O pecado de Jacó foi menos grave que o de Esaú?

O pecado de Jacó foi menos grave que o de Esaú?

O Senhor considerou o fato de Jacó ter enganado seu irmão e mentido para seu pai menos grave que a venda da primogenitura por Esaú?

Embora registre inúmeras histórias, a história central da Bíblia Sagrada é a de Deus, apresentando-se como Criador, Redentor, Soberano na condução da história e Perfeito na execução de Seu plano. Dentre outros propósitos, as histórias bíblicas cumprem o papel de ressaltar a real condição na qual o homem se encontra em decorrência do pecado e o caráter amoroso de Deus em oferecer restauração. Essa realidade é vista em todo o registro bíblico, inclusive na complexa e conturbada relação entre os irmãos Jacó e Esaú.

É verdade que Esaú não deu o devido valor ao seu direito de primogenitura e, no auge de sua fome, o entregou a Jacó (Gênesis 25.29-34); no entanto, é verdade também que Jacó, ao mentir para o seu pai Isaque, usurpou a bênção de seu irmão (Gênesis 27.1-29). Esta intrigante e surpreendente história traz consigo algumas questões inquietantes, que precisam de respostas. A reflexão aqui proposta fundamenta-se em uma dessas questões, sendo ela a seguinte: “Deus considerou o pecado de Jacó menos grave que o de Esaú?”.

A resposta adequada para esta pergunta passa, inevitavelmente, por duas verdades absolutas a respeito do caráter de Deus: i) Deus é justo (Daniel 9.14; Romanos 14.17) Deus não faz acepção de pessoas (Atos 10.34). Diante dessa verdade e objetivando uma resposta objetiva e direta, Deus não tratou o erro de Jacó como tendo sido menor ou menos grave do que o de Esaú, ou seja, ambos erraram e desagradaram a Deus. Evidentemente que essa questão exige uma resposta que ultrapasse o simples “sim ou não”, que requer uma análise mais detalhada e aprofundada, e é o que se propõe abaixo.

O que geralmente inquieta as pessoas a respeito desse assunto é que, mesmo depois de mentir, enganar e usurpar, Jacó desfrutou dos benefícios da promessa e ainda ocupa uma posição de destaque na história, enquanto Esaú sempre esteve às suas margens, ainda que tenha sido abençoado em alguma medida. Com base nisso é que há aqueles que julgam que Deus considerou o pecado de Jacó menor – ou menos grave – que o de Esaú. Entretanto, é preciso destacar que a promessa de Deus ao filho mais novo de Isaque com Rebeca ocorreu antes que o engano ocorresse. Aliás, essa promessa foi feita quando ambos ainda estavam no ventre (Gênesis 25.23). Isso aponta para algumas verdades impressionantes a respeito do caráter de Deus, tais como: a) os planos de Deus se fundamentam em Sua soberana vontade e não nas imperfeições humanas e nem mesmo em suas expectativas; b) a fidelidade de Deus sobrepõe-se à infidelidade humana (2 Timóteo 2.13); c) não há nada capaz de invalidar ou impedir os planos de Deus (Jó 42.2; Isaías 43.13); d) o amor de Deus e os Seus planos não dependem das condições humanas (Romanos 5.6-8; 1 João 4.19).

Além desse aspecto relacionado ao caráter de Deus, a história de Jacó – que não se resume ao episódio mencionado anteriormente – apresenta também o processo a que ele foi submetido como meio de transformação. Esse aspecto da vida de Jacó pode ser dividido da seguinte forma: a) teve de conviver por muito tempo com a angústia de um fugitivo do próprio irmão (Gênesis 27.43-45); b) teve um encontro com o Senhor, reconheceu o seu erro e teve a sua vida transformada (Gênesis 32.22-32).

Sendo assim, não se trata de buscar responder se o pecado de Jacó foi maior ou menor que o de Esaú, mas, sim, de considerar os planos eternos que se firmam em Sua insondável vontade e como cada pessoa lida com as circunstâncias da vida. Conclui-se, portanto, que, mesmo em meio ao caos de uma história maculada pelo erro, a graça de Deus sempre pode florescer, trazendo restauração.

por Elias Torralbo

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