Considerações sobre a castidade das filhas de Filipe

Considerações sobre a castidade das filhas de Filipe


Lucas fez referência à castidade das quatro filhas do evangelista Filipe (Atos 21.9). Qual o significado dessa referência? A castidade das jovens, comentada pelo autor, tinha alguma referência religiosa?

Ao voltar de sua terceira viagem missionária com a intenção de chegar a Jerusalém na semana da festa de Pentecostes (cf. 1 Coríntios 16.8,9), Paulo navegou da Lícia até Tiro, onde ficou algum tempo. Ele se despediu de algumas famílias cristãs, que o acompanham até a embarcação, próximos da qual se ajoelharam na praia para uma oração. Esse apóstolo e sua comitiva seguiram, então, para Ptolemaida, na Síria, onde ele apenas saudou os irmãos e, no dia seguinte, chegou a Cesareia para um verdadeiro “encontro pentecostal” na casa de Filipe, o evangelista (Atos 21.5-15).

Em Cesareia marítima, onde aconteceu esse encontro, também havia ocorrido o primeiro Pentecostes gentílico (Atos 10.34-48). Na casa de Filipe, homem cheio do Espírito Santo (cf. At 6.3), os dons ministeriais - apóstolo, profeta, evangelista, pastor e mestre (cf. Efésios 4.11) - e os congregacionais, o de profecia, especialmente (cf. 1 Coríntios 12.1-11; cap. 14), manifestaram-se na vida dos “vasos” presentes. Paulo, apóstolo e mestre, juntamente com o jovem pastor Timóteo e outros ministros, chegaram à casa de Filipe, o evangelista, cujas filhas profetizavam. Algum tempo depois, chegaria também o profeta Ágabo (Atos 21.8-15).

Tem chamado a atenção de alguns estudiosos do Novo Testamento o fato de Lucas mencionar que Filipe tinha “quatro filhas donzelas, que profetizavam” (Atos 21.9). Essa referência à castidade delas tem alguma relevância religiosa? Não está claro se o fato de serem virgens “implica que elas decidiram se consagrar, abrindo mão do casamento” (GER, p. 490). Mas parece que o autor sagrado quis fazer “uma conexão entre a virgindade e os poderes proféticos, embora mulheres solteiras ou viúvas às vezes tinham uma posição especial na igreja (1 Timóteo 5.2-16). O que é surpreendente é que, a despeito dos seus poderes proféticos, as filhas não profetizaram acerca daquilo que aconteceria a Paulo” (MARSHALL, p. 317).

Essa menção de Lucas revela que Filipe incentivava suas filhas “a procurar e a exercer os dons do Espírito. Parece também que o ministério delas neste dom de profecia deve ter trazido ânimo e bênção para Paulo” (HORTON, p. 212). Conforme a tradição, elas “se mudaram para a Ásia Menor (Frígia) e viveram ali servindo ao Senhor até uma idade avançada” (DEIROS, p. 590). O historiador Eusébio diz que, mais tarde, “Filipe viveu em Hierápolis, onde também Suas filhas profetisas eram muito estimadas” (BOOR, p. 304). Alguns autores acreditam que pelo menos três delas “viveram até seus 90 anos e tornaram-se uma rica fonte de informações para os primeiros pais da Igreja” (SPROUL, p. 320).

O termo “virgem” (gr. parthénos) aparece quatorze vezes no Novo Testamento, em referência a Maria (Lucas 1.27; Mateus 1.23), à parábola das dez virgens (25.1,7,11), às filhas de Filipe (Atos 21.9), às jovens solteiras mencionadas no conselho de Paulo (1 Coríntios 7.25,28,34,36-38), à Igreja como Noiva de Cristo (2Co 11.2) e aos 144 mil israelitas que atuarão durante a Tribulação (Apocalipse 14.4). Como boa parte dessas referências associa castidade voluntária à vida de santidade, parece mesmo que as filhas de Filipe tomaram a decisão de manterem-se solteiras a fim de servir exclusivamente ao Senhor (cf. 1 Coríntios 7.25-40).

REFERÊNCIAS

BOOR, Werner de. Atos dos Apóstolos. 1. ed. Curitiba, PR: Esperança, 2002.

DEIROS, Pablo A. Atos: o Evangelho do Espírito Santo. 1. ed. São Paulo, SP: Vida, 2022.

GER, Steven. Atos. 1. ed. Porto Alegre, RS: Chamada, 2023.

HORTON, Stanley M. O Livro de Atos. 1. ed. Deerfield, Florida: Editora Vida, 1983.

MARSHALL, 1. Howard. Atos: Introdução e Comentário. 1. ed. São Paulo, SP: Vida Nova, 1982.

SPROUL, R. C. Estudos Bíblicos Expositivos emos. 1. ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2017.

ZIBORDI, Ciro Sanches. Filipe: o Primeiro Evangelista da Igreja. 1 ed. Rio de  Janeiro: CPAD, 2019.

por Ciro Sanches Zibordi

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