Estabilidade em tempos de transição: Israel sob novo governo

Estabilidade em tempos de transição: Israel sob novo governo

A ascensão da influência de Avi Maoz, representante de uma das alas mais conservadoras de Israel sobre o novo governo, a partir de uma possível – mas quase certa – coalizão, aponta para a guinada no sentido da ultradireita que deve marcar os próximos anos da política israelense. Somente quando Benjamin Netanyahu apresentar ao presidente a proposta final das coalizões assinada, poderá ter fluxo e fim o processo eleitoral. Para emprestar seu nome ao documento, no entanto, Avi requer poder sobre o Ministério de Educação e outras esferas, onde pretende defender ideias tidas como radicais. Basta lembrar que ele é um dos principais opositores ao serviço militar feminino, pois, em sua opinião, se as mulheres querem contribuir para o desenvolvimento do país, em lugar de ingressarem nas IDF (Força de Defesa de Israel) deveriam contrair núpcias, permanecer em casa e cuidar dos filhos gerados. O novo aliado também é um antagonista da causa LGBT. Embora o presente momento, de cunho direitista, possa representar uma boa notícia para judeus messiânicos e para cristãos pelos padrões morais defendidos, guardadas as diferenças de opinião, a guinada desperta dúvidas e inseguranças nos mesmos grupos, pois pode trazer consigo o perigo da intolerância e o recrudescimento das perseguições.

No sentido oposto, os brasileiros também vivem sua transição política. Como política e ideologia são indissociáveis, podemos falar de uma transição ideológica. O processo, no entanto, guarda diferenças fundamentais do israelense. Enquanto nas terras bíblicas a grande maioria está a favor dos novos ventos, no Brasil a população, dividida no pleito, ainda procura dar os passos necessários ao fim do processo eleitoral, tributando respeito e orações – notadamente entre os cristãos – à autoridade estabelecida. A postura de respeito ao processo democrático, antes de ser sinônimo de uma renúncia às posturas ideológicas, implica em maneiras outras e sábias de permanecer pregando e ensinando segundo aquilo que temos aprendido nas Sagradas Escrituras.

As inegáveis expectativas dos últimos meses vêm cobrando faturas custosas, tanto entre os que se decepcionaram quanto entre os que se julgam vencedores, com o triste saldo de amigos, famílias e até mesmo igrejas divididas. Glórias a Deus por aqueles que ainda guardaram a lembrança de serem cidadãos do Reino Celestial, tendo, na sociedade, uma ação responsável, mas provisória, sabendo manter a prioridade da vida espiritual e o equilíbrio quanto às questões políticas! E que o Senhor mesmo estabeleça a calma e reconcilie aqueles que se distanciaram, esquecendo-se do amor mútuo, devido a todos os irmãos. O tempo perdido com as dissenções é um bem precioso demais, um verdadeiro tesouro, apenas devido à obra de pregação da mensagem salvadora a todos os homens, revelando o poder do sangue de Jesus Cristo para redimir e transformar vidas. A lembrança de que a verdadeira mudança não virá da educação ou de ações sociais, por mais relevantes que possam ser, mas de seres humanos nascidos de novo, deve fazer-nos manter o foco na proclamação do Evangelho.

À política sucedeu o esporte, ao esporte sucederão as chamadas festas de final de ano. Com isso, recordo-me de certo homem, com quem tive contato em Israel. Por várias vezes, em lugares distintos, veio ao meu encontro, vestido como um judeu ortodoxo, e perguntou-me as horas: “Ma hashaá?”. Todas as vezes respondi conforme o relógio apontava. Sua presença, no entanto, em situações tão diferentes despertou-me a curiosidade. Na última vez em que nos vimos, precisei satisfazer minha curiosidade: “Afinal, quem é você, e por que me pergunta as horas?” Ao que ele me respondeu: “Não importa, importa é que, cada vez, falta menos tempo”. Com esse sentido de urgência essas palavras são escritas; escritas em oração para que a mesma urgência toque outros corações e sejam lembrados de que pouco tempo resta para realizarmos a tarefa que nos foi confiada. Uma vez perdida a oportunidade, somente o Senhor poderá oferecer Seu consolo.

