O Batismo no Espírito Santo e os dons espirituais

O Batismo no Espírito Santo e os dons espirituais


O poder dinamizador do Batismo no Espirito Santo e a importância dos dons espirituais

Como o batismo no Espírito Santo concede ao cristão uma vida mais dinâmica e de profunda adoração, e a importância dos dons espirituais

O batismo no Espírito Santo é um revestimento e derramamento de poder do Alto, com a evidência física inicial de línguas estranhas, conforme o Espírito Santo concede, pela instrumentalidade do Senhor Jesus, para o ingresso do crente numa vida de mais profunda adoração e eficiente serviço para Deus (Lucas 24.49; Atos 1.8; 10.46; 1 Coríntios 14.15,26).

Já o batismo do Espírito, como vemos em 1 Coríntios 12.13, Gálatas 3.27 e Efésios 4.5, trata-se de um batismo figurado, apesar de ser real. Todos aqueles que experimentam o novo nascimento, que é também efetuado pelo Espírito Santo (João 3.5), são por Ele imersos, batizados, feitos participantes do corpo místico de Cristo, que é a sua Igreja, no sentido universal (Hebreus 12.23 e 1 Coríntios 12.12ss).

Nesse sentido, todos os salvos são batizados pelo Espírito Santo. Já quanto ao batismo no Espírito, conquanto seja para todos os salvos, nem todos são batizados. A Escritura Sagrada, ao tratar de Israel como o povo escolhido de Deus da antiga dispensação, declara: “E todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar” (1 Coríntios 10.2). “Batizados em Moisés” tem o sentido de “para unirem-se a Moisés”; “para pertencerem a Moisés”.

O grandioso milagre da travessia de Israel pelo meio do mar, com a presença da nuvem divina protetora no alto, separou aquele povo como um corpo. O mar era ali algo material, mas a nuvem divina era sobrenatural. Em 1 Coríntios 10.2, na expressão “batizados em Moisés”, a partícula original é eis, que significa “para ingressarem, unirem-se, pertencerem à”.

Certas denominações, por desconhecerem ou rejeitarem o batismo no Espírito Santo conforme Atos 1.5 e 2.4, confundem-no com esse batismo de que estamos tratando. A evidência física inicial do precioso batismo com o Espírito são as línguas estranhas sobrenaturais conforme o Espírito conceder (Atos 2.4 e Marcos 16.17).

Sugerimos, pois, ao leitor que medite profundamente nas passagens de João 7.37-39, Lucas 24.49,52 e Atos 1.12-14; 2.1-4. O comentário que se segue é um desdobramento desses textos.

A promessa do batismo no Espírito Santo

Dos cerca de quinhentos irmãos que viram Jesus ressurreto e ouviram o seu chamado para o cenáculo em Jerusalém (Lucas 24.49), apenas uns 120 deles atenderam (cf. 1 Coríntios 15.6). O que acontecera aos demais que lá não foram? Nem todos buscam com fé, sede e perseverança o batismo com o Espírito Santo.

Há várias promessas de Deus, no Antigo Testamento, do derramamento do 1) Joel – seu Espírito sobre o seu povo, mas a principal é a que foi proferida pelo profeta Joel, uns oitocentos anos antes do advento de Cristo (Joel 2.28 - 32).

2) João Batista – João, o arauto de Jesus, foi homem cheio do Espírito Santo. Em todos os quatro Evangelhos ele confirma a promessa divina do batismo (Mateus 3.11; Marcos 1.8; Lucas 3.16; João 1.32,33 e Atos 11.16).

3) Jesus – Em Marcos 16.17, Jesus declarou: “falarão novas línguas”. Em Lucas 24.49, Jesus denominou a promessa como “a promessa de meu Pai”. O batismo no Espírito Santo foi o último assunto de Jesus aos seus, antes da sua ascensão (vv. 50,51). Isso mostra que esse revestimento de poder do Alto é de inestimável relevância para o povo salvo.

A declaração de Jesus em João 7.38,39 deve ser estudada juntamente com Atos 2.32,33. O apóstolo Pedro, após ser batizado no Espírito Santo e pregar no dia de Pentecostes, encerrou o seu sermão citando a promessa do batismo, agora cumprida no cenáculo em Jerusalém (Atos 2.1 - 4).

