A importância e o propósito dos dons espirituais para a vida da Igreja

A importância e o propósito dos dons espirituais para a vida da Igreja


Para falar sobre os dons espirituais, nosso entrevistado nesta edição da revista Obreiro Aprovado é o pastor Álvaro Alén Sanches, líder da Assembleia de Deus Missão aos Povos (ADMP), em Uberlândia (MG), e que exerce também, desde 1998, a presidência da Convenção dos Ministros das Assembleias de Deus do Triângulo Mineiro (Comadetrim), além de ser 3º secretário da Convenção Geral dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus no Brasil (CGADB). Antes de exercer essas funções, pastor Álvaro administrou várias congregações da ADMP em Uberlândia e nas cidades de Santa Helena e Itumbiara (GO), onde exerceu a presidência. Em 26 de dezembro de 1993, ele assumiu a liderança da Assembleia de Deus em Uberlândia, sucedendo o pastor José Braga da Silva. O pastor Álvaro credita ao Senhor o sucesso de seu ministério no interior mineiro. Graças ao seu esforço em disseminar a Palavra de Deus no Triângulo Mineiro, o ele adquiriu o respeito e a credibilidade de seu corpo ministerial, da membresia e dos demais integrantes da comunidade, inclusive fortalecendo a relação da igreja uberlandense com as autoridades do estado e município. Em sua gestão, pastor Álvaro também tem dado ênfase ao trabalho missionário. Nesta entrevista, o líder assembleiano fala dos dons espirituais e também sobre a importância do batismo no Espírito Santo.

Como o senhor define o propósito e a importância dos dons espirituais para a vida da igreja?

Biblicamente falando, os dons espirituais têm um duplo propósito: a edificação da igreja e a capacitação para que executemos a tarefa específica que Nosso Senhor nos confiou em Sua obra. Os dons são dádivas advindas do Espírito Santo para que sejamos úteis no serviço a Deus. Pedro fala sobre isso em sua primeira carta, no capítulo 4, versículo 10, nos exortando a “administrarmos nossos dons como bons despenseiros da multiforme graça de Deus”. Os dons não são dados para promoção de pessoas. Logo, uma igreja desprovida dos dons espirituais não consegue atingir a sua finalidade, que é a salvação e a edificação de almas, e se comporta como a igreja de Sardes: tem fama de viva, mas está morta (Apocalipse 3.1). Sabemos, sem sombra de dúvida, que precisamos lembrar que os dons são vitalis para cada crente. É preciso termos vestes brancas, mas que também não falte o óleo do Espírito Santo sobre a nossa cabeça (Eclesiastes 9.8).

A que fatores o senhor credita a diminuição da manifestação dos dons espirituais em uma igreja?

Vivemos em um mundo onde centenas de igrejas têm sido vítimas de muitos males, mas diria que os principais são o mundanismo e o materialismo. Em relação a isso, temos um mal que, de forma sorrateira, está vindo para entrar de vez nas igrejas. Falo da inteligência artificial. Hoje é só clicar em uma tecla e a mensagem está pronta. “Sendo assim, para que os dons do Espírito Santo?”, alguns podem pensar. Na Europa, robôs já são consultados em assuntos eclesiásticos, missões, escatologia, e com isso o Espírito Santo e Seus dons ficam em segundo plano. Quando uma igreja perde sua referência de santidade, permitindo que práticas estranhas ao evangelho e à doutrina bíblica entrem em sua membresia, vemos o fracasso espiritual e consequentemente a diminuição dos dons espirituais. Igrejas que têm relativizado o pecado, adotado a famigerada teologia liberal ou mesmo aceitado práticas pecaminosas sob o argumento de serem “inclusivas” estão se esvaziando da presença do Espírito Santo. Já o materialismo tem afetado comunidades inteiras cujo foco é o ganho terreno, uma vida plena nas riquezas da Terra, mesmo que para isso renunciem à pregação do evangelho de Jesus Cristo. Se uma instituição ama o dinheiro e o poder, ela está se adequando à realidade daqui e ficando mais longe da expectativa do Céu. A consequência natural é a extinção dos dons concedidos pelo Espírito Santo.

Muitos teólogos pentecostais frisam que não obstante seja possível um crente manifestar algum dom espiritual sem ser batizado no Espírito Santo, é fato que o batismo no Espírito Santo é a grande porta de entrada para os dons espirituais, pois é através dele que temos um acesso muito maior aos dons do Espírito. Logo, o senhor acredita que, além dos fatores mais comuns para a diminuição dos dons espirituais em uma igreja, uma das possíveis causas para essa diminuição – não a única, mas uma das – possa ser também a falta da busca pelo batismo no Espírito Santo e do entendimento quanto ao seu propósito para a vida do crente?

Com certeza! É importante ressaltar que se nós, como membros do Corpo de Cristo, também não buscarmos os dons, eles naturalmente tendem a diminuir no seio da igreja. Muitas denominações deixaram de buscar o batismo no Espírito Santo, profecias e outros dons e vivem um esfriamento por isso. O apóstolo Paulo deixou registrado em 1 Coríntios 12 que os crentes devem “buscar com zelo os melhores dons”. O Espírito Santo é uma pessoa rica em dádivas, não só em relação aos dons, mais a muitas e muitas outras coisas necessárias para a igreja e o ministério, porém a manifestação de dons sem sermos batizados no Espírito é impossível. O talento pessoal pode ser útil no Reino de Deus quando dinamizado pelo Espírito. Em Êxodo 31.3 e 35.30,35, vemos a demonstração de talentos usados por Deus. Há obras materiais, mas dons são a manifestação direta do Espírito Santo, e para experimentar isso é preciso ser batizado nEle. Hoje, presenciamos grandes eventos, congressos, nos quais se investe muito dinheiro e não há uma busca pelo batismo no Espírito Santo e nem conversão de almas. É claramente uma inversão da finalidade que temos como igreja na Terra. Atos 2 nos revela que os discípulos oraram por muitos dias reunidos no cenáculo até que o Espírito de Deus veio sobre eles. Precisamos aprender essa lição e mantermos incessantemente a busca pelo batismo no Espírito Santo em nosso meio. Os dons são obra do Espírito Santo com manifestação sobrenatural tendo como finalidade o crescimento do Corpo de Cristo.

