A importância de contextualizar o ensino para adolescente
Atualmente, na maioria das igrejas e independente da denominação, há uma grande preocupação com os adolescentes. Em alguns casos, essa preocupação se transforma em um problema, haja visto a grande evasão adolescente que tem assolado a maioria das igrejas evangélicas. Há ainda casos em que o convívio com os adolescentes transforma-se numa enorme dor de cabeça, quando não deveria. Isto tudo porque os adultos “esquecem-se” que foram adolescentes um dia. É claro que aparentemente, pois não dá para “deletar” uma fase tão importante como essa da mente.
O que acontece que justifique essa “amnésia” é, na verdade,
um misto de defesa com negligência. Defesa, porque nem sempre é fácil conviver
com o desprendimento de um adolescente, e negligência porque, às vezes, as
pessoas simplesmente ignoram as dificuldades vividas nessa fase.
A adolescência é uma fase de transição, grandes perdas e
grandes aquisições. Vejamos: o corpo muda de uma maneira rápida e nem sempre
uniforme. Engorda-se muito ou emagrece-se muito; pernas e braços podem parecer desproporcionais
ao corpo; espinhas surgem numa rapidez espantosa etc.
O adolescente não é mais criança, entretanto, ainda não é
adulto – só que ele é visto e cobrado ora como criança, ora como adulto.
Imagine o conflito interno que se instala!
Erradamente, algumas pessoas chegam a tratar o adolescente
de “aborrecente”. O engraçado e curioso é que, para eles os adultos que o
julgam também são “aborrecentes”. É uma questão de ponto de vista.
A princípio, os adolescentes “levam a fama” de irreverentes,
rebeldes etc. Entretanto, isso não é regra. É claro que existem uns que se
enquadram nessas características, mas não constituem a regra! Afinal de contas,
em uma igreja, onde impera a heterogeneidade, vamos encontrar adolescentes de
todo tipo, bem como jovens, adultos e crianças. Dessa forma, o adolescente não
é, e jamais será “aborrecente”.
Na verdade, ele é alguém ávido de conhecimento e, muitas
vezes, carente de informações. Na mesma proporção que se transformam em “aborrecentes”
quando são vistos com olhos preconceituosos, mostram-se receptivos e
colaboradores quando abordados com compreensão e respeito. Sobretudo, o
adolescente precisa de exemplo e testemunho. E ele precisa ver em nossos atos
aquilo que ensinamos e/ou pregamos.
Necessidade do grupo
Os pais e dirigentes das igrejas devem entender que os “colegas”
não são uma ameaça a sua autoridade ou ainda uma força contrária –
constituem-se em parceiros. É comum o adolescente buscar e procurar contato prioritariamente
com seu grupo de idade. Isso tem que ser respeitado!
Talvez você se pergunte: “E quando o adolescente tem um
ciclo de amizade que não pertence a sua igreja (não evangélico)? Nesse caso,
mais do que nunca, seus pais devem tratar esse ciclo com respeito e, com amor e
sabedoria, apontar o que deve-se buscar num grupo de amizade. Em vez de apontar
os defeitos dos amigos dos “nossos” filhos adolescentes, devemos evidenciar,
sempre que possível, as características biblicamente corretas para um bom
amigo. A seleção, então, acontece naturalmente.
E quanto a Escola Dominical?
Embora pareça “chover no molhado” e extremamente óbvio,
torna-se importante lembrar que a Escola Dominical é a maior escola do mundo.
Existe para ensinar, discipular e transformar vidas. Ela forma cidadãos que
estão na terra e que, em breve, estarão no céu. Só que essas vidas estão em
diferentes faixas etárias e é aí que reside o “ponto x” do binômio
adolescente/ED: não desprezar as características inerentes à faixa etária, bem
como respeitar as diferenças individuais.
Talvez você esteja achando que essas diferenças individuais
não tenham grande relevância, tendo em vista estarmos falando, em última análise,
da obra do Senhor. Certo? Errado! Principalmente por estarmos tratando de uma
Escola Bíblica, é que, necessariamente, temos que levar em conta essas
diferenças. Quanto mais nos preocupamos em melhor alcançar os diferentes tipos
de pessoas, faixas etárias e graus de escolaridade, mais demonstramos a
multiforme e infinita graça de Deus.
Essas diferenças individuais me fazem lembrar das
características de personalidade e temperamento de dois discípulos de Jesus:
Pedro e João.
Enquanto um argumentava com palavras do tipo “filhinhos” (João
2.1), o outro se dispunha a empunhar uma espada e cortar a orelha do seu
oponente (João 18.10). Eram extremamente diferentes e, contudo, ambos serviram a
Jesus.
É claro que não é simples, tampouco fácil, o trabalho com
adolescentes. Contudo, pode ser prazeroso e render muitos frutos, uma vez que o
adolescente de hoje será o adulto de amanhã. Dessa forma, um adolescente estimulado
para os ensinos bíblicos e engajado na obra do Senhor será um bom obreiro no
futuro.
