Na contramão de Gênesis 1.28: aumentam casais que não querem ter filhos

Na contramão de Gênesis 1.28: aumentam casais que não querem ter filhos


Bíblia ressalta bênçãos da maternidade e paternidade; estudos mostram malefícios à sociedade decorrentes da baixa taxa de fecundidade dos casai

O primeiro mandamento divino aos seres humanos que encontramos na Bíblia está em Gênesis 1.28: “E Deus os abençoou [o casal], e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra...”. Este texto indica que Deus quer que os seres humanos criem relacionamentos sólidos e procriem. A mesma ordem foi dada à família de Noé após o Dilúvio (Gênesis 9.1,7). Há revisionistas doutrinários, porém, que, mais recentemente, se opõem ao entendimento natural de que essas passagens trazem um mandamento para a procriação, argumentando que pelas palavras “os abençoou e lhes disse” e “abençoou Deus a Noé e seus filhos” elas tratariam, na verdade, apenas de bênçãos. Ou seja, nesses textos, Deus estaria tão somente dizendo que os seres humanos seriam férteis e que poderiam procriar, e não determinando que eles procriassem. A verdade, porém, é que ambos os textos denotam claramente que as palavras divinas ao primeiro casal e à família de Noé são tanto bênçãos quanto orientações. Primeiro, porque as palavras estão no imperativo (“Frutificai”, “multiplicai”, “enchei”, “povoai abundantemente a terra”); e segundo, porque mandamentos divinos não são o contrário de bênçãos divinas. As orientações divinas são bênçãos divinas para as nossas vidas.

Entretanto, nos últimos tempos, entre os muitos comportamentos distintos das orientações bíblicas que começaram a se proliferar na sociedade, está o de os casais, mesmo saudáveis e com condições, não quererem ter filhos. Em todo o mundo, especialmente no Ocidente, tem aumentado vertiginosamente o número de casais que simplesmente abdicam da procriação.

Em relação ao casamento, a Bíblia diz que o crente pode optar por não se casar para se dedicar totalmente ao Senhor (1 Coríntios 7.8,32,37,38), contanto que tenha o chamado para isso, e que é melhor casar do que “abrasar-se” (Mateus 19.12; 1 Coríntios 7.7,9,20,37). Já em relação aos casais, não há nenhuma orientação divina de que os casais não precisam ter filhos. Ao contrário, desde o Antigo Testamento até o Novo Testamento, a orientação e o incentivo divinos é para que os casais tenham filhos, inclusive com a afirmação de que os filhos são bênçãos do Senhor (Salmos 127.3-5). O apóstolo Paulo frisa, inclusive, que a mulher encontra a sua verdadeira realização quando gera filhos, mas contanto que o faça permanecendo “com sobriedade na fé, no amor e na santificação” (2 Timóteo 2.15).

Claro que se o casal tem problemas de saúde que impossibilitam a procriação, não estão em oposição à ordenança bíblica. Outro detalhe é que a Bíblia não determina quantos filhos um casal deve ter, de maneira que casais que têm condições físicas para procriar e têm pelo menos um filho já estão cumprindo o mandamento divino de Gênesis 1.28. A Bíblia, porém, sempre incentiva o casal a “encher de flechas a sua aljava”, numa referência a filhos (Salmos 127.5).

Países preocupados com problemas decorrentes da queda da fecundidade segundo o Banco Mundial, na década de 1960, a taxa de fecundidade no mundo – ou seja, o número de filhos por mulher – era de 5,3. Atualmente, essa taxa é de 2,2. A queda dessa taxa na América Latina de 1950 a 2024 foi de 68,4%. Na Ásia, foi de 66,2% no mesmo período. Um estudo publicado pela revista científica The Lancet em 20 de março do ano passado projetava que, se nada for feito para evitar esse processo mundial de queda, até 2050 mais de três quartos dos países do mundo não terão taxas de fertilidades altas suficientes para sustentar o tamanho da população ao longo do tempo. E até 2100, segundo o estudo, esse número aumentará para 97% dos países.

