
fé (Tiago 2.21).
por Osiel Gomes
Compartilhe este artigo. Obrigado.
Postar um comentário
Seu comentário é muito importante