Na minha opinião, Pedro tipifica o comportamento puramente
adolescente. Se “mergulharmos” em sua vida, detectaremos que ele negou Jesus, é
verdade. Mas também observaremos que, após ser “alimentado” pela unção do
Espírito Santo, ele mesmo, que havia negado Jesus, tornou-se o “pregador” do
Pentecostes (Atos 2.1-4 e 14).
Dessa forma, quando conseguimos “alimentar” o adolescente,
ele não vai “seguir de longe” (Lucas 22.54). Ele se transformará numa benção.
Precisamos, então, atrair e preservar a presença dos adolescentes de nossas
igrejas para a Escola Dominical. Se conseguirmos isso, sua presença nos cultos
e participação nos demais eventos da igreja serão uma consequência.
Como atrair o adolescente para a Escola Dominical?
Tornando esta escola aplicadora de um ensino atraente,
dinâmico e significativo. Vejamos:
a) Respeitar suas características, peculiares à idade. Já
falamos da importância do grupo nessa idade. E preciso respeitar isso.
b) Respeitar sua individualidade. Precisamos entender que,
assim como todo e qualquer ser humano é único, singular, cada adolescente
também o é. Dessa forma, não podemos desprezar o fato de que, assim como
encontramos adolescentes extrovertidos, também encontramos aqueles
introvertidos e tímidos. Precisamos respeitá-los! Essa é uma das razões da
valorização do grupo, que dá a seus integrantes uma nova identidade. Na verdade,
o adolescente “escolhe” seu grupo por uma questão de identificação.
c) Oferecer um ensino de qualidade. É claro que o conteúdo da Escola Dominical é o melhor que pode haver, pois trata-se da Palavra de Deus (o maior, melhor e mais completo livro). Todavia, didaticamente falando, precisamos nos preocupar com a forma, a maneira como esse conteúdo vai ser transmitido. Quando falo de ensino de qualidade, refiro-me:
• Ao uso de métodos e técnicas de ensino apropriado e correto;
• Uso de recursos instrucionais, como vídeo, retroprojetor, cartazes, gravuras etc.;
• Instalações físicas adequadas: o adolescente se dispersa com muita facilidade. Dessa forma, suas salas devem ser, preferencialmente, amplas e arejadas; as janelas ou portas, caso lhes dê uma visão do ambiente externo, devem ser mantidas fechadas.
Não adianta palestrar-se uma hora sobre determinado assunto
se a classe não consegue se identificar com os tópicos abordados. Estamos
falando, na verdade, da necessidade quase que prioritária, essencial e
fundamental de estabelecer-se sempre uma “ponte”, um ponto de contato entre o
assunto tratado e a realidade do aluno. Isso pode ser alcançado, por exemplo,
através de notícias de jornais, gravuras, desenhos, encenações e até mesmo um
objeto.
Digamos que a lição aborde o tema Comunhão.
Poderíamos lançar mão de um aparelho telefônico, por exemplo, a fim de
demonstrar a necessidade de estabelecer-se uma conexão telefônica para nos
comunicarmos com outra pessoa. Paralelamente, chamaríamos atenção para o fato
de que, como cristãos, temos necessidade de manter contato constante com o
Senhor (seja para pedir bênçãos, agradecer ou ainda para buscar a sua vontade e
orientação).
Chamaríamos a atenção para o fato de que, para nos
comunicarmos com Deus, a “conexão” de que o crente precisa é a comunhão com
Cristo e a Palavra de Deus. Pronto! Está estabelecido o “gancho” para
introduzir-se a aula.
Uma vez feita a introdução, facilmente a classe estará
interessada em ouvir o desenvolvimento da aula. Depois de abordada a
necessidade da “conexão comunhão”, o professor pode aproveitar para prosseguir
abordando os passos para uma comunhão com Cristo; pode, ainda, enfocar o que
nos afasta ou nos priva da comunhão com o Senhor. E por aí vai...
Outro exemplo: a lição aborda o tema Missões. Que tal
um exemplo prático? Podemos partir de situações do cotidiano da classe.
Poderíamos usar a seguinte ilustração: um jovem, depois de doze horas de
trabalho, entrou em um ônibus onde o único lugar disponível para sentar era
aquele situado logo à frente, o qual ostenta o seguinte aviso: “Destinado a
idosos, gestantes e deficientes físicos”. O jovem sentou-se e, finalmente, relaxou.
Alguns pontos a diante, o ônibus parou e entrou um cego. Todos esperavam que o
jovem cedesse seu lugar para o cego, mas ele estava cansado demais e,
simplesmente, fingiu que estava dormindo.
O professor, então, depois da exposição dessa situação,
poderia concluir enfatizando que milhares de pessoas estão indo para o inferno,
sem ter ouvido as Boas-Novas da Salvação, porque temos falhado na obra missionária,
no “ide” para o qual Jesus nos comissionou!