O cumprimento da promessa

No Antigo Testamento, o privilégio especial do povo de Deus – Israel – foi receber, preservar e comunicar a revelação divina, as Santas Escrituras (Romanos 3.1,2; 9.4; 2 Coríntios 3.7). Já o privilégio especial do povo de Deus no Novo Testamento, a Igreja, é receber o Espírito Santo: na conversão (João 3.5; 14.16,17; 16.7; 2 Coríntios 3.8,9; Romanos 8.9); no batismo com o Espírito Santo e, subsequentemente, através da vida cristã (Atos 4.8,31; 9.17; 13.9,52; Efésios 5.18).

O Espírito Santo já foi derramado, segundo a palavra profética de Joel 2.28-32, mas não ainda na sua plenitude. Todos os sinais sobrenaturais mencionados na referida profecia, bem como no texto paralelo de Atos 2.16-21, ainda não se cumpriram em plenitude. Também em Joel 2.28, diz Deus: “Derramarei o meu Espírito”, enquanto, em Atos 2.17, o mesmo Deus diz: “Derramarei do meu Espírito”. Pequenas palavras com grande significado e alcance nos desígnios divinos.

O que não é o batismo no Espírito Santo

O batismo no Espírito Santo não é a salvação. A salvação é uma milagrosa transformação que se efetua na alma e na vida da pessoa que, pela fé, recebe Jesus Cristo como seu Salvador. Sua origem está na graça de Deus (Romanos 3.24 e Tito 2.11). Seu fundamento é o sangue de Jesus Cristo (Romanos 3.25 e 1 João 2.2). Seu meio de recepção ou apropriação é a nossa fé em Cristo (Atos 16.31; Efésios 2.8). Os discípulos de Jesus que foram batizados no Espírito Santo no dia de Pentecostes já eram salvos, como já mostramos.

Na conversão, recebemos vida de Deus; no batismo no Espírito recebemos poder de Deus. O batismo não é a habitação interior do Espírito em nós. Na habitação, Ele está dentro; no batismo, Ele enche em plenitude. E uma experiência indizível; indescritível; por isso, cada filho de Deus deve usufruir esta experiência!

O batismo também não é a santificação do crente. A santificação posicionai é, a um só tempo, instantânea e completa, no momento do milagre da nossa regeneração. É a nossa santificação objetiva, “em Cristo” (Hebreus 10.10). Também não é a santificação subjetiva e progressiva na nossa vida cristã diária neste mundo (Hebreus 10.14). Aqui diz a Palavra literalmente “os que estão sendo santificados”.

O que é o batismo no Espírito Santo

Embora o batismo seja um dom, uma dádiva de Deus para seus filhos (Atos 2.38,29), ele precede os dons espirituais mencionados nas epístolas, principalmente em 1 Coríntios 12.1-11. Jesus empregou o termo “batismo” ao referir-se ao ato do batismo no Espírito Santo (Atos 1.5; 11.16). João Batista, o precursor de Jesus, homem cheio do Espírito, também se referiu ao batismo com o Espírito mediante o termo “batismo” (Mateus 3.11; Marcos 1.8).

Em todo batismo, tem de haver três condições para que esse ato se realize: um candidato a ser batizado, um batizador do candidato e um elemento ou meio em que o candidato vai ser imerso. No batismo de que estamos tratando – o batismo no Espírito Santo –, o candidato é o crente, o batizador é o Senhor Jesus e o elemento ou meio em que o candidato é imerso é o Espírito Santo.

O batismo com o Espírito Santo é, a um só tempo: uma ditosa promessa da parte de Deus – “a promessa do Pai” (Atos 1.4); uma dádiva celestial inestimável – “o dom do Espírito Santo” (Atos 2.38); uma imersão do crente no espiritual e sobrenatural de Deus – “sereis batizados com o Espírito Santo” (Atos 1.5) – a partícula original desta referência também permite a tradução “batizados no Espírito Santo”; um revestimento de poder do Alto (Lucas 24.49). É como alguém, estando já vestido espiritualmente, ser revestido de poder do Céu. O termo “revestido”, no original, conduz essa ideia.

