“E teceu, depois destas coisas, que a mulher de seu senhor pôs os olhos em José e disse: Deita-te comigo. Porém, ele recusou e disse à mulher do seu senhor: Eis que o meu senhor não sabe do que há em casa comigo e entregou em minha mão tudo o que tem. Ninguém há maior do que eu nesta casa, e nenhuma coisa me vedou, senão a ti, porquanto tu és sua mulher; como, pois, faria eu este tamanho mal e pecaria contra Deus?” (Gênesis 39.7-9).
A história de José já é por si só um grande exemplo para os
nossos dias. Sua trajetória, bem como as intempéries que vivenciou ao longo de
sua vida são a prova cabal de que todos nós estamos sujeitos a passar por
momentos difíceis, mas também, se permanecermos fiéis a Deus, desfrutaremos de
um relacionamento saudável com o Criador.
Algumas peculiaridades merecem nossa atenção na vida de
José. Uma delas é o exemplo de fidelidade a Deus em meio à sedução e tentação
da mulher de Potifar. Nesse evento a Bíblia já deixa muito claro a formosura de
aparência de José (Gênesis 39.6), o que já lhe fazia despertar a atenção das
mulheres. Notavelmente, a mulher de seu senhor, por vezes, vinha em busca de
uma oportunidade para persuadi-lo, mas sem nenhum sucesso. Entretanto,
frustrada por não conseguir seu intento, arquiteta um plano para denegrir a
imagem de José perante Potifar. Em vista das tentativas, observa-se um extremo:
“Ela lhe pegou pela sua veste, dizendo deita-te comigo. E ele deixou a sua
veste na mão dela, e fugiu” (Gênesis 39.12).
No decorrer desses acontecimentos, observam-se alguns pontos
que antecedem a tentativa fracassada da mulher de Potifar. Assim que ela vê a
José, a mesma intenciona em seu coração em deitar-se com ele. Uma obsessão é
claramente vista por parte da mulher de Potifar. José poderia ter cedido aos
encantos da sedutora, todavia diante da possibilidade de um caso amoroso
ilícito, José decide fugir. Potifar tinha um casamento malsucedido e José já
havia notado a fragilidade do relacionamento de seu senhor; o mesmo tinha uma
esposa que poderia facilmente traí-lo. Talvez outra pessoa no lugar de José
veria essa situação como uma oportunidade de entretenimento, já que toda a casa
já estava sob sua responsabilidade. Ele tinha uma vida boa podendo desfrutar
das regalias na casa de Potifar. Por que não aproveitar e ter um caso amoroso
com a esposa dele?
Aqui está nossa indagação, por que José simplesmente não
satisfez a vontade de sua senhora? Nada o impedia. Por que ele fugiu? A
resposta a essa questão nos apresenta o perfil de um homem de Deus.
Convenhamos, muitos estão longe de serem atacados, e já estão cedendo às
seduções; outros, não esperam serem seduzidos, eles (as) próprios (as) estão
fazendo o papel da mulher de Potifar. A falta de muitos com o perfil de José
tem levado a traição e posteriormente o fracasso na vida conjugal.
Antes de darmos início a resposta célebre da indagação
principal aqui apontada, vamos entender o poder destruidor de uma traição
sexual no relacionamento. O escritor Chapman, diante de sua vasta experiência
em aconselhamento para casais, descreve com precisão os sentimentos de uma
pessoa traída: “Logo após a revelação de Joana, as emoções mais intensas de
Rafhael foram a dor e o desapontamento. Chorou por trinta minutos seguidos ,
tão logo ela terminou de lhe revelar a traição. Ele não disse nada: estava tomado
pelo dor. Então, houve o surto de raiva, primeiramente direcionado ao outro
homem e, depois, a ela. Logo, seguiu-se a depressão, aquele senso de desespero,
a sensação de que nada poderia ser feito para reparar o dano, que seu casamento
se perdera para sempre”. Nessa história, embora verdadeira, os nomes são
alterados no livro pelo autor.
Além desses sentimentos tão esmagadores, a infidelidade
ainda traz consigo uma vasta onda de destruição. Como visto, o íntimo é
devastado pela confiança que outrora existia, a família é profundamente afetada
pela decepção, a sociedade passa a enxergar com olhos de desprezo, e, acima de
tudo, a santidade de Deus é ferida. Diante dessas consequências, a infidelidade
é, sem dúvida, uma arma de destruição.
É bem verdade que muitas repostas são dadas após o ato de
traição ser consumado, talvez na tentativa de amenizar a culpa. Se
perguntássemos para alguém: por que você não optou em fugir ao invés de ceder?
Provavelmente a resposta estaria relacionada a frustrações dentro do casamento.
Mas, José não era casado e ainda assim não cedeu à tentação.
Então, por mais que o matrimônio não esteja tão bem, nunca
haverá razões para justificar tamanho ato de infidelidade.
Voltando para a história de José, encontramos as razões
pelas quais existem tantos casos de traição. As atitudes do nobre servo na casa
de Potifar apontam exatamente as atitudes opostas de muitos diante das
investidas do inimigo. Vejamos o que o servo de Deus fez.
