Meu pai nasceu em 1955. O moderno estado de Israel, em 1948. Ambos têm idade para serem irmãos. Às vezes, penso que são, pois noto o convicto amor de meu pai ao discorrer sobre o nascimento do estado judeu e o lavrar de sua certidão na ONU. O seu encantamento é também o meu, pois maravilha-me o profeta Isaías quando diz “Quem jamais ouviu tal coisa? Quem viu coisas semelhantes? Poder-se-ia fazer nascer uma terra em um só dia? Nasceria uma nação de uma só vez?” (Isaías 66.8).
Seis décadas após nascida aquela terra, os palestinos também
querem um estado; mas naquela mesma terra. Talvez os planos de Deus comportem
que por algum tempo a Palestina deixe de ser localidade e se torne
nacionalidade. É até possível que aconteça — pois quem poderá antecipar a
geopolítica escatológica? Porém, sempre que ouvir falar de um estado palestino,
repetirei ironicamente o que disse o vate messiânico: “Quem jamais ouviu tal
coisa?”
Advogados da causa palestina, chineses, espanhóis e russos
dir-me-iam louco e insensível por afirmar a inviabilidade de um estado
Palestino. No entanto, se a Palestina merece ser livre, porque não o Tibet? “Quem
jamais ouviu tal coisa?”, diria a cínica Beijing. E que tal o lema “Vivam a
Palestina livre e a Chechênia independente”? “Quem jamais ouviu tal coisa?”
seria o contracanto russo. Também os espanhóis não concordariam em liberar o
povo basco. Chineses, espanhóis e russos defendem estados independentes, mas
não em seus territórios. Porque só a Israel isso é imposto?
Se discordo de um estado palestino, então sou politicamente
incorreto. Mas e quanto a quem prega o fim do estado judeu? Não é um
terrorista? Ora, esse não é um debate sobre igualdade de direitos, mas sobre a
legitimidade deles. E os palestinos não têm herança ali. A Eretz Israel é dos
israelitas. Cada palmo da árida terra divinamente tratada como centro do mundo
foi conquistado com dores como a da parturiente. É israelense. Israelita.
Judaica. Hebreia.
Assumíssemos a eventualidade de um estado palestino, seria
inadiável a solução de muitos entraves, como, por exemplo, a existência de duas
palestinas: uma em Gaza, outra na Cisjordânia. Qual delas foi a defendida por
Mahmud Abbas?
Os palestinos podem ter uma terra. Mas não aquela terra.
Podem organizar seu estado; mas no estado em que se encontram, é preciso que se
organizem antes. Minha indignação não é com o desejo de serem um país, mas com
que tipo de país desejam ser, pois julgam ter direito a um estado apenas porque
Israel formou um estado de direito.
Aos patrulheiros ideológicos é desumano não defender o
nacionalismo palestino. À história, entretanto, não firma alianças com as
gentilezas, mas une-se à verdade. E a verdade é que se a disputa por aquela
terra é milenar, a causa palestina não é. Tem pouco mais de 40 anos. Entre o
nascimento do estado moderno de Israel e a guerra de 1967, os árabes que
controlavam a Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental jamais tentaram criar um
estado. O que nos vendem como história antiga não passa de tradição inverídica.
Antes de 1970, os refugiados palestinos eram os instrumentos
dos árabes contra Israel. Hoje, não são mais que refugo humanitário, pois nação
árabe alguma quer palestinos em suas terras. Mesmo a Resolução 242 do Conselho
de Segurança da ONU, recorrentemente evocada, nada diz sobre palestinos, mas
sobre refugiados após a Guerra dos Seis dias. Um estado palestino? Quem jamais
ouviu tal coisa!
Se o século XX foi a manjedoura do Estado Judeu, o século
XXI pode ser a oficina em que se inventará o estado palestino.
por Gunar Berg
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