Segundo IBGE, Assembleia de Deus teria crescido 30% na primeira década do século 21

Segundo IBGE, Assembleia de Deus teria crescido 30% na primeira década do século 21

Dados apontam para queda no número de católicos e neopentecostais, e aumento dos pentecostais, dos evangélicos tradicionais e dos sem religião

O jornal “Folha de São Paulo” publicou, em 15 de agosto (2011), o resultado de um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre as religiões no Brasil que aponta para um crescimento de 30% das Assembleias de Deus nos primeiros 9 anos do século 21. Esses não são ainda os dados finais sobre a religião no Brasil colhidos no Censo 2010, e que só deverão ser divulgados ano que vem; porém, os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE já trazem um panorama sobre as religiões no país, pelo menos até 2009. Os destaques do estudo são as indicações de contínua queda no número de católicos, do crescimento dos protestantes históricos, da queda dos neopentecostais e do aumento do número de pessoas sem religião no país.

No Censo 2000 do IBGE, os assembleianos contabilizados chegaram a mais de 8,4 milhões. Pelos dados da POF, s assembleianos já seriam 11 milhões em 2009.

Em março e abril deste ano, o jornal Mensageiro da Paz fez um levantamento junto às Convenções regionais das Assembleias de Deus ligadas à CGADB e chegou ao número, publicado na edição histórica de junho (a Edição do Centenário) de 7,374.89 de assembleianos em todo o país membrados em igrejas filiadas à Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. Considerando que o número de congregados (crentes não-batizados em águas) ligados a uma igreja geralmente representam 30% da congregação, estimamos na ocasião que hoje o número de assembleianos ligados à CGADB seriam cerca de 9,5 milhões. Logo, o número total de assembleianos em todo o território nacional, somando igrejas da CGADB, do Ministério de Madureira e de ministérios de Assembleias de Deus independentes seria hoje em torno de 15 milhões.

Sendo assim, há uma diferença de 4 milhões entre os números de assembleianos da Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2009 do IBGE — 11 milhões — e os da estimativa que fizemos com base no levantamento deste ano junto às igrejas ligadas à CGADB — 9,5 milhões na CGADB e cerca de 15 milhões em todas as Assembleias de Deus.

A primeira razão óbvia para isso é que os dados do MP são mais atualizados. Essa pesquisa do IBGE é de 2009 – esses dados divulgados em agosto não são ainda os definitivos do Censo 2010, mas apenas um retrato religioso do Brasil em 2009. Só para termos uma ideia do crescimento da Assembleia de Deus no Brasil, apenas em junho deste ano, as Assembleias de Deus ligadas à CGADB batizaram quase 90 mil novos crentes. E foram só as Assembleias de Deus ligadas à Convenção Geral. E ainda houve ministérios ligados à CGADB que não participaram daquele batismo histórico do Centenário. Imagine, então, o número de assembleianos batizados no país em todo o ano e em todas as Assembleias de Deus!

Em segundo lugar, o número de congregados (não-membros) das Assembleias de Deus é apenas estimado, além do que não sabemos os números precisos de membros das Assembleias de Deus ligadas ao Ministério de Madureira e aos ministérios independentes.

Uma observação importante ainda a ser feita, mas acerca do resultado do Censo 2010 sobre as religiões no Brasil, que só deverá ser anunciado em 2012: ele deverá ser muito menos preciso, no que diz respeito ao mapa das religiões no país, do que o Censo 2000. Por quê?

Na divulgação dos dados do Censo 1991, as igrejas reclamaram muito da imprecisão dos números do IBGE em relação aos dados das igrejas, mesmo descontado o ufanismo dos números de muitas igrejas. Em consequência, o IBGE resolveu aprimorar esse levantamento no Censo 2000, que foi um dos censos mais precisos da instituição em relação aos dados sobre a religião no país. Entretanto, no Censo 2010, ocorreu um retrocesso. Não sabemos ainda a porcentagem precisa, mas é fato que muito poucos entrevistados no Censo do ano passado foram perguntados sobre sua religião em relação ao Censo 2000. O percentual dos pesquisados no Censo 2000 sobre religião foi muito maior do que em 2010.

