Revertendo o quadro de estagnação e rotina
O que significa potencializar e
dinamizar o ensino? A natureza do ensino não é dinâmica em si mesmo? Haveria
algo a fazer que o tomasse mais interessante?
Tornar o ensino potente e dinâmico significa atribuir a ele força para produzir ou transformar alguma coisa. No âmbito da educação, significa modificar o comportamento na maneira de pensar, sentir e agir.
O ensino deve ser atuante,
vibrante e instigador. Ensinar não significa simplesmente transmitir
conhecimentos, como se a mente do aluno fosse um insignificante receptáculo do
conhecimento alheio ou uma folha em branco, na qual o professor poderia gravar o
que desejasse.
Muitos professores acham que é
dever comunicar o máximo do que eles sabem aos alunos, na forma melhor
estruturada possÃvel, mesmo sem medir ou avaliar o resultado, em termos de
quantidade e qualidade de conteúdo assimilado. Ensinar, entretanto, não é somente
transmitir, não é somente transferir conhecimentos de uma cabeça a outra, não é
somente comunicar. Ensinar é fazer pensar; é ajudar o aluno a criar novos
hábitos de pensamento e de ação. Isso não significa que a exposição da aula não
deva ter estrutura alguma, ou que seja melhor o professor ser um mal
comunicador. Significa, sim, que a estrutura da exposição deve conduzir ao
raciocÃnio e não à absorção passiva de ideias e informações do professor.
O ensino pode ser
potencializado, direcionado e adaptado a qualquer faixa etária. Porém, sua
adequação baseia-se sempre no conhecimento das particularidades de cada fase da
vida humana.
Quem é o adulto?
Quem é o adulto? Quais são suas
necessidades, interesses e expectativas? Essas e tantas outras interrogações
sobre as peculiaridades dos adultos devem ser respondidas e refletidas por
todos quantos se engajam no magistério especÃfico para a denominada “idade
vigorosa”.
Segundo o dicionarista Aurélio
Buarque de Holanda, o termo “adulto” diz respeito ao “indivÃduo que atingiu o
completo desenvolvimento e chegou à idade vigorosa; que atingiu a maioridade”.
No âmbito psicológico, diz-se do “indivÃduo que atingiu plena maturidade,
expressa em termos de adequada integração social e adequado controle das
funções intelectuais e emocionais”.
Além dos aspectos fÃsicos e
psicológicos, podemos também observá-lo pelo prisma social e espiritual. A
maioria dos adultos está estabilizada na área financeira, familiar e social.
Buscam coisas concretas e reais. Suas expectativas estão calcadas e fundamentadas
em aspectos reais da vida. É a época da mais completa manifestação da vida;
tempo de grande produtividade, perÃodo em que se manifesta a maior capacidade
de discernimento; sérias responsabilidades, amizades estáveis, grande ambição e
força de vontade. Também de comodismo espiritual, no sentido de imaginar que já
sabem tudo que diz respeito às coisas espirituais. Como atingi-los com o ensino
bÃblico? Como motivá-los ao estudo da Palavra? Como reverter o quadro de
estagnação e rotina?
Ensino para adultos
Para melhorarmos a qualidade do
ensino ajustado aos adultos, precisamos conhecer suas necessidades,
preferências, expectativas e, principalmente, de que modo se disponibilizam Ã
aprendizagem. Vejamos:
a) O adulto precisa
envolver-se totalmente no processo ensino-aprendizagem
Qualquer tempo gasto sem que o
aluno esteja profundamente envolvido na lição é tempo perdido. O que se pensa,
geralmente, é que somente as classes infantis e de adolescentes necessitam de
elementos incentivadores para captar e cativar a atenção dos alunos para o
estudo. Esse pensamento não traduz a verdade no âmbito da prática docente.