Línguas estranhas

 Por meio das línguas estranhas, o crente edifica-se a si mesmo espiritualmente (1 Coríntios 14.4). Línguas da parte do Espírito são o único dos dons do qual está escrito que edifica o seu portador. Os demais dons edificam a igreja. Daí o apóstolo Paulo tanto falar em línguas em suas devoções pessoais diante de Deus (1 Coríntios 14.18). Leia também o versículo 39.

As línguas são apresentadas na Bíblia como um meio de o crente falar a Deus. Isto é, falar “a” Deus na dimensão do Espírito Santo, “em linha direta” (1 Coríntios 14.2). Também em línguas, pelo Espírito, “falar das maravilhas de Deus” (Atos 2.11). Elas também são um meio de o crente, em seu espírito, orar a Deus, e também interceder, na dimensão do Espírito Santo (1 Coríntios 14.14,15; Romanos 8.26; Efésios 6.18 e Judas v. 20).

 Por meio das línguas, o crente louva e adora a Deus, inclusive cantando, dando graças a Deus (1 Coríntios 14.15-17 e Efésios 5.19), falando de suas grandezas e magnificando a Deus (Atos 2.11; 10.46).

De acordo com 1 Coríntios 14.21,22, as línguas são também um “sinal” para os descrentes – “sinal para os infiéis”. Leia também Isaías 28.11. As línguas são ainda apresentadas nas Escrituras como dom do Espírito Santo – dom de “variedade de línguas” e dom de “interpretação das línguas” (1 Coríntios 12.10,28). Leia também 1 Coríntios 12.30; 14.5,13,26-28.

Para quem é o batismo no Espírito Santo?

A luz da Palavra de Deus, o batismo no Espírito Santo é para:

1) Pessoas de qualquer nação – “toda carne” (Atos 2.17).

2) Pessoas de ambos os sexos – “filhos e filhas” (Atos 2.17).

3) Pessoas de qualquer idade – “vossos mancebos e vossos velhos” (Atos 2.17).

4) Pessoas de qualquer camada social – “os meus servos e as minhas servas” (Atos 2.18).

5) Os judeus – o povo escolhido por Deus (Atos 1.13,14).

6) Os samaritanos – o povo misto e menosprezado (Atos 8.17).

7) Os romanos – o povo tido como autossuficiente (Atos 10.44-46).

8) Os gregos – os povos gentílicos (Atos 19.6).

9) Os anônimos e desconhecidos – dos quase 120 irmãos batizados no Espírito Santo no dia de Pentecostes, somente doze deles são mencionados por nome (Atos 1.13-15). Os demais não são nominados.

10) Quem já tem o Espírito Santo – “...habita convosco...” (João 14.17); “Recebei o Espírito Santo” (João 20.22).

11) “A tantos quantos Deus nosso Senhor chamar” (Atos 2.39).

Como receber o batismo no Espírito Santo

1) Sendo o candidato já salvo

– O batismo no Espírito Santo é para quem já é salvo. Os discípulos, ao serem batizados no dia de Pentecostes, já tinham os seus nomes escritos no Céu (Lucas 10.20); já eram limpos diante de Deus (João 15.3); já tinham em si vida espiritual, assim como o galho da videira está unido ao tronco João 15.4,5,16); já tinham sido por Cristo enviados para o seu trabalho, dotados de poder divino (Mateus 10.1; Lucas 9.1,2; 10.19).

2) Crendo com convicção na promessa divina do batismo – O batismo é chamado “a promessa do Pai” (Lucas 24.49; Atos 1.4; 2.16,32,33). É somente pela fé em Cristo que recebemos o batismo (Gálatas 3.14). Não é por mérito, haja vista ser um dom, uma dádiva de Deus para seus filhos.

3) Buscando o batismo com sede, em oração (Atos 1.4,14; João 7.37-39; Lucas 11.13).

4) Adorando a Deus com perseverança – Louvando sempre a Deus. Bendizendo ao Senhor. Alegrando-se em Deus. Assim fizeram os candidatos antes do primeiro Pentecostes (Lucas 24.52,53).

5) Vivendo em obediência à vontade do Senhor (Atos 5.32) – Para você que busca o batismo, há alguma área da sua vida não submissa totalmente a Cristo?

6) Cuidando o crente da sua espiritualidade – Em João 15.2, Jesus disse:

 “Limpa toda aquela que dá fruto”. É o crente separando-se do mundo quanto à sua iniquidade e pecados – “o mundo não pode receber”, disse Jesus, referindo-se ao Espírito Santo (João 14.17).