Deus tem nos enviado a propagar seu Evangelho e temos “fingido
dormir”. Quantas vezes não renunciamos a um lanche ou de uma roupa nova para
contribuirmos com a obra missionária de nossa igreja! Quantas vezes não vamos
ao “ar livre” porque temos que estudar ou sair com amigos, porque estamos
cansados, ou qualquer outra justificativa! Depois dessa abordagem, com
facilidade o professor pode seguir caracterizando, por exemplo, o “ide”, o
campo missionário (com suas dificuldades e necessidades) etc.
d) Escalar para o trabalho com adolescentes pessoas que
tenham realmente habilidade para isso. Deus separou, na sua igreja, servos para
todo tipo de tarefa. Precisamos, então, buscar o discernimento para termos uma
escolha consonante com a vontade de Deus.
e) Promover, com frequência, competições ou gincanas. O
adolescente tem uma verdadeira atração pela competição. Precisamos “canalizar”
essa atração para a igreja. Por que não oferecer-lhes um espaço para que possam
torcer, cantar, pular etc.? Essa gincana poderia abranger vários momentos, mas
dois seriam imprescindíveis: o primeiro é o que abrange os conhecimentos
bíblicos e o segundo, o que envolve atividades físicas, como corridas, saltos,
entre outras.
f) Organizar, também com uma certa frequência, palestras com
profissionais (que devem ser evangélicos, pois não se pode divorciar essas atividades
da sã doutrina), onde seriam abordados temas como drogas, sexo, namoro, entre
outros assuntos. Todos sob o ponto de vista bíblico. O ideal é que esses temas
fossem “encaixados” de acordo com o assunto abordado no currículo da Escola Dominical.
Assim, o aluno teria um embasamento teórico e depois aplicaria este conhecimento
num momento mais versátil. Na prática, o que estou tentando propor é que esta
programação seja realizada em quatro domingos. O aluno teria três aulas, por
exemplo, na sua classe e uma, que seria a última do mês, em conjunto com as
outras classes, também de adolescentes, onde ocorreria a palestra. Isso, com certeza,
daria mais dinamismo e entusiasmo ao público adolescente.
g) Cada trimestre poderia ter uma culminância traduzida num
debate bíblico, onde seriam enfocados assuntos concernentes aos estudados durante
o trimestre. Mas não só isso. Poderia ser oferecida, a título de incentivo, uma
pontuação atual, pregressa e cumulativa, ou seja, os adolescentes, divididos em
classes, participariam e, é claro, acumulariam pontos mediante o acerto, e
também de acordo com a performance da classe durante todo o trimestre (menor
número de faltas, maior oferta, maior número de visitantes, maior número de Bíblias
e revistas, e por aí vai). Não podemos esquecer que é fundamental não só
estabelecer uma pontuação, mas também oferecer uma premiação.
h) Atribuir tarefas e responsabilidades aos adolescentes, a fim
de firmar com estes um compromisso não só enquanto ouvintes, mas como
realizadores e construtores da Escola Bíblica. Essa distribuição de tarefas e, consequentemente,
essa “divisão” de responsabilidades proporcionaria ao adolescente um maior
envolvimento com a Escola Dominical, acarretando, assim, maior comprometimento
com esta.
Na prática, isso refletiria num entrosamento direto entre a população adolescente da Escola Dominical e as pessoas diretamente ligadas a ela (pastores, dirigentes e professores). É uma responsabilidade bastante oportuna, uma vez que o adolescente, numa escala progressiva, vai passar a estar, cada vez mais, engajado e comprometido com a Escola Dominical. Não só como alguém que vai para assistir, mas como alguém que está cooperando. Trocando em miúdos, seria estabelecida uma parceria: adolescentes/ED/igreja. Entre os inúmeros itens de participação nos quais poderíamos incluir os adolescentes, destacaria, por exemplo:
• Escalar os adolescentes para realizarem o louvor de abertura da Escola Dominical.
• Responsabilizar os próprios adolescentes pela minimização do número de alunos fora de classe, formando uma verdadeira “patrulha” constituída pelos próprios adolescentes.
• Escalar os adolescentes para “assistentes de auditório”, ou seja, a cada domingo haveria um grupo responsável em assessorar os dirigentes da Escola Dominical etc.
i) Conscientizar os pais de que eles devem ter estabelecida
uma constante parceria com a igreja e com a Escola Dominical. A começar pelo
testemunho (ser um aluno da Escola Dominical, assíduo, pontual, dizimista etc.).
A crítica aos adolescentes deve, então, dar lugar ao ensino da Palavra; ensino
esse que deve começar em casa e apenas completado na igreja. Muitas vezes, uma
Escola Bíblica encontra resistências no público infantil e adolescente não por
causa destes, mas devido a negligência de certos pais, que julgam ser a igreja
a responsável pela formação de seu filho. Esquecem-se de que em nenhum lugar da
Bíblia encontramos que devemos criar nossos filhos na igreja. Encontramos, sim,
que devemos criá-los e ensiná-los no temor e na admoestação do Senhor (Provérbios
22.6 e Efésios 6.4).
Em outras palavras, conseguimos oferecer um ensino
contextualizado, atraente e dinâmico ao público adolescente quando conseguimos
oferecer um ensino interativo e participativo. Na verdade, o adolescente
precisa de um ensino que aborde a sua realidade e que, ao mesmo tempo, aponte
as verdades bíblicas.
por Valéria Gonçalves
Compartilhe este artigo. Obrigado.
Postar um comentário
Seu comentário é muito importante