Muitos recursos educativos normalmente aplicados à infância e à adolescência
podem ser potencializados e redimensionados para o ensino de adultos. Temos que
fazer o aluno envolver-se na lição. Torná-los cooperadores engajados na
aprendizagem.
A participação ativa dos alunos
constitui fator essencial à aquisição e principalmente à retenção do conteúdo
da lição. O professor deve “abrir espaço” para seus alunos contarem suas
próprias experiências relacionadas aos aspectos essenciais da lição.
Todo ensino tem de ser ativo e
toda aprendizagem não pode deixar de ser ativa, pois ela somente se efetiva
pelo esforço pessoal do aprendiz, visto que ninguém pode aprender por alguém. O
professor deve solicitar, quer no inÃcio, quer no decurso de qualquer aula, a
opinião, a colaboração, a iniciativa, o trabalho do próprio aluno.
b) O adulto também requer
métodos flexÃveis e variados
Não devemos tornar nossos
métodos tão rÃgidos a ponto de não admitirmos meios de comunicação mais
práticos e flexÃveis. Por exemplo, o método de preleção ou exposição oral,
embora muito criticado, é o preferido, principalmente pelos professores de
adultos. Nesse método, o professor fala o tempo todo e às vezes responde
algumas poucas perguntas.
Dentre as desvantagens do uso
exclusivo desse método, destacam-se duas: primeira, a preleção “centraliza o
ensino na figura do professor, exigindo pouco ou nenhum preparo da lição por
parte dos alunos”. Segunda, esse método “não permite que o professor dê atenção
especial a todos os alunos, obrigando-o, em alguns casos, a nivelar a aula, por
mera suposição” (Como tornar o ensino eficaz, CPAD).
Precisamos diversificar nossos
métodos e adequá-los eficientemente às novas circunstâncias. Ou seja, mudar a
maneira de comunicar uma verdade sem alterá-la. Um dos maiores problemas do
ensino nas Escolas Dominicais atualmente, independente de faixa etária, é a
inadequação dos métodos de ensino. Os métodos, quando são usados, são
escolhidos sem objetivar o aluno e a transformação de sua vida.
O professor deve ser criterioso
ao escolher o método que irá usar em sua classe. Cada situação especÃfica
requer um método apropriado. Devem ser avaliadas todas as vantagens e
desvantagens antes de aplicá-lo. O professor deve adotar outros métodos e técnicas
de ensino atuais tais como debates, discussão em grupo, perguntas e respostas,
dramatizações e tantãs outros dinamizadores do ensino.
c) O adulto também precisa
de novidades
O professor deve cultivar
sempre o senso de “novidade”. Deve criar um ambiente de constante expectativa
do “novo”, do atraente, da curiosidade. O adulto quer livrar-se do tédio e da
monotonia. Ele deseja entrar em atividade e demonstrar que é habilidoso e
criativo.
O conteúdo da revista
(informações e aplicações), por mais enriquecedor e profundo que seja, não é
suficiente, até mesmo em função do pouco espaço para desenvolvê-lo. Os alunos
sempre esperam que o professor transmita à classe informações complementares.
O professor que simplesmente
reproduz enfadonha e rotineiramente o conteúdo da revista, sem empreender o
esforço da pesquisa, está irremediavelmente fadado ao fracasso.
Muitos professores, por não
dominarem o conteúdo, chegam até a ser intransigentes, acolhendo com olhar de
desagrado a mÃnima participação da classe ou interrupção de sua preleção.
Temem, na verdade, que o aluno faça perguntas que não estejam atreladas direta
ou indiretamente às suas ideias preconcebidas ou estruturas mentais arrumadas.
Isto evidencia, indubitavelmente, total despreparo e descuido com o ministério
de ensino. “O professor deve conhecer muito bem o assunto que está ensinando.
Um fraco domÃnio do conteúdo resulta num ensino deficiente” (John Milton
Gregory).
