Essas exigências aparecem implícitas no chamado de Jesus que se constitui no “Segue-me”, ou no “Vinde após mim” em algumas passagens registradas nos evangelhos. Em Marcos 8, 9 e 10, por exemplo, Jesus é encontrado levando os Seus discípulos para uma jornada. Durante a peregrinação, Ele está abrindo os olhos de cegos e levando os Seus discípulos através de um caminho que eles não conhecem. Essa jornada é o caminho do discipulado.
O discipulado está ligado à ação da graça em razão da seriedade do processo: “A graça preciosa é o tesouro oculto no campo, por amor do qual o homem sai e vende com alegria tudo quanto tem; é a pérola preciosa, pela qual o comerciante se desfaz de todos os seus bens; o governo régio de Cristo, por amor do qual o homem arranca o olho que o escandaliza; o chamado de Jesus Cristo, o qual, ao ouvir, o discípulo larga as suas redes e O segue. [...] Essa graça é preciosa porque chama ao discipulado, e é graça por chamar ao discipulado de Jesus Cristo; é preciosa por custar a vida do homem, e é graça por, assim, lhe dar a vida; é preciosa por condenar o pecado, e é graça por justificar o pecador. [...] A graça preciosa é a encarnação de Deus”.
Essa é a graça de Deus para os discípulos. É uma jornada a ser empreendida. Contudo, essa jornada é acompanhada de algumas exigências: obediência, arrependimento, submissão, compromisso e perseverança.
A expressão “segue-me” (akolouthéo), como em Mateus 9.9, está no imperativo, sendo, dessa forma, uma ordem. Por essa razão, aqueles que receberam a ordem de seguir a Jesus obedeceram imediatamente. E os chamados dos discípulos é imediatamente precedido pela mensagem: “Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 4.17; Marcos 1.14).
Diferentemente dos rabinos, Jesus rompeu as barreiras, chamando o cobrador de impostos que ficava fora da comunidade de adoração (Marcos 2.14), assim como também chamou o Zelote (Lucas 6.15), bem como o pescador (Marcos 1.15ss). Ele chamou pessoas para segui-lo com a consequência de que deixaram o barco, a barreira de pedágio e a família.
Em um de Seus mais importantes discursos a respeito do discipulado, Jesus ilustra o chamado como colocar um jugo: “Tomai sobre vós o meu jugo...” (Mateus 11.29). A figura do jugo sugere muitas coisas. Todavia, a ideia principal é a submissão a Cristo na obra para qual foram Comissionados.
O jugo é também uma conexão entre submissão e sujeição. “Submeter” deriva-se de duas palavras latinas, sub (“sob”) e mitto ou mittere (“colocar”). Dessa forma, submissão significa colocar-se sob a autoridade de outrem. O vocábulo “sujeitar” também é derivado de duas palavras latinas, neste caso sub (“sob”) e iacto, actare (que significa “lançar” ou “jogar”). Significa, portanto, ser colocado sob a autoridade de outrem.
A palavra “jugo” ainda remete a outras definições. Nos tempos antigos, era costume um governante, ao conquistar outro povo, estender uma vara presa entre dois pilares a mais ou menos um metro do chão, e obrigar o povo que havia sido capturado a passar por baixo dessa vara. Essa atitude simbolizava que o povo estava se colocando sob seu jugo, isto é, submetendo-se à sua autoridade. Quando Jesus emprega essa figura, está dizendo que o “seguir” é submeter-se a Ele. É recebê-lO como Senhor de toda a vida. Charles Spurgeon via o chamado “tomai sobre vós o meu jugo” como Jesus dizendo mais ou menos o seguinte: “Se você for salvo por mim, Eu serei seu Mestre e você será meu servo; você não pode me aceitar como Salvador, se não me aceitar também como Legislador e Comandante. Se não fizer o que Eu requeiro de você, não encontrará descanso para sua alma”.
É impossível seguir a Cristo sem estar completamente comprometido com Ele. A falta de compromisso significa desviar-se do caminho ou afastar-se dEle. De igual modo, é impossível ter um compromisso com Cristo, se não houver o “seguimento”. A falha em segui-lO significa, na verdade, estar comprometido com outros interesses ou com outras pessoas. Ora, não há discipulado sem compromisso.
Seguir a Cristo não se constitui em um ato isolado. Não é uma atitude realizada uma vez e nunca repetida. O “seguimento” é um compromisso para a vida toda, que só será efetivamente cumprido na eternidade.
Isto significa que o discipulado não é somente uma porta de entrada, mas um caminho a ser seguido. O discípulo prova a validade de sua decisão seguindo até o final. O verdadeiro discípulo segue Jesus até o fim, em todos os sentidos.
Referências Bibliográficas
BONHOFFER, D. Discipulado. São Leopoldo: Editora Sinodal, 1980.
BROWN, C. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento – vol. I. São Paulo: Edições Vida Nova, 1984.
DA SILVA, Rayfran Batista. O discipulado eficaz e o crescimento da igreja. Rio de Janeiro: CPAD, 2019.
MELLO, Cyro. Manual do discipulador cristão. Como integrar plenamente o novo convertido a Igreja. Rio de Janeiro: CPAD.
WATTS, R. E. Jesus, modelo pastoral: estudo do Evangelho de Marcos. Rio de Janeiro: Danprewan Editora, 2004.
Por Sandro Pereira.
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