7) Perseverando em unidade fraternal – isso também eles fizeram antes do primeiro Pentecostes (Atos 1.14).

Resultados do Batismo no Espírito

Os resultados e efeitos desse glorioso batismo em nossa vida são muitos. Citaremos apenas alguns.

1) Edificação espiritual pessoal, mediante o cultivo das línguas estranhas (1 Coríntios 14.4,15). Edificar, como está na Bíblia, não é exatamente o mesmo que construir. Paulo foi tão grandemente edificado na sua vida cristã em geral e como obreiro pelo muito que o Espírito operou nele mediante as línguas (1 Coríntios 14.18). Línguas não faladas em público, mas consigo e com Deus.

2) Maior dinamismo espiritual, mais disposição e maior coragem na vida cristã para testemunhar de Cristo e proclamar o evangelho; para efetuar o trabalho do Senhor. Compare, nesse sentido, os discípulos de Jesus, antes e depois do Pentecostes, como foi o caso de Pedro – compare Marcos 14.66-72 com Atos 4.6-20.

3) Um maior desejo e resolução para orar e para interceder (Atos 2.42; 3.1; 4.24-31; 6.4; 10.9; Romanos 8.26).

4) Uma maior glorificação do nome do Senhor “em espírito e em verdade” (João 4.24), nos atos e na vida do crente (João 16.13,14).

5) Uma maior consciência de que Deus é o nosso Pai celeste, e que nós somos seus filhos (Romanos 8.15,16; Gálatas 4.6).

6) O batismo é também um meio para a outorga por Deus, dos dons espirituais – “falavam línguas e profetizavam” (Atos 19.6).

Se você ainda não é batizado no Espírito Santo, busque incessantemente essa gloriosa dádiva celestial. Mas, se você já o é, atente para o que diz a Palavra de Deus em 1 Coríntios 14.1: “Segui a caridade e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar”. Esse é o nosso assunto a seguir.

Os dons espirituais

O grande pregador e pastor inglês C. H. Spurgeon, em um dos seus escritos, relata a história de uma velhinha que morava numa instituição para idosos pobres que ele certo dia visitou. Nos pertences dessa senhora foi encontrado um documento bancário antigo, que lhe fora entregue como lembrança por alguém muito rico. Com permissão da velhinha, o pastor Spurgeon levou o documento a um banco e ficou sabendo que se tratava de uma elevada quantia suficiente para aquela senhora viver muito bem pelo resto da vida.

Partindo desse fato, Spurgeon concluiu que muitos crentes vivem em estado de grande pobreza espiritual por ignorarem as infinitas riquezas espirituais que estão a seu dispor, em Cristo, se as buscarem, conforme lemos em Efésios 3.8. Neste contexto, está a riqueza dos dons espirituais. Daí São Paulo escrever aos coríntios: “Acerca dos dons espirituais, não quero irmãos que sejais ignorantes” (1 Coríntios 12.1).

A igreja da atualidade precisa mais e mais conhecer, buscar, receber e exercitar a provisão divina imensurável que há nos dons espirituais, para o seu contínuo avanço, edificação, consolidação e vitória contra as hostes infernais e, ao mesmo tempo, glorificar muito mais a Cristo.

Dois princípios doutrinários devem ficar bem patentes aqui, concernentes aos dons espirituais. Primeiro, uma pessoa que recebeu do Senhor dons do Espírito não significa que ela alcançou um estado de perfeição e que é merecedora das bênçãos de Deus. As manifestações e operações do Espírito Santo por meio de alguém não devem jamais ser motivo de orgulho para o crente, seja ele quem for. Segundo, assim como o crente não é salvo pelas obras, mas tão somente pela graça divina (Efésios 2.8; Tito 3.5), assim também os dons do Espírito Santo nos são concedidos pela graça de Deus para que ninguém se engrandeça – “segundo a graça” (Romanos 12.6).

Na igreja de Corinto, certos crentes imaturos receberam dons espirituais e se descuidaram de crescer na fé e na doutrina. Problemas surgiram daí, afetando toda aquela igreja.

Definições gerais

Em seu sentido geral, o termo “dom” tem mais de um emprego.