A Palavra de Deus diz que
aqueles que possuem o dom de ensinar devem esmerar-se em fazê-lo: “Se é
ensinar, haja dedicação ao ensino” (Romanos 12.7b).
d) O adulto rejeita a
improvisação
Outra questão relevante no
ensino para adultos é a famigerada comodidade, que gera a improvisação. E de se
admirar o que ouvimos por aà nos “bastidores” da Educação Cristã: “Planejar
aula para adultos? Que nada! É só ler a revista e reproduzir o comentário com
outras palavras”.
O planejamento é imprescindÃvel
em qualquer atividade humana. Que dirá num empreendimento educacional! Pelo
planejamento, o homem evita ser vencido pelas circunstâncias e aprende a
aproveitar as novas oportunidades. Um bom plano de aula promove a eficiência do
ensino, economiza tempo e energia, contribui para a realização dos objetivos
visados e, acima de tudo, evita a corroedora rotina e a improvisação. Todo o
planejamento se concretiza em um programa de ação, que constitui um roteiro
seguro que conduz progressivamente os alunos aos resultados desejados.
Antes de planejar sua aula,
todo professor deveria fazer a si mesmo as seguintes perguntas: Qual a melhor
maneira de introduzir esta aula? Como posso transmitir o conteúdo desta lição
de maneira atraente e interessante? Que tipo de aplicação seria mais eficaz
para essa aula? Como concluir essa lição eficazmente a ponto de suscitar no meu
aluno o desejo de retornar à aula no próximo domingo?
e) O adulto precisa ser
incentivado
Antes de iniciar a lição, o
professor deve propiciar a seus alunos boas razões para continuarem assistindo
suas aulas. Contar antes uma história interessante, uma ilustração curiosa, uma
notÃcia de última hora ou uma experiência vivenciada por ele mesmo constituem
excelentes formas de incentivar o aluno.
Ao escolher o elemento
incentivador, o professor deve sempre levar em conta os interesses reais de
seus alunos. Quais são as coisas que mais lhes interessam? Sobre que gostam de
falar?
Às vezes é bom usar algum
acontecimento do momento como ilustração, e assim relacionar a lição com
eventos e atividades que estejam interessando os alunos na ocasião.
Qualquer que seja essa
incentivação, ela deve conduzir o pensamento, de maneira lógica e fácil, para a
lição propriamente dita, relacionando o assunto a aspectos reais da vida.
O relato de um acontecimento; a
leitura de um texto paralelo da BÃblia; citações de outros comentaristas;
apresentação de uma gravura, objeto etc. Estes são alguns dos variados recursos
de que o professor de adultos pode dispor para vivificar o ensino e a
aprendizagem, mediante sua aproximação com a realidade e com a atualidade.
Na verdade, o professor não
motiva, ele pode apenas incentivar, embora a incentivação só seja eficiente se
repercutir no aluno a ponto de criar ou dinamizar motivos. Ele apenas pode
incentivar a aprendizagem, isto é, fornecer estÃmulos que despertam, no aluno,
um ou vários motivos. Em outras palavras, o aluno pode ficar motivado para o
estudo a partir de incentivos do professor. Exemplo: o professor leva para a
sala de aula recortes de revistas e jornais com notÃcias atuais com o objetivo
de ilustrar ou elucidar um fato histórico da BÃblia.
f) O adulto precisa ser
compreendido, respeitado e valorizado
O professor deve ouvir e
dialogar com seus alunos, levantando as suas necessidades, procurando
atendê-las dentro do possÃvel, dedicando-lhes tempo fora da classe da Escola
Dominical.
Há professores que se colocam
num pedestal, julgando-se donos do saber. Tais professores esquecem que seus
alunos, independente da escolarização, possuem experiências de vida dignas de
serem compartilhadas. O conhecimento que possuem, embora às vezes assistemático,
constitui matéria indispensável para o enriquecimento do conteúdo da aula.
