A partir dos textos bíblicos de Romanos 13.1-5 e 1 Pedro 2.13-17, reflitamos a respeito de autoridade e consciência política. Uma primeira observação feita aqui é a seguinte: vivemos sob dois prismas de autoridade, ou seja, estamos sob a autoridade de alguém ou temos autoridade sobre alguém. Não podemos absolutamente negar que a posição que alguém tem de autoridade para administrar vem de uma ordenação divina. Aqueles que estão debaixo da autoridade de alguém devem se comportar de maneira ética, sábia e moral a ponto de que os outros possam espelhar (1 Pedro 2.15). Já os que exercem autoridades sobre as pessoas devem procurar fazer justiça, equidade e agir eticamente com humildade e responsabilidade (Colossenses 4.1).
1. Conceitos de autoridade
A descrita em Romanos 13.11 tem origem grega: “exousia”;
na tradução latina, “auctoritate”, que significa ter poder sobre alguém.
Nesta direção, para que a pessoa possa exercer a autoridade, alguém deve
delegar poder (Atos 1.7; João 34.13). Neste sentido, ninguém tem autoridade por
si mesmo. Quando isso acontece é o chamado “usurpação do poder”. Alguém tem que
outorgar ou conceder autoridade. Biblicamente, somente Deus pode outorgar ou
permitir que o poder seja concedido a alguém (Deuteronômio 2.20, 21). Alguns
chegam ao poder pela vontade diretiva de Deus, outros pela vontade permissiva.
O governador romano Pôncio Pilatos tinha autoridade política
(João 19.10, 11) delegada parcial e temporal humana recebida sob a permissão de
Deus. No caso do julgamento de Jesus, Pilatos usou o poder político e disse:
“Não sabes tu que tenho poder para te crucificar e tenho poder para te
soltar?”. O ser humano só possui autoridade delegada. Já Jesus estava sob
autoridade divina diretiva e absoluta vinda diretamente de Deus. Ele estava sob
autoridade espiritual. Em resposta ao governador romano, disse Ele: “Nenhum
poder teria sobre mim se de cima não fosse dado”. O Mestre estava afirmando que
toda autoridade humana existe dentro dos limites permitidos por Deus (Bíblia de
Estudo Pentecostal (CPAD), p. 1610). Neste sentido, devem-se analisar os
conceitos de autoridade dentro das seguintes perspectivas:
a) A liberdade para o exercício do poder – Na
verdade, quem concede o poder deve também delegar autonomia e liberdade, o que
irá permitir ao líder a liberdade para desenvolver suas atividades laborais. A
liberdade deve ser sempre no sentido de promover o bem-estar das pessoas e,
acima de tudo, exaltar o nome poderoso de Deus (1 Pedro 4.11).
b) O controle do poder – Está nítido no texto de
Romanos 13.2 que quem delega autoridade exerce o controle sobre ela, porém, é
bom sempre lembrar que Deus está no controle de tudo. Nesta perspectiva, o
poder delegado é controlado e supervisionado por quem o concedeu (Mateus 8.9).
O Senhor, em Sua soberana vontade, tem poder e autoridade para intervir no
momento em que Ele bem desejar e do jeito que Ele bem quiser no curso da
história (Isaías 43.13). Com o poder de Estado, os governantes têm o controle
dos reinos, povos e províncias, mas Deus tem o poder e o controle sobre todos os
sistemas de governos (João 19.11). “Nenhuma autoridade teria sobre mim se de
cima não fosse concedido”, disse Jesus.
c) A legalidade para o exercício da autoridade –
Conforme o Aurélio, a autoridade é o direito ou o poder de ordenar, de atuar,
fazer obedecer; a condição de autoridade deve passar pelo processo da
legalidade. Em alguns casos o indivíduo tem autoridade, mas não tem legalidade para
exercê-lo. No caso do poder de autoridade política, a sua legalidade está no
caráter prescritivo e normativo da lei. No caso da Igreja, a autoridade deve
ser exercida em conformidade com a Bíblia.
d) A questão da legitimidade – A pessoa perde a
legitimidade e a autoridade quando os meios usados para obter e conquistar o
poder foi burlando as leis. De acordo com Provérbios 29.2, toda autoridade é legitima quando atende as necessidades
e os anseios da população. Nesta direção, todos que exercem poder e autoridade
devem agir em conformidade com a lei, respeitando os bons costumes e sempre
obedecendo aos critérios de equidade e justiça, portanto, a autoridade para ser
legitima deve atender os critérios que a legitimou para o exercício do cargo
tanto político quanto religioso.
2. O exercício da autoridade política
A sociedade gira basicamente em torno de quatro eixos: a
cultura, a religião, a economia e a política, que são os pilares básicos da
construção social. Na verdade, a política está presente na vida cotidiana das pessoas
e em diversas situações ela se manifesta, como por exemplo, política econômica,
política sindical, política ecológica, política das Igrejas, etc.
O termo política é oriundo das palavras gregas “pólis”,
que significa cidade, e “tikós”, administração do bem comum. As “pólis”
teriam que ser administrada pelos “cândidos”, que significa limpo, alvo, branco,
puro, honesto, de onde se origina a palavra candidato. Neste sentido, a
política não diz respeito apenas aos políticos, mas a todos os cidadãos.