Há os dons naturais, também vindos de Deus na criação, na natureza: a água, a luz, o ar, o fogo, a vida, a saúde, a flora, a fauna, os alimentos etc. Há também os dons humanos, por Deus concedidos na esfera do ser humano: os talentos, os dotes, as aptidões, as prendas, as virtudes, as qualidades, as vocações inatas etc.

O dom espiritual é uma dotação ou concessão especial e sobrenatural pelo Espírito Santo, de capacidade divina sobre o crente, para serviço especial na execução dos propósitos divinos para e através da Igreja. “São como que faculdades da Pessoa divina operando no ser humano” (Stanley Horton). Dons espirituais como aqui estudados não são simplesmente dons humanos aprimorados e abençoados por Deus.

Foi a poderosa e abundante operação dos dons do Espírito que promoveu a expansão da igreja primitiva como se vê no livro de Atos dos Apóstolos e nas Epístolas. Foi dotada de dons espirituais que a igreja de então continuou crescendo sem parar e triunfando, apesar das limitações da época, da oposição e das perseguições. A obra missionária também avançou celeremente como fogo em campo aberto.

As principais passagens sobre os dons espirituais são sete: 1 Coríntios 12.1-11, 28-31; 13; 14; Romanos 12.6-8; Efésios 4.7-16; Hebreus 2.4; e 1 Pedro 4.10,11. Além destas referências, há muitos outros textos isolados através da Bíblia sobre o assunto.

Termos designadores

Abordaremos aqui os cinco principais termos bíblicos designadores dos dons. Estes termos descrevem a natureza dos dons.

1) Dons espirituais – Ou pneu-matika (1 Coríntios 12.1). Os críticos e opositores dos dons alegam que, no original, aqui, não consta a palavra “dom”. Não consta neste versículo, mas consta a seguir, em 1 Coríntios 12 e nos capítulos seguintes. O referido termo refere-se às manifestações sobrenaturais da parte do Espírito Santo através dos dons (1 Coríntios 12.7; 14.1).

2) Dons da graça – Ou charis-mata (1 Coríntios 12.4 e Romanos 12.6). Falam da graça subsequente de Deus em todos os tempos e aspectos da salvação.

3) Ministérios – Ou diakonai (1 Coríntios 12.5). Isso fala de serviço, trabalho e ministério prático. São ministrações sobrenaturais do Espírito através dos membros da igreja como um corpo (1 Coríntios 12.12-27).

4) Operações – Ou energemata (1 Coríntios 12.6). Isto é, os dons são operações diretas do poder de Deus para a realização de seus propósitos e para abençoar o povo (vv. 9,10).

5) Manifestação – Ou phanero-sis (1 Coríntios 12.7). Os dons são sobrenaturais da parte de Deus; mas, conforme o sentido do termo original, aqui eles operam igualmente na esfera do natural, do tangível, do sensível, do visível.

 Classificação dos dons espirituais

Esta classificação ou agrupamento dos dons tem como objetivo estudar o assunto de forma resumida.

1) Dons de “manifestação do Espírito”

Em número de nove, conforme 1 Coríntios 12.8 - 10, tais dons são formas de capacitação sobrenatural de pessoas, para a “edificação do corpo de Cristo” como um todo, e também para a bem-aventurança de seus membros, individualmente (vv. 3-5,12,17,26).

Os capítulos 12 a 14 de 1 Coríntios têm a ver com esses maravilhosos dons. Eles são de atuação eventual, inesperada e imprevista (quanto ao portador do dom), tudo dependendo da soberania de Deus na operação dos dons. Esses dons manifestam o saber de Deus, o poder de Deus e a mensagem de Deus.

2) Dons que manifestam o saber de Deus (1 Coríntios 12.8 - 10)

Estes dons manifestam a multiforme sabedoria de Deus:

a) A palavra da sabedoria (v. 8). É um dom de manifestação da sabedoria sobrenatural, pelo Espírito Santo. É um dom altamente necessário no governo da igreja, pastoreio, administração, liderança, direção de qualquer encargo na igreja e nas suas instituições.

b) A palavra da ciência (v. 8). “Ciência” equivale, aqui, a conhecimento. É um dom de manifestação de conhecimento sobrenatural pelo Espírito Santo; de fatos, de causas, de ensinamentos, de ensinadores etc.

c) O dom de discernir os espíritos (v. 10). No original, os dois termos que designam este dom estão no plural. É um dom de conhecimento e de revelação sobrenaturais pelo Espírito Santo. É um dom de proteção divina para não sermos enganados e prejudicados por Satanás e seus demônios, e também pelos homens. Uma das principais atividades de Satanás é enganar (Apocalipse 12.9; 20.8,10; 1 Timóteo 4.1). Os homens também enganam (Efésios 4.14; 1 João 2.26; 2 João v. 7). Líderes em geral – inclusive de música –, pastores, evangelistas, mestres, precisam muito deste dom para não serem enganados.