O professor jamais pode
subestimar seus alunos. Deve tratá-los com respeito, valorizando sempre suas
participações e compartilhamento de ideias. Todo professor deve conhecer e
praticar o princÃpio do respeito e igualdade. Quando o aluno percebe que seu professor
o respeita, sente-se aceito e desenvolve um relacionamento de respeito e
admiração com aquele professor. Vendo-se no mesmo nÃvel de igualdade que ele, o
aluno expressa-se com mais facilidade, fica à vontade para expor suas dúvidas,
fazer perguntas e conversar sobre suas ideias. Sente-se valorizado. Ele
acredita que o professor não irá censurá-lo ou constrangê-lo com julgamentos
sobre sua capacidade intelectual, mas irá ajudá-lo a se expressar melhor.
g) O adulto precisa sentir
que faz parte de um grupo
Dentre as muitas funções do
professor, destaca-se a de socializar. Inclusive, a própria educação e o ensino
são fenômenos de interação psicológica e comunicação social. O professor de
temperamento egocêntrico, fechado, incapaz de manter contatos sociais com certo
entusiasmo, não está talhado para as funções do magistério cristão. Essas, além
do “amor paedagogicus” e genuÃna espiritualidade, exigem comunicabilidade,
interesse e dedicação à pessoa dos educandos e aos seus problemas.
Às vezes, imaginamos
tendenciosamente que os alunos da classe de adultos só precisam do conhecimento
bÃblico para o pronto ingresso na obra do Mestre. Olvidamos de suas carências
sociais e afetivas, dificuldades de relacionamento e a necessidade de cultivar
amizades sinceras. Isto é um erro crasso! O professor deve propiciar um clima
de amizade entre os alunos. Não é suficiente o contato que o professor tem com
o aluno durante a aula na Escola Dominical. Ele deve proporcionar um meio
ambiente propÃcio para um inter-relacionamento com outros crentes, onde
compartilhem ideias, verdades aprendidas na Palavra, aspirações e onde haja
compreensão.
Observando as palavras de Paulo
em Efésios 4.3 (“Até que todos cheguemos”), verificamos que o meio ambiente
propÃcio ao crescimento espiritual é encontrado no contexto da comunhão cristã.
h) Lecionar para adultos
pode ser um interessante desafio. Depende do professor
Ao contrário do que se pensa,
lecionar para adultos pode ser um grande desafio. Basta ser criativo, dinâmico
e empreendedor. Um bom professor nunca fica satisfeito com seu trabalho.
Procura sempre melhorar seu desempenho. Vive na busca constante do novo, de
como criar novas expectativas em seus alunos. O ensino dinâmico é aquele que
provoca nos alunos uma sensação de intensa vontade de aprender. Os adultos
precisam saber que são produtivos e podem compartilhar suas ideias e
experiências.
Essas experiências,
consideradas conteúdo dinâmico, podem até influenciar positivamente no
amadurecimento de outras pessoas. Isto porque, geralmente, o adulto aprende
quando suas necessidades são satisfeitas ou quando o objeto de estudo tem
significado pessoal para ele. Caso contrário, se vier a frequentar as aulas,
será simplesmente para cumprir um protocolo eclesiástico. Ou, quem sabe,
arranjar uma boa ocupação para as manhãs de domingo.
Você sente a chamada de Deus
para essa obra? Reconhece a importância de sua tarefa? Esforça-se para seguir o
exemplo de Jesus, o Mestre dos mestres?
Os professores da Escola
Dominical são frequentemente escolhidos pelos lÃderes. Será que são
vocacionados? Os vocacionados têm esmero. “Se é ensinar, haja dedicação ao
ensino” (Romanos 12.7b). O que significa esmero? Esmero significa integralidade
de tempo no ensino – estar com a mente, o coração e a vida nesse trabalho. Ser
professor é diferente de simplesmente ocupar o cargo de professor.
por Marcos Tuler
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