Quando os discípulos conviviam com Cristo, tinham a segurança de Sua presença física, de Seu apoio direto e de suas orações poderosas em seu favor. No entanto, quando perceberam que estavam prestes a ver Sua partida de volta aos céus, ficaram um tanto atemorizados. Mesmo depois de terem feito o mais completo e perfeito curso de evangelização e missões aos pés do Mestre Jesus, eles se sentiam inseguros para cumprir o mandato de Cristo.
Mas, Jesus, ao se despedir dos
discípulos, antes de Sua ascensão, lhes determinou que não saíssem a pregar “em
todas as nações” antes do recebimento do indispensável poder do alto: “Eis que
sobre vós envio a promessa de meu Pai: Ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até
que do alto sejais revestidos de poder” (Lucas 24.49). Ainda que estivessem
inseguros, os discípulos poderiam começar sua missão a partir de Jerusalém.
Jesus assegurou que eles seriam batizados com o Espírito Santo: “E, estando com
eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a
promessa do Pai, que (disse ele) de mim ouvistes. Porque, na verdade, João
batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito
depois destes dias” (Atos 1.4-5 – grifo acrescido).
Eles obedeceram a Jesus e se
reuniram no Cenáculo, onde ficaram em orações e súplicas, juntamente com
algumas mulheres seguidoras de Cristo (Atos 1.13,14), até que a “promessa do
Pai” se tornou realidade.
Antes do Pentecostes
O judaísmo e as seitas que
proliferaram no período interbíblico, durante cerca de quatrocentos anos,
levaram o povo de Israel a um estado de letargia espiritual. Os fariseus, os
saduceus, os essênios e outros grupos religiosos daquela época tinham uma mensagem
vazia, às vezes radicalista, cheia de hipocrisia e desfaçatez. Além disso,
grande parte dos líderes desses grupos, com apoio dos sacerdotes judeus,
perseguiam a Igreja nascente. Se esta não tivesse poder e não experimentasse o
avivamento do Espírito Santo, jamais teria sobrevivido.
Jesus trouxe um novo tempo para
o povo de Israel e para o mundo. Infelizmente, a maioria dos homens não
compreendeu a mensagem dEle. Nesse contexto, Jesus determinou que os discípulos
teriam que esperar “a promessa do Pai”, prevista por Joel (Joel 2.28,29), de um
derramamento do seu Espírito “sobre toda carne”, ou seja, sobre toda a
humanidade. Esse avivamento chegou no Dia de Pentecostes, quando o Espírito
Santo desceu sobre os que se achavam no Cenáculo orando a Deus, na expectativa
do que aconteceria à Igreja após a volta de Jesus aos céus.
A descida do Espírito Santo
Se com a presença de Jesus os
discípulos já haviam experimentado as evidências do poder de Deus em suas
vidas, a ponto de verem curas, milagres e prodígios, e os demônios expulsos no
Nome de Jesus, depois do batismo com o Espírito Santo, registrado em Atos 2,
houve uma verdadeira revolução espiritual no meio dos seguidores de Jesus. Na
ocasião, houve sinais sobrenaturais de que o novo tempo havia chegado:
“Cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; e,
de repente, veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu
toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas
repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos
foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme
o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (Atos 2.1-4).
Dali em diante, aquele
movimento espiritual, de dimensão jamais vista, deveria ser a marca
impactante dos que faziam a Igreja de Jesus. No Novo Testamento, não existe
a palavra “avivamento”, mas vemos que, em todos os dias da Igreja Primitiva, o
que identificava os cristãos era um viver fiel, santo e dedicado a Deus, num
clima de avivamento espiritual constante. Nos Atos dos Apóstolos, o avivamento
teve início, mas não parou nos primeiros dias, como entendem irmãos cessacionistas,
ligados principalmente a igrejas reformadas. Pelo contrário, prosseguiu na
Igreja neotestamentária e continua até os dias de hoje, no meio dos crentes que
aceitaram a Cristo como seu Salvador e buscam uma vida de mais íntima comunhão
com Ele. Meditemos nesse importante assunto do avivamento na vida da Igreja.
Os dons do Espírito Santo
são para hoje
1. O engano dos cessacionistas
– Cessacionistas creem e afirmam que o batismo com o Espírito Santo, com sinais
evidentes de línguas estranhas aos que o recebiam, bem como os outros sinais
manifestados a partir do Dia de Pentecostes, foram “apenas para aqueles dias”,
para os dias apostólicos; e seguindo seus teólogos e intérpretes da Bíblia,
acrescentam ainda que o batismo com o Espírito Santo é a própria conversão. De
acordo com a Bíblia, tal afirmação não corresponde à realidade dos fatos
narrados no Novo Testamento.
“Os que se encontravam no
Cenáculo, todos os dias, orando e esperando ‘a promessa do Pai’, não eram
descrentes; muito pelo contrário, eram salvos, fiéis seguidores de Jesus.
