Os sem religião definiram as eleições

Os sem religião definiram as eleições

Papel da Igreja deve ser orar pelo país e continuar a missão evangelizadora

Após o resultado da eleição mais concorrida da história de nosso país, decidida, segundo os dados oficiais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por apenas 2,1 milhões de votos em um universo de 118,5 milhões de votos válidos, muitos questionamentos e apreensões se levantaram sobre o futuro de nossa nação, como pôde ser rapidamente percebido pelo humor de grande parte da nação expresso nas enormes manifestações e nos protestos questionando a legitimidade do processo eleitoral ocorridos em todas as regiões do país logo após o pleito decisivo, reunindo, ao todo, milhões de pessoas nas ruas das principais cidades de 25 das 27 unidades da nossa federação.

Nesse contexto pós-eleições e de forte apreensão em grande parte da população, qual o papel da Igreja? Que orientações temos das Escrituras?

Qual o papel da igreja?

Logo após o pleito, o pastor José Wellington Costa Junior, presidente da Convenção Geral dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus do Brasil (CGADB), trouxe uma palavra bíblica de orientação aos assembleianos de todo o país que serve de norte para todos os cristãos de nossa nação neste momento.

“Evidentemente, todos estamos perplexos e tristes diante da escolha feita nesse dia 30 de outubro, através da eleição no segundo turno. Não era exatamente o que queríamos, mas entendemos que fizemos a nossa parte: orientando, orando e jejuando juntamente com a Igreja. Continuaremos nos propósitos para o qual Deus nos chamou, anunciando o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, que continua salvando e conduzindo a Igreja para o Arrebatamento. Não sabemos ao certo o que esperar nos dias futuros, mas uma coisa é real: o Deus a quem servimos continua acima de tudo e de todos. Continuemos na nossa carreira, cumprindo com a missão que o Senhor Jesus confiou a cada um de nós. Continuemos orando pela nossa pátria e o Senhor Jesus Cristo continuará cuidando de Sua Igreja. ‘Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor’ (1 Coríntios 15.58)”, declarou o líder da CGADB.

Em suma, o papel da Igreja no Brasil hoje é, em primeiro lugar, como orienta a Palavra de Deus, orar pelo país, pelas autoridades constituídas, “para que tenhamos uma vida quieta e sossegada” (1 Timóteo 2.1,2); e em segundo lugar, mas não menos importante, continuar a sua missão evangelizadora, ordenada por Jesus: “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado” (Marcos 16.15,16).

Segundo estudo, os “sem religião” deram a vitória a Lula

Segundo projeção do demógrafo José Eustáquio Diniz Alves com base em levantamentos do Datafolha um dia antes do pleito do dia 30 de outubro, o voto evangélico representou neste segundo turno 32% dos votos válidos, percentagem não muito diferente da que se viu no segundo turno de 2018 (Naquele ano, foram 31,5%). Estima-se que, ao todo, 37,81 milhões de evangélicos votaram em um dos dois candidatos em 30 de outubro, dos quais 69% depositaram seu voto em Jair Messias Bolsonaro e 31% em Luiz Inácio Lula da Silva. Ou seja, 26,09 de milhões de evangélicos votaram em Bolsonaro e 11,72 milhões em Lula. Essa percentagem foi parecida com a de quatro anos atrás. No segundo turno do pleito de 2018, segundo o Datafolha, 70% dos evangélicos haviam votado em Bolsonaro e 30% em Fernando Haddad.

De acordo com o estudo do professor Eustáquio, a grande variação dos votos no pleito deste ano em relação ao do segundo turno de 2018 foi entre os sem religião. A percentagem entre todos os demais grupos religiosos foi muito parecida com a de 2018, exceto entre os sem religião. Se no segundo turno de 2018 Haddad teve 55% dos votos válidos entre os sem religião contra 45% de Bolsonaro, o que se viu no segundo turno de 2022 foi Lula obtendo 70% dos votos dos sem religião. Em 2018, os sem religião representaram 7% dos votos válidos; em 2022, eles representaram 12% dos votos válidos, ou seja, 14,17 milhões, dos quais 10,01 milhões de votos foram para Lula contra 4,16 milhões que foram para Bolsonaro. Isso significa uma vantagem de 5,85 milhões de votos para Lula, de maneira que, em termos de votos válidos por aspecto religioso, segundo o professor Eustáquio, se os evangélicos deram a vitória a Bolsonaro em 2018, em 2022 foram os sem religião que pesaram na balança dando a vitória a Lula.

Segundo o professor Eustáquio, “considerando apenas” os católicos, evangélicos e seguidores de outras religiões, “Bolsonaro ganharia as eleições com vantagem de 3,8 milhões de votos, mas como Lula teve superávit de 5,9 milhões de votos entre o segmento sem religião, isso compensou a vantagem de Bolsonaro nos três grupos anteriores e propiciou uma vantagem final de 2,1 milhões de votos no resultado final”, disse o professor em entrevista ao jornal O Globo de 2 de novembro, que repercutiu o resultado de seu estudo.

Ou seja, há diferentes formas de analisar o resultado deste ano. Se o recorte for apenas os colégios eleitorais, pode-se dizer que o Nordeste (12,5 milhões de votos de diferença para Lula) e Minas Gerais (700 mil votos de diferença para Lula) deram a vitória ao candidato do PT, que venceu ao final com apenas 2,1 milhões de votos de diferença; mas, se o recorte for a questão religiosa, foram os sem religião que deram a vitória ao petista, uma vez que, somando todos os grupos religiosos entre os votos válidos, Bolsonaro tinha uma vantagem de 3,8 milhões de votos sobre Lula, porém, ao acrescentarmos nessa conta os sem religião, nos quais Lula teve 5,9 milhões de votos a mais que Bolsonaro, temos uma diferença exata de 2,1 milhões de votos a mais de Lula sobre Bolsonaro, que foi exatamente o tamanho final da diferença entre os dois na votação nacional.

Em suma, não se pode apontar neste ano os evangélicos como sendo os responsáveis pelo resultado final desta eleição, não obstante 11,72 milhões deles tenham votado no candidato do PT. Afinal, a porcentagem de distribuição de votos por espectro ideológico entre os evangélicos neste ano se manteve em relação aos últimos pleitos: cerca de 70% votaram à direita e 30% à esquerda. A presença evangélica nas urnas também foi condizente com o tamanho do segmento: estima-se que 31% da população é evangélica (pesquisa Datafolha de 2020) e tivemos 32% dos votos válidos sendo de evangélicos. Ou seja, os evangélicos fizeram o de sempre. A diferença mesmo foi a presença bem maior e decisiva dos sem religião. Eles quase que dobraram a sua presença nas urnas neste ano e os que dentre eles votaram desta vez o fizeram, em sua esmagadora maioria, à esquerda. É verdade que os sem religião costumam ser, em sua maioria, de esquerda, mas a proporção deles à esquerda no pleito deste ano foi também acima do normal em relação aos outros pleitos.

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