A recusa ao pecado mediante o temor a Deus
“Porém ele recusou” (v. 8). “A ideia básica dessa
palavra é uma recusa ou rejeição a uma oferta”. Quando o assunto diz respeito
ao mesmo tipo de oferta feita a José, a recusa só é possível por alguém que
esteja cheio do Espírito Santo. Não há outra forma de rejeitar ao pecado a não
ser por meio da presença de Deus. Se José estivesse desprovido de um
relacionamento próximo com Deus, certamente não teria forças para recusar o
convite da mulher de Potifar. Um dos problemas atuais no meio do povo de Deus é
justamente a ausência de um relacionamento com o Senhor, pois estamos tão
envolvidos com as coisas do mundo que sequer temos forças para recusar suas
ofertas.
Noutras palavras, José recusou deita-se com a mulher não
apenas pelo fato de trair a Potifar, mas, antes de tudo, pelo relacionamento
que tinha com Deus, o que ele deixa claro quando diz: “como, pois, faria eu
este tamanho mal e pecaria contra Deus?” (v. 9). O caráter de José
não lhe permitiu desonrar a Deus e, muito menos, trair a confiança de seu
senhor a quem servia como mordomo.
A falta desse temor a Deus tem sido a oportunidade para o
Inimigo trabalhar em destruir os lares. Nas palavras de John MacArthur, para
José o adultério “seria uma grave violação das suas convicções éticas, as quais
exigiam: 1) total respeito pela esposa de seu senhor, e 2) uma vida santificada
diante de seu Deus”.
Esse temor a Deus, que é muito bem descrito pelo dicionário
Wiclyffe como “um temor santo [...] significa ter grande temor ou respeito pela
majestade e santidade de Deus, uma reverência piedosa. Esse temor é dado por
Deus, e permite que o homem respeite a autoridade de Deus, obedeça aos seus
mandamentos e se desvie do mal”. Repare que o texto bíblico faz menção de não
“pecar contra Deus”. É exatamente desse temor que precisamos na vida de tantos
homens e mulheres que estão cedendo às tentações. É exatamente essa virtude que
nos possibilita dizer não ao pecado.
Como bem explicou Jesus: “a candeia do corpo são os olhos;
de sorte que, se os olhos forem bons, todo o seu corpo terá luz. Se, porém, os
teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso” (Mateus 6.22, 23).
Correlacionando esse ensino de Cristo, há muitos se detendo em programações,
entretenimentos perigosos, seja em bate papos no WhatsApp, canais ilícitos no
Youtube ou mesmo conversas impróprias através de tantos canais da mídia atual.
Se nossos olhos estiverem constantemente em contato com esses entretenimentos
virtuais, não demorará muito a oportunidade de infidelidade chegar e ser
aceita. Dizer “não” é preciso diante do pecado, assim como disse José, também
precisamos dizer perante as tentações.
José tinha moralidade
“Como, pois, faria eu este tamanho mal” (v. 9). O caráter moral de José era outro fator
preponderante para fuga da tentação. O servo sabia que deveria respeito à
Potifar, a sua consciência o alertava que fazer aquilo era um mal muito grande
contra o seu senhor. O único capaz de resgatar o caráter moral do ser humano é
a preciosa graça de Deus. Se porventura você que está lendo este artigo cedeu à
tentação, saiba que Deus pode restaurar sua moralidade. O Inimigo pode até ter
manchado sua imagem, porém o Senhor tem recursos suficientes para restaurar o
caráter decaído.
José não deu ouvidos à voz da tentação
“... falando ela cada dia José, e não lhe dando ele
ouvidos...” (v. 10). Não sabemos quantas vezes a mulher de Potifar tentou
seduzir a José, porém em todas elas o servo manteve-se firme em sua decisão.
Não dar ouvidos ou atenção ao convite à infidelidade é crucial. Se na primeira
tentativa da mulher, José tivesse demonstrado algum interesse, ele teria sido
seduzido. Infelizmente, alguns pensam que uma simples “cantada” não tem nenhuma
maldade e levados pelos elogios acabam cedendo às seduções e, é exatamente aí
em que consiste o problema. Perceba que o texto em apreço apenas ressalta que a
infidelidade não acontece do dia para noite, ela é planejada, ou seja, antes
mesmo de se concretizar, muitos sinais de infidelidade já aconteceram. Por
isso, saber dizer não desde a primeira tentativa é primordial. Não pense que
uma simples conversar não pode chegar ao ato de traição, pensar dessa maneira é
um engano. Faça como José, não dê ouvidos à voz da tentação.
Referências
BÍBLIA. Bíblia de Estudo Palavras Chave. Almeida
Revista e Corrigida, 4ª edição. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2011.
BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo MacArthur.
Almeida Revista e Atualizada. Barueri, SP: SBB, 2010.
CHAPMAN, Gary. Castelo de cartas: dez comportamentos que
destroem os melhores casamentos. São Paulo, SP: Mundo Cristão, 2009.
PFEIFFER, Charles F.; VOOS, Howard F.; REA, John. Dicionário
Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2015.
por Auricléssio da Silva Lima
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