Participaram de seu ministério durante cerca de três anos e continuaram crendo,
ensinando seu evangelho, que eram “boas novas” de poder, de unção e evidências
de que o fenômeno do batismo com línguas estranhas não era uma mensagem
qualquer, de natureza religiosa, filosófica ou retórica e passageira. Era, na
verdade, a mensagem de Deus para os judeus, para a Igreja e para o mundo.
Assim, nós, pentecostais, somos continuístas. Aceitamos que o batismo com o
Espírito Santo, com evidência do falar em línguas estranhas, e os dons
espirituais, são para todos os tempos, desde que a Igreja foi inaugurada no Dia
de Pentecostes” (LIMA, 2023, p 52).
2. O Batismo com o Espírito
Santo é para todos os salvos – Os primeiros a receberem essa manifestação
sobrenatural do Espírito Santo, com sinais evidentes, incluindo o falar em
línguas estranhas (para eles, os que falavam), foram os discípulos, que se
reuniam no Cenáculo. Antes dessa experiência, eles foram levados até Betânia,
onde Jesus os abençoou e voltou para o Céu (Lucas 24.50,51); em seguida, depois
da ascensão de Jesus, eles voltaram de Betânia para Jerusalém, os onze
discípulos e também “as mulheres”, os quais foram para o Cenáculo, onde
perseveravam em oração, esperando o cumprimento da “promessa do Pai”: “E,
entrando, subiram ao cenáculo, onde habitavam Pedro e Tiago, João e André,
Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelote, e
Judas, filho de Tiago. Todos estes perseveravam unanimemente em oração e
súplicas, com as mulheres, e Maria, mãe de Jesus, e com seus irmãos” (Atos
1.13,14).
Era grande a expectativa
daqueles irmãos, discípulos de Jesus, sobre o que aconteceria depois da volta
de Jesus aos céus, mas eles se lembravam da promessa que o Senhor lhes fizera,
em suas últimas instruções, antes de ir para o Calvário, quando lhes prometeu o
envio do Consolador. “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador,
para que fique convosco para sempre” (João 14.16). Essa promessa Ele repetiu
nos momentos próximos à Sua ascensão: “E eis que sobre vós envio a promessa de
meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais
revestidos de poder” (Lucas 24.49). Ela foi reiterada em Atos 1.5, explicitando
que essa “promessa do Pai” era o batismo com o Espírito Santo.
Com a descida do Espírito Santo
sobre os discípulos no Cenáculo, em Jerusalém, em Atos 2, houve grande
alvoroço, pois era comemorado o Dia de Pentecostes, a segunda maior festa dos
judeus, depois da Páscoa. Então. Pedro levantou-se e fez um discurso explicando
a todos o que significava aquele movimento espiritual, ou melhor, aquele avivamento
espiritual, dizendo: “Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel: E nos
últimos dias acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito derramarei sobre toda a
carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos jovens
terão visões, e os vossos velhos sonharão sonhos; e também do meu Espírito
derramarei sobre os meus servos e minhas servas, naqueles dias, e profetizarão”
(Atos 2.16-18).
As palavras de Pedro, em seu
discurso inflamado sobre o batismo com o Espírito Santo, causaram grande
avivamento entre os que ali estavam, a ponto de, compungidos, indagarem: “Que
faremos, varões irmãos?". Vejamos a resposta de Pedro, de modo direto,
incisivo e contundente, que não deixa a menor dúvida sobre o significado e o
alcance do batismo com o Espírito Santo, “a promessa do Pai”, “o dom do
Espírito Santo”: “E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja
batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados, e recebereis o dom do
Espírito Santo. Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a
todos os que estão longe: a tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar” (Atos
2.38,39).
Nesse trecho do discurso de
Pedro, ele deixou bem claro que o batismo com o Espírito Santo, com sinais
evidentes do falar línguas, não seria só para aqueles que se encontravam no
Cenáculo no Dia de Pentecostes. Ele declarou com toda a clareza que a promessa
era “para vós”, os judeus a quem ele se dirigia”; “a vossos filhos”, ou seja,
aos descendentes dos judeus convertidos; “e a todos os que estão longe” (os
judeus convertidos e dispersos); e o mais importante: “a tantos quanto Deus,
nosso Senhor, chamar”. Ou seja, é para todos os salvos.
3. A necessidade premente
dos dons nos dias atuais – Deus quer “que, agora, pela igreja, a multiforme
sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus”
(Efésios 3.10). Esta é uma das elevadíssimas missões da igreja nos dias atuais,
como em todos os tempos: além de ser portadora da mensagem de salvação na
Terra, deve ser portadora do conhecimento e da sabedoria divina até mesmo
perante os principados e potestades espirituais. Essa sabedoria é tão profunda
que Paulo teve de exclamar de modo eloquente: “Ó profundidade das riquezas,
tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus
juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!” (Romanos 11.13).
Diante de tão grande sabedoria,
a ser conhecida na esfera celestial e na esfera dos homens, Deus quis propiciar
à igreja o acesso a recursos espirituais, tanto para conhecer a ciência de Deus
quanto para demonstrar o Seu poder no meio dos homens. Se não fossem os dons
espirituais nos dias de hoje, a Igreja seria apenas uma instituição meramente
humana, uma “associação religiosa sem fins econômicos”, por exigência legal.