Nos formulários de pesquisa nos lares foi feiro um processo de seleção randômica, onde as residências entrevistadas são selecionadas de forma aleatória. No lar onde o sistema selecionou as questões relacionadas à religião, os dados foram contabilizados; onde não, mesmo querendo, os entrevistados não puderam ter suas informações registradas. À imprecisão de saber se mais ou menos pessoas evangélicas deixaram de ser entrevistados deixa uma dúvida se os números do Censo 2010 do IBGE terão a mesma precisão que o Censo passado. O que teremos, portanto, no Censo 2010, é uma pequena amostragem e não dados precisos.

Isso significa que ainda que os dados do Censo 2010 sobre religião, ao serem apresentados ano que vem, não mostrem a Assembleia de Deus com os estimados 15 milhões que se acredita que ela tenha hoje, isso não quer dizer que ela não os tenha. Muito provavelmente tem. E sem unfanismo.

Para o pastor Isael de Araújo, chefe do Centro de Estudos do Movimento Pentecostal (Cemp) e autor do livro “Dicionário do Movimento Pentecostal” (CPAD), os dados do IBGE estão menos precisos este ano. “Os números do levantamento feito pelo Jornalismo da CPAD refletem muito mais a realidade da Assembleia de Deus. Agora, independente da imprecisão dos números desse estudo preliminar do IBGE, tanto o que foi apurado por essa pesquisa quanto o que foi apurado pelo Departamento de Jornalismo da CPAD mostram o crescimento das Assembleias de Deus. E mesmo sabendo que esses números do levantamento do Mensageiro da Paz não são os oficiais do Censo 2010, mas estão muito mais próximos e mostram, sem dúvida, que a denominação é o grupo que mais cresce no país no universo das igrejas evangélicas”, afirma o pesquisador.

Para Marina Corrêa, doutoranda em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), esse crescimento acontece por causa do trabalho de base feito. “A expansão da Assembleia de Deus não ocorreu somente em função de um planejamento de seus líderes, mas também pela ação dos leigos. À Assembleia de Deus é uma igreja tipicamente brasileira. Embora de fundação sueca, foi uma igreja que nasceu brasileira, feita por brasileiros e sempre trabalhou nas grandes periferias, ou seja, ela lida com uma realidade muito forte. De certa forma, esses crentes vão resgatando pessoas que passam por inúmeros problemas e orientando o comportamento dos fiéis pelo discurso teológico”, analisa Marina, que está defendendo uma tese na PUC sobre a “Lógica Administrativa das Igrejas Assembleias de Deus através de seus Ministérios”.

Um lado positivo do Censo 2010, pelo menos, é que as pessoas perguntadas sobre religião foram abordadas com perguntas mais precisas. O pesquisador do Instituto de Estudos da Religião (ISER), sociólogo Clemir Fernandes, explica que toda pesquisa corre o risco de ter mais ou menos equívocos dependendo de uma série de fatores, como a maneira que é formulada a pergunta, a entonação que é dada, o ambiente em que é feito a entrevista, entre outros. “No Censo de 2000, havia como pergunta, do item religião, a seguinte indagação: Qual sua religião ou culto? É sabido que vários evangélicos militantes dizem não ter religião, pois consideram sua fé algo que não pode ser comparado à religião. Uma pessoa dessa sendo entrevistada pode responder de pronto: Não tenho religião. O entrevistador não vai inquirir ela novamente, nem insistir, mas simplesmente registrar que ela não possui religião, quando tal pessoa pode, ao contrário, ser fortemente religiosa”, disse o sociólogo.

Clemir Fernandes diz ainda que o IBGE vem procurando aperfeiçoar sua metodologia e tem discutido com várias entidades de pesquisa, de várias áreas do conhecimento e dos mais diferentes temas, como religião, sobre como melhor formular as questões. “Para o Censo 2010, tentamos incluir duas ou três perguntas sobre religião, mas como o questionário completo já tinha mais de 100 perguntas, dos mais variados temas, isso não foi possível. Mas uma das sugestões do ISER foi exatamente sobre a dupla pertença, pois muitos religiosos no Brasil têm mais de uma adesão religiosa. Uma pergunta assim poderia revelar melhor o cenário de múltiplas crenças que as pessoas possuem”, concluiu Clemir.

