A peregrinação de Israel no deserto

A peregrinação de Israel no deserto


Após a libertação do povo hebreu da escravidão no Egito, temos em Êxodo 13, a partir do versículo 17, as orientações do Senhor acerca do itinerário que os hebreus deveriam seguir a partir de Sucote rumo ao deserto localizado na península do Sinai. A rota escolhida, no entanto, não foi a mais fácil, pois não os levaria em um espaço e um tempo menores à Canaã, mas, sim, a uma viagem mais longa que evitaria que o povo encarasse imediatamente os filisteus em uma guerra, fazendo-os desejar voltar ao Egito.

Além destes dois fatores para evitar “O Caminho da Terra dos Filisteus”, mencionado em Êxodo 13.17, temos mais seis fatores pelos quais Deus guiou o povo através de uma rota alternativa e não de uma rota mais curta, seguindo a costa do Mar Grande (Mediterrâneo), de apenas 240 quilômetros, do Egito até Gaza. Estes fatores foram: 1) evitar fortificações egípcias; 2) o plano divino, pois não era a vontade do Eterno que os israelitas tomassem posse logo da Terra Prometida; 3) testes (os israelitas deveriam ser provados por Deus no deserto); 4) a busca da espiritualidade (através da revelação e da entrega da Torá); 5) a preparação de um exército para a conquista de Canaã; 6) e a formação de uma nação.

Já no capítulo 14 de Êxodo, em seguida ao acampamento próximo às localidades de Pi-Hairote, Migdol e Baal-Zefom, os israelitas defrontaram-se com “dois adversários” aparentemente invencíveis, os quais eram o exército de Faraó, comandado pelo soberano que havia se arrependido de ter libertado os hebreus, e o mar a ser transporto. Somente com a intervenção divina na natureza foi possível superá-los. As águas do mar foram separadas “por um forte vento oriental toda aquela noite; e o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas. E os filhos de Israel entraram pelo meio do mar em seco” (Êxodo 14.21,22). A segunda intervenção foi que “o mar retomou a sua força ao amanhecer, e os egípcios fugiram ao seu encontro; e o Senhor derribou os egípcios no meio do mar, porque as águas, tornando, cobriram os carros e os cavaleiros de todo o exército de Faraó, que os haviam seguido no mar; nem ainda um deles ficou” (Êxodo 14.27,28).

Continuando a trajetória para Canaã, chega o momento do povo de Israel atravessar o deserto localizado na Península do Sinai, onde irão enfrentar várias dificuldades; mas, também, onde irão ver a glória de Deus e receber os Seus mandamentos, constituindo-se numa nação teocrática e modelo para as demais nações. Apesar de todas as infidelidades que foram cometidas pelos israelitas, o Eterno manteve-se fiel e concedeu a vitória a eles, permitindo que superassem os obstáculos naquela árdua jornada.

As duas definições para “deserto”, conforme o Dicionário Escolar da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras (2010, p. 421) são: “1. Que não está habitado ou em que não há gente. 2. Região seca, frequentemente arenosa, de baixa pluviosidade e vegetação esparsa”. É nesse espaço inóspito onde Israel será confrontado e, assim sendo, as dificuldades surgem logo nos três primeiros locais da travessia do povo: Mara, Elim e Refidim, respectivamente.

Naqueles lugares, os israelitas incrédulos cometeram um pecado que foi praticado bastante ao longo da peregrinação: a murmuração. Os rebeldes declararam o arrependimento por terem saído do Egito, onde tinham carne e pão (Êxodo 16.3), porém o Senhor foi misericordioso, transformando as águas amargas em doces (Êxodo 15.25), enviando o maná (Êxodo 16.15) e fazendo brotar água da rocha (Êxodo 17.6). Além dos adversários naturais – a sede e a fome –, Israel, em Refidim, começou a guerrear contra as nações inimigas, iniciando pelos amalequitas, que eram descendentes de Esaú (Gênesis 36.12) e habitavam na região do Sinai. Moisés escolheu Josué, filho de Num, da tribo de Efraim, como comandante do exército israelita e até a chegada do povo no Monte Sinai, cumpriu-se o primeiro ciclo (etapa) da peregrinação no deserto.

O segundo ciclo da peregrinação de Israel no deserto inicia-se “no segundo ano, no segundo mês, aos vinte do mês, que a nuvem se alçou de sobre o tabernáculo da congregação. E os filhos de Israel partiram, segundo as suas jornadas do deserto do Sinai; e a nuvem parou no deserto de Pará” (Números 10.11,12).

O fato decisivo do castigo divino para quase toda a geração que havia saído do Egito foi, novamente, a murmuração, sendo mais precisamente motivada por dez espias ordenados por Moisés, príncipes de cada tribo, exceto Josué e Calebe, das tribos de Efraim e Judá, respectivamente, que após retornarem de espiar a Terra Prometida, amedrontaram o povo, infamando a terra, declarando: “Não poderemos subir contra aquele povo, porque é mais forte do que nós” (Números 13.32).

Devido à influência negativa, o povo levantou a voz mais uma vez contra Moisés e Arão, desejando voltar ao Egito. Em consequência, o Todo-Poderoso decretou uma sentença fatal para os murmuradores de que não entrariam em Canaã, e, sim, os seus filhos, os quais pensavam que seriam presas dos cananeus. Além disso, a congregação iria peregrinar 40 anos no deserto, quando bastariam dois anos para entrarem na Terra Prometida. Esse acontecimento em Cades-Barneia inaugura a terceira e última etapa da peregrinação de Israel no deserto, a qual encerrar-se-á nas planícies de Moabe.

Deste modo, podemos destacar três lições concernentes à jornada de Israel no deserto: 1) depender das provisões divinas na nossa jornada; 2) confiar que Deus está sempre conosco; e 3) sermos submissos à Sua Liderança. Em relação à Igreja, a sua trajetória no deserto, que espiritualmente corresponde ao mundo, é tão árdua quanto a dos israelitas. Se a jornada desses últimos durou 40 anos e encerrou-se nas planícies de Moabe, do outro lado a dos cristãos já dura cerca de 2000 anos e apenas findará no Arrebatamento. Cada membro da Igreja é um peregrino nesta terra e, assim como os israelitas tiveram que superar as dificuldades e tentações, os cristãos precisam vencê-las através da fidelidade à Palavra de Deus e mantendo a comunhão fraternal.

por Paulo Silas Belém

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