Assim, Deus capacitou a igreja, como organismo espiritual por excelência, com
características e recursos que transcendem a esfera humana. Diz Paulo, acerca
desses recursos e manifestações espirituais: “Ora, há diversidade de dons, mas
o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo.
E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos” (1
Coríntios 12.4-6). "A ‘multiforme sabedoria de Deus’ nunca poderia ser
demonstrada através de um só dom. A mente humana jamais abarcaria a grandeza e
a profundidade do saber divino. Assim, quis Deus que houvesse uma diversidade
de dons espirituais, para que, de modo equilibrado, os crentes pudessem
compreender e atuar na esfera da vida espiritual” (LIMA, 2014, p. 25).
Dessa forma, Paulo registra que
há nove tipos de dons (não nove dons). Numa igreja bem edificada, os dons são
abundantes. Há palavra de sabedoria, ciência de Deus, existe a fé; há os dons
de curar, que são variados; há operação de maravilhas; há profecia autêntica e
não “profetadas”, porque há “dom de discernir os espíritos”; e também há
línguas e interpretação de línguas (cf. 1 Coríntios 12.7-10).
Horton diz que “o Espírito
Santo quer honrar Jesus, não só chamando-o de Senhor, mas distribuindo uma
‘diversidade’ (diferentes tipos) de dons espirituais (gr. Charismata,
dons da graça livremente dados; cf. charis, ‘graça’). O único Espírito
Santo é a fonte de todos eles”. Esse autor acrescenta que os diversos
ministérios ou serviços (gr. diakoniõn) têm sua fonte no “único Senhor
Jesus e os tipos de operações e atividades (gr. energematõn) vêm do
único Deus, que opera efetivamente em todos eles e em todos os crentes”.
(HORTON, 2003, p. 112).
Os dons espirituais fazem parte
do mais poderoso arsenal à disposição da Igreja nos dias de hoje para
cumprir sua missão, num mundo dominado pela incredulidade e pela oposição
cerrada contra os seguidores de Jesus Cristo. Na realidade, dons, ministérios e
operações (1 Coríntios 12.4-6) formam o arsenal espiritual que equipa a igreja
para o cumprimento de sua missão ante as forças que se opõem a ela. O que seria
da igreja se não houvesse esses recursos sobrenaturais? Certamente, já teria
desaparecido da face da terra há muito tempo. Mas, como Corpo de Cristo, ela é
indestrutível. Perseguida, sofrida, ameaçada, mas vitoriosa! Todos os impérios
que se levantaram contra ela já sucumbiram. E os que ainda existem também hão
de ser aniquilados. “As portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus
16.18).
Negar a atualidade dos dons
espirituais, como consequência natural do batismo com o Espírito Santo é negar
a essência do poder de Deus, prometido por Cristo à Sua Igreja. Após prometer
que Seus seguidores seriam batizados com o Espírito Santo pouco tempo depois,
Ele proclamou de modo eloquente e claro: “Mas recebereis a virtude do Espírito
Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém
como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra” (Atos 1.8). Não há
um só versículo no Novo Testamento que indique ou sugira que os dons
espirituais foram “apenas para os dias apostólicos”. Já pedimos a alguns cessacionistas
que mostrassem uma só referência bíblica sobre essa afirmação equivocada e
nenhum deles nos apontou. Apenas se baseiam nos "evangelhos" segundo
seus teólogos.
A palavra de Deus exorta:
“Assim, também vós, como desejais dons espirituais, procurai sobejar neles,
para a edificação da igreja” (1 Coríntios 14.12). É preciso que os crentes
desejem e procurem os dons espirituais. A maioria não busca. “Portanto, procurai
com zelo os melhores dons; e eu vos mostrarei um caminho ainda mais excelente”
(1 Coríntios 12.31). “Segui o amor, e procurai com zelo os dons espirituais,
mas principalmente o de profetizar” (1 Coríntios 14.1).
À luz da Palavra de Deus, não
há dúvidas de que os dons espirituais, demonstrados no Novo Testamento, são
para os dias de hoje. A ausência de manifestação dos dons espirituais em grande
parte das igrejas, inclusive em igrejas pentecostais, é consequência do
comodismo que tem tomado conta de muitos ministérios pelo Brasil afora.
Pregações modernistas tomam o lugar da mensagem cristocêntrica, na unção do
Espírito Santo. Estamos observando que muitas igrejas pentecostais estão se
“despentecostalizando”. Que Deus nos ajude a entender que sem os dons
espirituais nos dias de hoje, igrejas se tornarão apenas “museus do
pentecostalismo”.
REFERÊNCIAS
HORTON, Stanley M. I e II
Coríntios – os problemas da igreja e suas soluções. Rio de Janeiro, CPAD, 2003.
LIMA, Elinaldo Renovato de.
Dons Espirituais e Ministeriais. Rio de Janeiro, CPAD, 2014.
____________ Aviva a Tua Obra.
Rio de Janeiro, CPAD, 2023.
por Elinaldo Renovato de
Lima
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