3) Dons que manifestam o poder de Deus (1 Coríntios 12.9,10).

Estes dons manifestam a poder dinâmico de Deus:

a) A fé (v. 9). É um dom de manifestação de poder sobrenatural pelo Espírito Santo. Superação e eliminação de obstáculos, sejam quais forem, e de impedimentos; liberação do poder de Deus; intercessão. Não se trata aqui da fé no seu sentido salvífico (Efésios 2.8); ou fé como fruto do Espírito (Gálatas 5.22); ou fé significando o corpo de doutrinas bíblicas (Colossenses 1.23); ou fé como o aspecto puramente espiritual da vida cristã (2 Coríntios 13.5). Trata - se da fé chamada “fé especial”, “fé miraculosa”. Este dom opera também em conjunto com vários outros dons.

b) Os dons de curar. Ou “dons de curas”, literalmente (v. 9). Isto é, este dom é multiforme na sua constituição e na sua operação. E uma sublime mensagem para os enfermos, não importando a sua doença. São dons de manifestação de poder sobrenatural pelo Espírito Santo para a cura das doenças e enfermidades do corpo, da alma e do espírito, para crentes e descrentes. Esses “dons de curas” operam de várias maneiras: através da Palavra; através de outro dom; uma palavra de ordem; um olhar; mãos, etc. Os dons de curas abrangem o ser humano em sua totalidade; já o dom da fé, além do ser humano, abrange tudo mais, conforme os planos e propósitos de Deus.

c) A operação de maravilhas (v. 10). No original, os dois termos que designam este dom estão no plural: “operações de maravilhas”. São operações de milagres extraordinários, surpreendentes, pasmosos; prodígios espantosos pelo poder de Deus, para despertar e converter incrédulos, céticos, oponentes, crentes duvidosos. Leia João 6; Atos 8.6,13; 19.11; e Josué 10.12-14.

4) Dons que manifestam a mensagem de Deus (1 Coríntios 12.10)

Estes dons manifestam a mensagem da parte de Deus, poderosa, vivificante, criativa, edificante e consoladora (É em torno desses três últimos dons que ocorre mais falta de disciplina e de ordem nas igrejas, como também ocorreu em Corinto):

a) A profecia (v. 10). É um dom de manifestação sobrenatural de mensagem verbal pelo Espírito, para “edificação, exortação e consolação” do povo de Deus (1 Coríntios 14.3). É um dom necessário a todos os que ministram a Palavra; que trabalham com a Palavra (Lucas 1.2b; 1 Timóteo 5.7). O grau da profecia na igreja hoje não é o mesmo da “profecia da Escritura” (2 Pedro 1.20), que é infalível – a profecia da Bíblia.

A profecia na igreja deve ser julgada, pois o seu grau não é o mesmo do das profecias do texto bíblico. De fato, a Bíblia declara: “Em parte profetizamos” (1 Coríntios 13.9). A profecia da igreja está sujeita a falhas por parte do profeta; daí a recomendação bíblica de 1 Coríntios 14.29: “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem”.

 Por que a profecia é denominada o principal dom, conforme 1 Coríntios 13.2 e 14.1,5,39? Porque a profecia edifica a igreja como um corpo, e não apenas como indivíduos. Também porque a profecia é um meio de expressão de muitos dons (1 Timóteo 4.14a). A maior parte do tempo do culto deve ser para a ministração da Palavra de Deus, e não para a profecia, conquanto esta seja tão importante (1 Coríntios 14.29).

b) A variedade de línguas (v. 10). É um dom de expressão plural, como indica o seu título. É um milagre linguístico sobrenatural. Nem todos os crentes batizados com o Espírito Santo recebem este dom (1 Coríntios 12.30). Já as línguas como evidência física inicial do batismo, todos os batizados no Espírito Santo as falam.