Em alguns lugares, não se pode dizer que não há a manifestação dos dons do Espírito, mas, por outro lado, às vezes ocorrem muitos excessos, ou seja, “meninices” e até eventuais abusos. Fale sobre a melhor forma de evitar esses problemas em uma igreja sem deixar de manter o cuidado para não apagar a chama do Espírito.

A Bíblia claramente receita o antídoto para não cairmos nessas armadilhas e chama-se discernimento espiritual. Note que quando Paulo exorta a igreja de Corinto, ele deixa bem claro que a igreja deveria buscar os dons espirituais, mas não renunciar um culto ordeiro. A Assembleia de Deus foi fundada em 1911 e tem um lastro relevante como igreja pentecostal. Conhecemos o que é o mover de Deus e, justamente por isso, analisamos todas essas “inovações” à luz da Bíblia. Supostas “unções”, manifestações incomuns de línguas estranhas, cultos que mais se assemelham a cerimônias de religiões afro etc não encontram base bíblica alguma e, portanto, devem ser rejeitados. Como evitar o contágio desse tipo de atitude na igreja? Levando o rebanho de Cristo a estudar a Bíblia, a meditar na Palavra de Deus. Nossa bússola norteadora é a Escritura Sagrada. Por ela nos protegemos daqueles que querem distorcer a obra e o mover do Espírito Santo. Tenho visto que essa modalidade mística, com apresentações musicais com excesso de dança ou com pregadores com gesticulações espalhafatosas pregando nas mídias, não faz parte das igrejas ligadas à Convenção Geral das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus no Brasil (CGADB), porque nossas lideranças se preocupam com a ordem na liturgia, promovem seminários e valorizam a Escola Dominical pensando na geração de obreiros novos e, mais ainda, na apresentação de pastores idôneos, de homens que tenham o dom de discernimento.

Como o senhor descreve o dom de operação de maravilhas, mencionado por Paulo, e a sua importância?

O dom de maravilhas é o mesmo dom de milagres, ou seja, é o presente de Deus que permite que o servo do Senhor seja usado na alteração das leis naturais, fazendo aquilo que, pela capacidade humana, é impossível. Como milagre, ele é aquilo que escapa à ordem natural das coisas, que quebra as leis da ciência. O dom de maravilhas opera intervenções sobrenaturais. Podemos citar tantos exemplos! Os milagres realizados pelos apóstolos, os sinais que Moisés realizou quando estava no Egito e durante a peregrinação pelo deserto, os milagres de Cristo, como a ressurreição de mortos. Tudo isso são manifestações do dom de maravilhas.

Qual a distinção entre o dom de palavra de sabedoria e o dom de palavra de conhecimento? Cite exemplos bíblicos da manifestação deles para aclarar a distinção.

A palavra de sabedoria é uma transmissão do próprio Deus através do homem. Não está ligada à quantidade de conhecimento teológico ou técnico que uma pessoa tem, mas à sua capacidade de receber a sabedoria do Alto para tomar decisões e trazer aconselhamento. Um exemplo clássico que temos na Bíblia é o caso de Salomão. No evento em que ele julgava duas mães que disputavam o filho de uma delas, Salomão age imbuído da sabedoria do próprio Deus. Já a palavra de conhecimento é aquilo que popularmente chamamos de revelação. Quando Deus revela a um de seus servos algo oculto ou um evento futuro por meio de sonhos, visões ou alguma revelação especial, vemos o manifestar da palavra de conhecimento.

Muitas pessoas confundem dons ministeriais com cargos. Gostaria que o senhor fizesse essa distinção e explicasse a finalidade de cada um dos dons ministeriais.

Os dons ministeriais se diferenciam dos outros dons porque esses não são dados a quem pede, mas, sim, a quem Deus escolhe. Não existe hierarquia entre esses dons e eles são dados para o aperfeiçoamento dos santos. A Bíblia cita quais são os dons ministeriais: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e doutores, também chamados de mestres. São atribuições vindas da parte de Deus. Quando Paulo escreve sobre esses dons em Efésios 4.11, repare que ele diz que “Ele mesmo deus uns para apóstolos (...)”, isto é, não foi algo que pedimos, mas foi um ato discricionário de Deus. Já cargos são atribuições que homens recebem para executar atividades técnicas ou de apoio na igreja, sem nenhum vínculo ministerial e obedecem a uma estrutura hierárquica. Podemos citar secretários, tesoureiros, líderes de departamentos, regentes etc. Qualquer pessoa que tenha as características necessárias para o bom desempenho dessas ordenanças pode ser indicada ao cargo. Outra diferença é que os dons ministeriais não deixam o homem porque, sob certa perspectiva, o dom é o homem. A não ser, claro, que ele caia em pecado, afastando-se, assim, do propósito de Deus para a sua vida. Já cargos possuem um tempo de mandato ou execução.

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