Desde a sua criação a Escola Bíblica Dominical continua sendo uma ferramenta eficaz na restauração de vidas através do ensino da Palavra de Deus
A obra de transformação espiritual plena e completa na vida do pecador é operada a partir do cumprimento das duas grandes ordenanças que Jesus deixou para a Sua Igreja: a pregação e o ensino. Uma complementa a outra. O mesmo Cristo que ordenou “Ide e pregai” é o Cristo que exortou “Ide e ensinai”. E por quê? Qual é a interrelação existente entre elas?
A fé subjetiva na dimensão do sentimento, uma vez provocada
pela pregação do evangelho, tem o poder de transformar a natureza do pecador,
quando ele crê na obra expiatória de Cristo no Calvário. Ela é plenamente
eficaz para torná-lo uma nova criatura. Um novo nascimento – do alto – provê
uma nova natureza. É uma obra instantânea, com resultado imediato (2 Coríntios
5.17). A transformação do seu caráter, entretanto, somente é alcançada de forma
completa por meio da fé objetiva, na dimensão da sua obediência (resposta) aos
ensinamentos da Bíblia, como regra de fé e prática cristã. Também é uma obra
operada pela instrumentalidade do Espírito. Mas é uma obra paulatina,
progressiva, cumulativa, constatada de modo perceptível na mudança do seu
comportamento, ações e atitudes. Em outras palavras, uma vida transformada,
cujo testemunho se torna uma carta conhecida e lida por todos os homens (2 Coríntios
3.2,3). Em suma, do mesmo modo como a fé no nosso coração testifica para Deus
que somos seus filhos, o nosso testemunho testifica para o mundo (Mateus
5.14-16). A verdadeira transformação deve ser no interior e no exterior da vida
do crente.
A comissão para pregar o evangelho encontra-se em Marcos
16.15, enquanto que a comissão para ensinar todas as coisas que Jesus havia
mandado encontra-se em Mateus 28.19,20. No versículo 20, o verbo “ensinar”
(ARC) corresponde ao vocábulo grego didasko, que denota instruir
doutrinariamente (o termo traduzido como doutrina tem a mesma raiz na língua
original), expondo de modo metódico, desdobrado e sistematizado o ensinamento
proposto pelo mestre. O objetivo é levar o aluno ou discípulo a guardar (obedecer)
o conteúdo ensinado, apresentando resultados práticos do que foi aprendido.
Esse sentido fica muito bem exemplificado nas páginas do
Novo Testamento, quando o apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo,
escreve uma carta a uma comunidade de fé cristã na Ásia Menor. Cônscio de todas
as coisas que por três anos havia ensinado diligentemente aos seus filhos na fé
em Éfeso (Atos 20.31), anos mais tarde, quando escreve a carta, Paulo não deixa
dúvidas do que esperava dos efésios (Efésios 4.20-29). O verbo ensinar no
versículo 21 é o mesmo de Mateus 28.20. “Deixai a mentira e falai a verdade
cada um com o seu próximo” (v. 25); “Aquele que furtava não furte mais” (v.
28); “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe” (v. 29); “Toda amargura, e
ira, e cólera, e gritaria, e blasfêmias, e toda malícia seja tirada de entre
vós” (v. 31).
O processo de crescimento e amadurecimento da vida cristã, e
consequentemente da Igreja, deve estar firmado no ensino das verdades
espirituais das Sagradas Escrituras. Não de modo circunstancial e ocasional,
mas, sim, de forma metódica, didática e sistematizada. O que funcionou e deu
resultado nos dias da Igreja Primitiva continua funcionando e dando resultado
nos dias de hoje: “[Cristo] a quem anunciamos, admoestando a todo homem e
ensinando a todo homem em toda a sabedoria; para que apresentemos todo homem
perfeito em Jesus Cristo” (Colossense 1.28). Mais uma vez, na língua original
do Novo Testamento, o verbo ensinar nesse versículo é o mesmo de Mateus 28.20.
Ainda que não tivesse sido testemunha ocular do ministério
terreno de Jesus, de certa forma era como se Paulo tivesse aprendido
diretamente do seu Senhor (1 Coríntios 15.3-8). A fundamentação de tudo que
Paulo ensinava não estava no seu conhecimento terreno e intelectual, angariado
em muitos anos de estudo acadêmico. Ele alicerçava o seu ensino no que havia
recebido do Senhor, inclusive por revelação (1 Coríntios 11.23; Gálatas 1.12).
