Para muitos eruditos, seu nome deriva da raiz hebraica haran, que significa dedicar, consagrar. Trata-se do Monte Hermon, pico mais elevado do Antelíbano, maciço montanhoso situado a sudoeste dos Líbanos orientais, dos quais está separado por um profundo vale. Os árabes costumam chamá-lo Gebel el-seih ou “Monte do Ancião”, provavelmente pela neve que se deposita em seu cume. Dos três picos que sobem dele, o mais alto está a 2.759m do Mediterrâneo, permitindo avistar-se dele o Tiro, o Carmelo, dos Montes da Galileia até a Samaria, do Tiberíades ao Mar Morto. É desse antigo limite da tribo de Manasses que partem os filetes de água que formam o Rio Jordão.
Montanha sagrada para os cananeus, que ali realizavam ritos em
homenagem aos seus deuses, foi lugar de adoração a Baal, como provam as ruínas
de templos e altares erguidos no sopé do monte. A fertilidade da terra e a
abundância das águas fizeram florescer ali a importante cidade de Cesaréia de Felipe.
Segundo alguns, foi para ali que Jesus levou seus discípulos e onde os interrogou
a respeito do pensamento do povo sobre si mesmo. A tradição que aponta o Tabor como
o Monte da Transfiguração origina-se com Helena, mãe do imperador Constantino,
que lá construiu, no século VI, três templos até hoje visitados por peregrinos
católicos e protestantes. A tradição, contudo, esbarra em claras
impossibilidades. O Tabor tem apenas 320m de altitude, condição que não lhe
daria o título de “alto monte”. Seis dias antes da transfiguração, Jesus encontrava-se
em Cesaréia de Felipe e circunvizinhanças. Além disso, segundo Marcos 9.30,
Jesus atravessou a Galileia após a gloriosa experiência, prova que não estava naquela
região. Outro fator importante é que o Tabor era habitado por uma grande
quantidade de casas, conforme provam os achados arqueológicos.
Por outro lado, o ambiente do Hermom, mesmo com a presença de
templos e altares abomináveis, ofereceu o cenário perfeito para que o Senhor fosse
aclamado pelo Pai como Seu Filho Bendito (TOGNINI, Eneás. Geografia da Terra
Santa. São Paulo. Louvores do coração, 1978). Ele foi aclamado na presença de
seus inimigos.
O debate acerca do local da transfiguração encontra defensores
para as duas posições. Por outro lado, para a questão levantada pela mulher samaritana
a respeito do lugar da adoração, se seria o Monte Moriá ou o Gerizim, Jesus foi
objetivo ao dar a resposta: não é o lugar da adoração que importa, mas que verdadeiros
adoradores adorem ao Senhor em espírito e em verdade. Outra questão, no entanto,
apesar de ter resposta precisa, não tem, em contrapartida, aceitação tão
rápida. Refiro-me ao lugar escolhido por Deus para ser o centro político e religioso
de Israel, a cidade que Ele mesmo escolheu para, a partir dali, estabelecer Seu
trono – Jerusalém. Sem discorrer a respeito do processo de escolha da cidade,
das sucessivas invasões, da assolação e da retomada, vale observar a tônica que
vem sendo dada às discussões sobre a fixação islâmica na cidade do Monte do
Templo.
Para o conhecido especialista em Oriente Médio e escritor do
Jerusalém Post, Daniel Pipes, “historicamente, o valor religioso de Jerusalém
para os muçulmanos oscilou entre o mais e o menos conforme as circunstâncias
políticas. Em um ciclo uniforme e previsível que se repetiu seis vezes ao longo
de quatorze séculos, os muçulmanos se voltaram para a cidade quando isso lhes foi
útil e a ignoraram quando não foi”. Lembra ele que, durante o Mandato Britânico
(1917 a 1948), a paixão por Jerusalém aumentou. Estranhamente, quando a Cidade Velha
esteve sobre o domínio da Jordânia (1948 a 1967), pouco foi lembrada. As orações
eram transmitidas a partir de uma mesquita em Amã e não de AlAqsa. O documento fundador
da Organização para a Libertação da Palestina escrito em 1964 sequer menciona
Jerusalém. Pipes afirma: “O interesse muçulmano pela cidade só reapareceu com a
conquista de Jerusalém em 1967. Então, Jerusalém tornou-se o ponto central da
política árabe, servindo como fator de unificação entre elementos discordantes.
Em 1968, a OLP alterou o texto do pacto para se referir a Jerusalém como a
‘sede da Organização para a Libertação da Palestina’. O próprio rei da Arábia Saudita
declarou a cidade ‘equivalente’ a Meca do ponto de vista religioso – uma ideia original,
para não dizer blasfema”.
O interesse pela cidade alcançou maior intensidade em 1990, quando
os muçulmanos passaram à negação da sua importância para os judeus. Daí, iniciou-se
um discurso que argumenta com ficções revisionistas um passado que nega qualquer
vínculo de Israel com a terra, alegando que os cananeus construíram o Templo de
Salomão, que os antigos hebreus faziam parte de tribos beduínas e que a Bíblia veio
da Arábia. Mais recentemente, defendeu-se que o Templo dos judeus ficava em Nablus
ou em Belém. Para tais argumentadores, a presença judaica na Palestina cessou
em 70 e.C. Outros tomam a história judaica fortemente documentada e apenas
substituem os termos judeu por árabe. O alvo político é claro: buscam provar que
os judeus não têm qualquer direito sobre Jerusalém e afirmam: Jerusalém é
árabe.
No encontro da cúpula de Camp David, em julho de 2000, Dennis
Ross, diplomata americano presente, observou que Arafat, apesar de não apresentar
ideias aproveitáveis para o processo de negociação, lançara uma ideia nova, a
de que o Templo não ficava em Jerusalém, mas em Nablus. Foi dessa forma que a
pseudo-história, ainda no dizer de Pipes, transformou-se em política oficial da
ANP.
O que foi gerado por essas afirmativas prossegue até hoje, fazendo
lembrar as palavras do profeta Zacarias: “Eis que eu farei de Jerusalém um cálice
de tontear para todos os povos em redor, e também para Judá, durante o cerco contra
Jerusalém. E acontecerá naquele dia que farei de Jerusalém uma pedra pesada para
todos os povos; todos os que a carregarem certamente serão despedaçados; e ajuntar-se-ão
contra ela todo o povo da terra” (12.2-3). No entanto, o profeta Isaías
(62.6-7) nos adverte a não nos calarmos e não darmos a Ele descanso até que
ponha Israel por objeto de louvor sobre a terra.
O Guarda de Israel colocou, sobre os muros da cidade, guardas
em constante vigia e expectativa quanto à glória futura. Sem dar lugar a
qualquer discussão, Jerusalém será a sede do governo milenar, ligada à sua homônima
celestial. A presença de homens e mulheres de outras nações será, contudo, bem vinda,
conforme nos diz o príncipe dos profetas: “E as tuas portas estarão abertas de contínuo,
nem de dia nem de noite se fecharão; para que tragam a ti as riquezas dos gentios,
e, conduzidos com elas, os seus reis”, Isaías 60.10,11. Em oposição às Escrituras
e à bela história por elas narrada, por vezes entremeiam-se ficções de intenções
discutíveis, catedrais de helenas a encher os olhos, embora vazias de fundamentos.
No entanto, como o tempo prova e provará, contra a profecia não há argumento.
por Sara Alice Cavalcante
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