Atualmente fala-se em falta de transparência na política, a concentração do
poder nas mãos de pessoas de vida duvidosa, bem como a ausência de participação
do povo no controle e na cobrança de uma atuação mais ética. A omissão dos
homens de bem, sobretudo dos cristãos, tem sido prato farto para o diabo
introduzir os seus filhos nas camadas mais altas do poder. A participação do
cidadão de bem no processo político é fundamental, pois as discussões e as
decisões que se dão no parlamento afetam direta positiva ou negativamente a
vida de todos os cidadãos.
3. As autoridades foram ordenadas por Deus
Em Romanos 13.11, vemos que o poder político foi ordenado
por Deus, ou seja, Deus constituindo as autoridades políticas. O texto bíblico
deixa claro que quando nos submetemos à autoridade política, estamos nos
submetendo ao próprio Deus. Essa submissão significa ter plena “consciência
política” como cidadão exercendo em sua plenitude a cidadania, não por coação, mas
de forma espontânea, porque o cidadão que presa pelo cristianismo no exercício
de seus deveres cívicos leva em consideração as práticas de mansidão, fé,
esperança, sempre focado em Deus (1 Pedro 2.13). Essa deve ser a nossa
consciência sobre a importância da participação do cristão de forma equilibrada
e sincera.
a) Autoridade no governo – Penso que de forma
cautelosa a Igreja não pode ser omissa em relação às questões que envolvem a política,
porque a Bíblia estabelece princípio de autoridade e diz que os que detêm e
utilizam do exercício de autoridade devem fazê-lo para benefício do bem público
(Lucas 22.25; Romanos 13.4). Vemos aqui o exercício do poder pelo Estado sendo o agente que conduz a política no
sentido de promover o bem-estar das pessoas, e que os cristãos e todos os
cidadãos devem obediência civil. Os que assim fazem, estão obedecendo a Deus que
é o Governador do universo e Senhor de todas as coisas, inclusive dos cristãos
e não cristãos.
b) A função da autoridade de governo – Para que os
homens possam viver em harmonia e ter um bom relacionamento social e respeito mútuo,
Deus propôs um conjunto de normas e regras para nortear e equilibrar as pessoas
dentro da sociedade: a Bíblia. Ela é o código de condutas, onde estão contidas
as leis de Deus, os mandamentos e as ordenanças para orientação moral, provisão
e proteção do cidadão, mas as autoridades de governo estão também empenhadas na
construção de leis civis que venham preservar, prevenir e nortear a conduta do
cidadão.
Basicamente são três as funções da autoridade de governo:
1. Orientar e dirigir o povo – Governar é exercer
autoridade para conduzir o povo (Mateus 20.25). Na democracia “todo poder emana
do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos” (Constituição Federal,
1988). Nesta direção é que devemos ter a chamada “consciência política” para
escolhermos sempre os melhores.
É fato que o Diabo tem se infiltrado fortemente no meio da política
e virado ao avesso o sistema. Ultimamente ele tem feito um desastre promovendo
as mais absurdas ideologias, jamais vistas na história da humanidade. Com isso
tem levado a muitos homens de bem desacreditarem do processo político. O Diabo
tem usado homens ímpios para produzir ideologias contrárias aos princípios
bíblicos, levando as pessoas a envolverem-se na mais absurda corrupção, até
mesmo institucionalizando-a ou tendo-a como cultura. É fato que o sistema
político brasileiro está mergulhado em um lamaçal de corrupção sem precedência,
mas demonizar a política não é o melhor caminho, talvez seja um erro que não
devemos permitir (Romanos 13.2; Tito 3.1). Aqueles irmãos que têm habilidades,
talentos e vocação para o debate político devem participar e apresentar
alternativas para que as mudanças aconteçam.
2. Dar proteção ao cidadão – De acordo com Romanos 13.3,
4, todas as autoridades de governo são ordenadas por Deus e têm como uma de
suas múltiplas funções proteger os cidadãos dando a eles condições plenas para
o exercício da cidadania, punindo e reprimindo aqueles cidadãos que praticam a
perversidade. O cristão não tem que ter medo das autoridades, pois pressupõe
que esses estão vivendo em conformidade com as leis.
3. Assegurar ao cidadão os direitos e o bem viver – É
fato que a ausência de autoridade política de Estado cria um clima de desestabilidade
econômica, social, política, etc.. Em Romanos 13.1-5, vemos que Deus instituiu
o poder no Estado legitimado pelo Governo, no sentido de cuidar e promover o bem-estar
das pessoas. As autoridades legalmente constituídas que observam os princípios
bíblicos de autoridade não terão dificuldade em valorizar a dignidade humana, a
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (1 Timóteo 2.2).
É um desafio para os cristãos nos dias atuais entenderem a
questão da submissão às autoridades, principalmente aquelas que estão comprometidas
com uma ideologia e práticas não favoráveis ao cristianismo, porém, é preciso
entender que elas estão lá por duas razões: primeiro, por permissão de Deus, segundo,
por nossa falta de “consciência política”, omissão e resistência a
participação. É muito bom para sociedade quando um cristão genuíno assume
funções públicas eletivas, porque ele confia em Deus e usa o poder e a
autoridade política em benefício do povo (Salmos 22.27, 28). E nós como cristão
devemos sempre orar pelas autoridades legalmente construídas, principalmente pelos
domésticos da fé. A política nos moldes que temos hoje é um campo minado, razão
pela qual devemos sempre orar (1 Timóteo 2.2), lembrando que as autoridades
humanas estão debaixo da autoridade de Deus.
por Mauricio Brito
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