Por isso que Paulo dava tanto crédito para o ensino à Igreja baseado no conceito
grego de didasko. Esse ensino somente fazia sentido com a transformação
espiritual plena e completa, na natureza e no caráter daqueles que estão e
permanecem em Cristo.
Seguindo os mesmos preceitos de Mateus 28.20, nos últimos
168 anos, a Escola Dominical tem cumprido com labor e dedicação a missão de
ensinar as Sagradas Escrituras para o povo de Deus, nas igrejas evangélicas
espalhadas de norte a sul do nosso país. É um desafio descomunal, em razão da
extensão continental do território nacional, agravado pelas limitadas condições
socioeconômicas do nosso povo. Mas sempre com o amparo da graça e misericórdia
do Senhor. Até mesmo outras nações que falam português têm sido alcançadas pelo
modelo didasko de ensinar da nossa abençoada EBD.
O ensino deve ser metódico, didático, sistematizado. O seu
livro texto é a Bíblia. O roteiro de estudo é o comentário da revista
trimestral, que alcança e alimenta semanalmente inúmeras vidas famintas pelo
Pão da Vida, desde o novo convertido até o obreiro mais maduro. Todas as faixas
etárias são atendidas, nos mais diversos espaços de ensino-aprendizagem. Sempre
com a mesma proposta: a consolidação da fé cristã no processo contínuo de
transformação espiritual.
Uma Escola Bíblica Dominical forte e prestigiada reverbera
em uma igreja firme e alicerçada espiritualmente. A leitura devocional diária
da Bíblia é indubitavelmente uma bênção para o crente. Mas a Escola Dominical
vai além disso, tendo o professor como aio (pedagogo), conduzindo o aluno na
construção do seu conhecimento bíblico, de forma metódica e regular. O
resultado é a edificação do Corpo de Cristo pelo aperfeiçoamento dos santos,
chegando à unidade da fé (Efésios 4.12,13). Também age de modo preventivo, ao
levantar muros de contenção para proteger a Igreja de ventos de doutrinas,
tanto as falsas quanto as falsificadas (Efésios 4.13; Hebreus 13.9).
Infelizmente, um movimento de enfraquecimento da Escola
Dominical vem ocorrendo nas últimas duas décadas em diversas denominações
evangélicas no Brasil. Abdicar da maior agência de ensino da Bíblia para a
família cristã tem custado um alto e amargo preço para essas igrejas e
ministérios. A programação semanal vespertina outrora dedicada ao estudo da
Palavra de Deus é substituída por liturgias de “adoração” e “ativação
espiritual”. Com isso, o espaço que deveria ser ocupado pela Escola Dominical
termina ficando sob risco de cair nas mãos de “lobos cruéis”, “homens que falam
coisas perversas” (Atos 20.29,30). Alertas bíblicos têm se tornado mais atuais
do que nunca: “enganam o coração dos símplices” (Romanos 16.17,18); “outro
evangelho” (Gálatas 1.8,9); “naufrágio na fé” (1 Timóteo 1.3,4,18-20);
“ensinando o que não convém” (Tito 1.10,11); “falsos doutores” (2 Pedro 2.1);
“engano dos homens abomináveis” (2 Pedro 3.17).
Urge o resgate de princípios e verdades espirituais
inegociáveis para a genuína fé cristã e, para isso, a Escola Dominical,
juntamente com outros trabalhos normativos voltados para o campo do ensino
bíblico, é de inestimável valia. A condição de filho não anula o espaço de
servo (João 1.12; 12.26); o anúncio da graça de Deus não esconde o pecado do
homem (Romanos 5.20,21; 6.23); a porta do aposento que Jesus nos chama para
assentar à mesa é estreita, não é larga (Mateus 7.13,14). A morte de Jesus no
calvário não foi para denunciar a injustiça, a desigualdade, a miséria, a fome
ou qualquer outra mazela social, mas, sim, para pagar a dívida do pecado e
satisfazer a justiça de Deus, o que ninguém mais poderia fazer (Romanos
3.23-26).
Concluindo, a leitura e o estudo da Palavra de Deus
fomentado pela Escola Dominical, contribui decisivamente para um ciclo virtuoso
de transformação espiritual na vida de seus participantes. Quanto mais ler e
estudar a Bíblia, mais vontade de orar, de jejuar, de consagrar corpo, alma e
espirito ao Senhor. Assim foi a oração sacerdotal de Cristo pelos Seus
seguidores: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (João 17.17).
por Gil Monteiro
Compartilhe este artigo. Obrigado.
Postar um comentário
Seu comentário é muito importante