Duro é dizer, mas, como nação, perdemos uma oportunidade que não sabemos quando ou se retornará. Refiro-me à possibilidade acenada, mas não cumprida, de reconhecermos Jerusalém como capital de Israel. A promessa foi matéria de campanha. Lutas vieram e não foram poucas, é verdade. Mas não há quem, nesse mundo, levante-se a favor de Deus, da Palavra de Deus, do Evangelho, de Israel, do povo judeu, que não sofra perseguições. Há guerras nas quais somente se pode entrar ornado de muita fé, convicção e coragem, pois os opositores levantar-se-ão e será necessário resistir a eles, sabendo que, se a causa é de Deus, Ele mesmo nos defenderá. De outro modo, se a Ele nos for designado morrer, que coisa há, melhor, do que morrer por Ele?

Nos dias que antecederam o estabelecimento do Estado Judeu, o Brasil estava mais atento; Oswaldo Aranha estava atento em conter o clima daquela reunião e não permitir que deixasse de chegar a uma conclusão. O tempo era aquele, a reunião era aquela, o dia não poderia ser substituído – um brasileiro entendeu a ocasião estratégica e, enfrentando opositores (pois sempre há), permaneceu firme. Tristemente, nos nossos dias, perdemos a possibilidade de reconhecermos Jerusalém como capital única, eterna e indivisível de Israel. Não há nada que defenda a ideia de namoro ou noivado, pois a aliança foi prometida e negada, de forma que, hoje, soamos para muitos israelenses como traidores ou covardes. Mas, a quem traímos? Traímos a Cidade Santa, a Cidade do Senhor, o lugar escolhido por Ele para ali estabelecer o Seu trono na Terra, a Cidade do Grande Rei. 

Quem busca em fatores econômicos, ideológicos, sociais, a causa da ascensão e da queda dos poderosos esquece de olhar com os olhos clareados pela Palavra, pois é ela quem ilumina o caminho. Os atalaias, postados sobre os muros, precisam ignorar o burburinho da cidade para, então, estenderem o olhar e prescrutarem aquilo que se avizinha, sejam inimigos, sejam oportunidades. Guardemos a lembrança de que um império caiu numa só noite: enquanto seus líderes celebravam e desafiavam a Deus; o mesmo Deus respondeu com juízo, marcando o decreto na forma de palavras escritas na parede. Os assírios, contados e achados em falta por meio de seus representantes, foram destruídos. Em pouco tempo, em questão de poucas horas, um novo governo surgia, com seus erros, acertos, propostas, caminhos e, mais, com a lembrança – certamente narrada – de que há uma mão que ainda escreve em paredes, que decreta o início e o fim de todas as coisas, e que mantém o governo dos homens sob Seu controle. 

Apenas lamentamos a perda da oportunidade... Que glorioso teria sido tornarmo-nos a geração brasileira que, mais uma vez, respondeu profeticamente a Israel! Não haveria poder econômico ou ameaças internacionais que nos fizessem recuar... A bênção daqueles que abençoam a descendência de Abraão, mais uma vez, repousaria sobre nós. O tempo passou. Não se ouve falar. Nada é dito. Mas a mão o sabe. Assim sendo, ainda há possibilidade de conserto? Sim, gloriosamente, sim, pois tudo no Reino pode ser consertado através de arrependimento sincero, contrição legítima e perdão pelo sangue do Cordeiro. Maravilhosa graça que nos faz retornar ao caminho de nosso chamado como nação, corrigindo a caminhada, ajustando as prioridades, reunindo os irmãos, ampliando o olhar para vermos além do circunstancial! Maravilhosa graça que nos haverá de trazer, sob qualquer reino humano ou império a oportunidade de exercermos um papel que é mais do que histórico, mas profético, com relação a Israel! Se egípcios governarem, triunfaremos; se assírios forem, também seguiremos fiéis; se os persas dominarem, cumpriremos nosso chamado, conscientes, à semelhança do ocorrido com a rainha Ester, de que para aquele tempo e para aquela hora fomos chamados. Sob quaisquer ventos e para qualquer que seja a direção humana, com os olhos fitos em Cristo, unidos, caminhemos para a vitória do Evangelho.

Por Sara Alice Cavalcanti.

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