Com tantas igrejas evangélicas e de várias denominações espalhadas por todo Brasil, a Pesquisa de Orçamentos Familiares registra um dado curioso; o crescimento de evangélicos sem ligação com igrejas. Entre 2003 e 2009, o número deu um salto de 10 pontos percentuais, e passou de 4% para 14%. Sobre esse fenômeno, a pesquisadora da Marina Corrêa comenta: “Acredito que nós estamos vivendo, já algum tempo, a individualização da fé. À estrutura da sociedade de consumo inflige uma série de alterações cotidianas. O aumento da velocidade da criação de modelos e da quantidade de informações, e o aumento da competitividade do mercado de trabalho, geram cada vez mais o individualismo”.

Porém, o pastor e pesquisador Isael de Araújo tem outra opinião. Para ele, a questão precisa ser analisada com mais aprofundamento por parte do maior número de especialistas possíveis, para não se correr o risco de atribuir esse não pertencimento das pessoas a igrejas apenas à instituição. “São dois pontos a serem observados. O primeiro está relacionado às igrejas em si, como alguns líderes tem se comportado diante da sociedade para que seja criada essa aparente aversão; e em segundo lugar — e pode ser o ponto chave —, existem pessoas insatisfeitas com tudo, que querem numa uma igreja que se adéque ao seu modo de vida, em uma espécie de customização da fé, que querem ter a igreja como uma espécie de self-service espiritual. Um modelo de igreja 100% adaptável não existe”, pondera o especialista.

Desde o advento das novas tecnologias da informação e a propagação do Evangelho através da mídia, os líderes passaram a se questionar a respeito dos benefícios e malefícios da divulgação do Evangelho pelo rádio e TV. Esses veículos deram uma nova roupagem ao conteúdo das mensagens: o que anteriormente era mensagem evangelística, para alcançar os não-crentes, foi substituído por mensagens que comumente se ouviria em cultos de ensino e doutrina nos templos. Esse pode ter sido outro motivo que levou muitos a deixarem a igreja e preferirem a comodidade do lar.

Ao elaborar o Novo Mapa das Religiões com os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE, a Fundação Getúlio Vargas constatou uma queda no número de fiéis católicos no Brasil nos últimos anos. O Mapa, divulgado dia 23 de agosto, traz os números da colocação em porcentagem dos católicos, evangélicos e dos sem religião. Os Estados brasileiros com maior porcentagem de católicos são do Nordeste: em primeiro lugar, o Piauí com 87,93% e em segundo, o Ceará, com 81,08%; a Paraíba vem em terceiro com 80,25%. Já os três Estados com mais evangélicos pentecostais no país são apresentados no Mapa na seguinte ordem: em primeiro lugar, o Acre (24,18%); em segundo, Rondônia (19,75%). O Estado do Pará, onde nasceu a Assembleia de Deus, vem em terceiro, com 19,41%, Dos que se dizem sem religião, de primeiro a terceiro lugar, estão respectivamente Roraima (19,39%), Rio de Janeiro (15,95%) e Rondônia (13,54%).

Sobre o Piauí ser citado como o Estado com a maior proporção de católicos no país, o pastor Nestor Henrique Mesquita, presidente da Convenção das Assembleias de Deus do Estado do Piauí (Ceadep), comenta: “Sabemos que a maior causa de sermos hoje o Estado com maior número de católicos pode está relacionada à migração dos crentes que saem do Estado para o Sudeste em busca do sustento para a família, por conta das frequentes secas da região. Nosso Estado é uma espécie de exportador de crentes. Mesmo com esses números, a Assembleia de Deus aqui é majoritária.

Temos pastores e crentes em todos os 224 municípios do Estado”. Feliz com a primeira colocação do estado do Acre entre os de maior percentual de pentecostais no Brasil, o líder da Assembleia de Deus em Rio Branco, capital do Estado, pastor Luiz Gonzaga de Lima, diz que é necessário receber a informação com humildade e muito temor. “Ficamos muito felizes ao sabermos que nosso Estado, e principalmente nossa capital, tem, na proporção, o maior número de pentecostais do país. Isso mostra que os crentes estão procurando cumprir o Ide de Jesus. Não podemos nos envaidecer com isso, e precisamos entender que nossa responsabilidade fica bem maior, porque devemos nos preocupar com a qualidade desse povo e ver que influência esses crentes têm exercido na sociedade como sal da terra e luz do mundo”, declara o líder.

Segundo o pesquisador da Fundação Getúlio Vargas e responsável pela elaboração do Mapa, Marcelo Néri, a Assembleia de Deus já se consolidou como a segunda maior igreja do Brasil.


Por, Silas Daniel e Edilberto Silva.

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