As mensagens em línguas mediante este dom devem ser interpretadas para que a igreja receba edificação (1 Coríntios 14.5,27). O crente portador desse dom, ao falar em línguas perante a congregação, não havendo intérprete por Deus suscitado, deve este crente falar somente “consigo e com Deus” (1 Coríntios 14.4,28), isto é, falar em silêncio.

c) A interpretação das línguas (v. 10). É um dom de manifestação de mensagem verbal, sobrenatural, pelo Espírito Santo. Não se trata de “tradução de línguas”, mas de “interpretação de línguas”.

Tradução tem a ver com palavras em si; interpretação tem a ver com mensagem. As línguas estranhas como dom espiritual, quando interpretadas, assemelham-se ao dom de profecia, mas não são a mesma coisa. O dom de interpretação é um dom em si mesmo, e não uma duplicação do dom de profecia (1 Coríntios 12.10,30; 14.5,13,26-28).

5) Dons de ministérios práticos

São administrações de serviços práticos, individuais e em grupo (Romanos 12.6-8; 1 Coríntios 12.28-30). Nestas passagens, eles aparecem juntamente com os demais dons espirituais, e sob o mesmo título original charismata – “dons da graça”. São dons de ministração residentes no portador, pela natureza de sua finalidade junto às pessoas ou grupos: assistência, serviço, socorro, auxílio, amparo, provisão. São dons residentes nos seus portadores, pela natureza e objetivos de sua ação.

Estes dons têm sido pouco estudados na igreja. Daí os equívocos e dúvidas existentes. São da mesma natureza espiritual e sobrenatural dos demais dons da graça de Deus. A Bíblia os coloca em conjunto com os demais dons (1 Coríntios 12.28). Ela usa para esses dons o mesmo termo original empregado para os dons de 1 Coríntios 12.4-10: charismata (Romanos 12.6-8).

a) Ministério (Romanos 12.7). Ministração, servir, prestar serviço material e espiritual, sem primeiramente esperar recompensa, reconhecimento, retribuição, remuneração, com motivação e capacitação mediante este dom. É servir capacitado sobrenaturalmente pelo Espírito.

b) Ensinar (Romanos 12.7). Ensinar no sentido didático, como deixa claro o original. É o dom espiritual de ensinar, tanto na teoria, como na prática; ensinar fazendo; ensinar a fazer; ensinar a entender; treinar outros. Educar no sentido técnico desta palavra. Não confundir com o ministério do ensino, que tem a ver com ministros do evangelho, segundo Efésios4.11 e Atos 13.1 (“profetas e mestres”).

c) Exortar (Romanos 12.8). Exortar, aqui, é como dom: ajudar, assistir, encorajar, animar, consolar, unir pessoas separadas, admoestar.

d) Repartir (Romanos 12.8). O sentido no original é dar generosamente, doar, oferecer, distribuir aos necessitados sem primeiramente esperar recompensa ou reconhecimento, movido pelo Espírito Santo. Este dom ocupa-se da benevolência, beneficência, humanitarismo, filantropia, altruísmo.

 e) Presidir (Romanos 12.8). É conduzir, dirigir, organizar, liderar, governar, orientar com segurança, conhecimento, sabedoria e discernimento espiritual. Isso em se tratando de igreja, congregação, instituição etc. Para alguém presidir desta maneira, só mesmo tendo de Deus este dom! A tendência natural de quem lidera e preside é ser duro, dominar pela força, ser insensível.

f) Exercitar misericórdia (Romanos 12.8). Este dom refere-se à assistência aos sofredores, necessitados, carentes; fracos, enfermos, presos, visitação, compaixão.

g) Socorros (1 Coríntios 12.28). Literalmente “achegar-se para socorrer”. É o caso de enfermos, exaustos, famintos, órfãos, viúvas etc.

h) Governos (1 Coríntios 12.28). É um dom plural no seu exercício. É dirigir, guiar e conduzir com segurança e destreza. O termo original sugere pilotar uma embarcação com segurança, destreza e responsabilidade.

6) Dons na área do ministério

 Estes dons são enumerados em Efésios 4.11 e 1 Coríntios 12.28, 29, a saber: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores, doutores ou mestres.

Alvos e resultados

De acordo com 1 Coríntios 12.7, “a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil”. Vejamos quais são os alvos e resultados dos dons espirituais:

1) A glorificação do Senhor Jesus em escala muito além da natural e humana (João 16.14).

2) A confirmação da Palavra de Deus anunciada, pregada e ensinada (Marcos 16.17-20 e Hebreus 2.3,4).

3) O crescimento constante e real, em quantidade e qualidade, da obra de Deus na igreja, na evangelização e nas missões (Atos 6.7; 19.20; 9.31; Romanos 15.19).

4) A “edificação” espiritual da igreja de Deus como um corpo e como membros individualmente (1 Coríntios 12.12-27). Jesus afirmou: “Eu edificarei a minha igreja” (Marcos 16.18), mas na ocasião Ele não disse como ia edificar. Mas em Atos e nas Epístolas vemos que é em parte através desses dons divinos de que estamos a tratar.

5) O aperfeiçoamento dos santos (Efésios 4.11,12). Isso jamais é possível por parte do homem, ou das coisas desta vida, mas é possível para Deus (Lucas 18.27).

O exercício dos dons

Toda energia e poder sem controle é desastroso. Estudando 1 Coríntios 14.26,32,33 e 40, vemos que Deus nos concede dons, mas não é responsável pelo mau uso deles, por desobediência do portador à doutrina bíblica, ou por ignorância desta. A eletricidade quando domada nas subestações, torna-se apropriada ao consumo doméstico, mas nas linhas de alta tensão é letal e destruidora. Também não adianta ter um bom freio no carro sem o seu potente motor, como muitos fazem nas igrejas mornas, frias e secas. Elas têm freio e direção no “carro”, porém falta-lhes o ativo e poderoso motor.

O uso dos dons na igreja deve ser regulado e equilibrado pela Palavra de Deus, corretamente entendida, interpretada e aplicada. A Palavra e o Espírito interpenetram-se e combinam-se em sua operação conjunta na igreja. A Palavra é a espada do Espírito, e o Espírito interpreta e emprega a Palavra.

Na igreja, a predominância da doutrina do Senhor corrige erros, evita confusão e repara estragos. Ela, quando ensinada e aplicada, neutraliza o fanatismo, que é zelo religioso sem entendimento – são exageros, práticas antibíblicas, emocionalismo, gritaria e outros desmandos. Por sua vez, quando o Espírito predomina, neutraliza o formalismo, que é excesso de regras, regulamentos, legalismo, rotina religiosa, formalidades secas e enjoativas, mornidão, fórmulas, ritos e coisas assim.

Quem recebe os dons de Deus, a primeira coisa a fazer é procurar conhecer o que a Palavra ensina sobre o exercício deles. Em Corinto havia abuso dos dons, enquanto em Tessalônica havia carência deles, por tanto refreio. É de pasmar em nossas igrejas a carência da doutrina bíblica sobre essas manifestações do Espírito – os dons espirituais.

O resultado disso aí está em muitos lugares: fanatismo, práticas antibíblicas, meninices, confusão, escândalo e desonra para o evangelho que pregamos.

No exercício dos dons e de outras manifestações do Espírito Santo, ninguém que aja desordenadamente e cause confusão, venha a dizer que está agindo assim por direção do Espírito Santo. Ele não é o autor de tais coisas!

Finalmente, é preciso haver responsabilidade quanto aos dons:

1) Conhecer os dons. “Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes” (1 Coríntios 12.1).

2) Buscar os dons. “Procurai com zelo os melhores dons” (1 Coríntios 12.31)

3) Zelar pelos dons. “Procurai com zelo os dos espirituais” (1 Coríntios 14.1).

4) Ser abundante nos dons. “Procurai sobejar neles, para a edificação da igreja” (1 Coríntios 14.12).

5) Ter autodisciplina nos dons. “E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas” (1 Coríntios 14.32) .

6) Ter decência e ordem no exercício dos dons. “Mas faça-se tudo decentemente e com ordem” (1 Coríntios 14.40).

Portanto, poder, sinais, curas, libertação e maravilhas devem caracterizar um genuíno avivamento pleno de renovação espiritual e pentecostal. No entanto, deve ser livre de escândalos, engano, falsificação, mas dentro da decência e da ordem que a Palavra de Deus preceitua (1 Coríntios 14.26 - 40).

por Antonio Gilberto

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