Por sua vez, um estudo do Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas (ONU) projetou que até 2100 a Itália, o Japão e a China – países que já estão sofrendo com decréscimo populacional – perderão entre 37% e 46% de sua população. A população do Japão encolheu 0,43% em 2023. Por outro lado, os países da África Subsaariana ocidental e oriental ainda terão taxas de fertilidade elevadas, o que deve continuar impulsionando o aumento populacional nesses locais ao longo do século. De acordo com o estudo publicado em The Lancet, “essa divisão demográfica no mundo poderá ter enormes consequências para as economias e as sociedades”. Em 2021, 29% dos bebês do mundo nasceram na África Subsaariana. Segundo a análise, a estimativa é que esse número aumente para mais da metade (54%) de todos os bebês. Os países com pior taxa de natalidade do mundo são Coreia do Sul e Sérvia, respectivamente com assustadores 0,8 e 1,1 filho por casal.

No Brasil, a atual taxa anual de fecundidade é de menos de dois filhos por mulher – 1,62, para ser mais exato. Este número, que já foi de 6,3 filhos no Brasil por mulher em 1960, hoje está abaixo da taxa de reposição populacional considerada tanto pelo IBGE quanto pelo Banco mundial, que é de 2,1. O que isso significa? Em geral, os países precisam de ter uma taxa de fertilidade total (TFT) de 2,1 crianças por mulher para sustentar a substituição geracional da população a longo prazo. A TFT de uma população é obtida através do número médio de filhos que nascem de uma mulher ao longo da vida. Isso significa que se a taxa anual de fecundidade de um país for abaixo de 2,1 filhos por casal, como é o caso do Brasil, a população desse país vai, com o tempo, começar a decrescer, à medida que a população mais velha for partindo.

Além disso, vários problemas sociais surgem em decorrência disso. Um deles, sempre lembrado, é o problema no sistema previdenciário. O problema atual das previdências no mundo não é que as pessoas aposentadas estão vivendo mais tempo – isso é uma bênção, não um problema –, mas que, simultaneamente a isso, há cada vez menos jovens no mercado de trabalho para manter o sistema de “pirâmide” da previdência funcionando. Essa é a razão pela qual os países da Europa, que começaram a sofrer com os efeitos da baixa fecundidade primeiro que o Brasil, escancararam suas portas nos últimos anos para a imigração. Os efeitos disso, porém, não foram tão bons. Visava-se, com a abertura massiva à imigração na Europa, rejuvenescer o continente e aumentar o tamanho da massa jovem trabalhadora, o que foi conseguido, mas ao custo do aumento dos índices de violência e da criação de um processo de islamização do continente, já que os países vizinhos de onde vieram a maioria dos imigrantes é esmagadoramente islâmica. Com o adendo de que a taxa de fecundidade das famílias islâmicas é de 6 filhos por casal, enquanto das famílias europeias nativas é de menos de 2 por casal. Por isso, alguns países da Europa estão revertendo suas políticas de imigração.

Outros problemas que os países com baixo índice de fecundidade entre os casais possuem são o envelhecimento da população, com o adendo de que muitas pessoas estão envelhecendo sem filhos; a gradativa diminuição do alistamento militar; e a maior necessidade de tecnologias para compensar a diminuição da força de trabalho, resultando em diminuição do afeto e das interações humanas, o que pode gerar mais doenças psicossomáticas na população. Como se vê, há efeitos negativos em uma sociedade quando ela não segue orientações bíblicas fundamentais.

Razões da queda

Bem, quais as razões pelas quais esses índices têm sido tão baixos? Não há um motivo único para essa queda vertiginosa. Dentre as razões, podemos listar, como várias reportagens e estudos têm apontado, as seguintes causas: o aumento da participação da mulher em diferentes atividades fora do lar somada há falta de uma rede de apoio para ajudá-la a conciliar crianças e trabalho; a ênfase na carreira em detrimento da maternidade; a preocupação com o aumento do custo de vida com o nascimento de filhos; a disseminação de técnicas contraceptivas; a disseminação da mentalidade feminista; a disseminação da cultura “pró-escolha” em detrimento da cultura pró-vida; a atual onda de isolamento social; e a atual tendência de tentar “estender” a juventude antes de assumir qualquer compromisso mais maduro, como o de formar uma família. Em entrevista ao site BBC News em 3 de novembro de 2024, a professora Martina Yopo, doutora em Sociologia pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e pesquisadora da Universidade Católica do Chile, acrescentou ainda, como um dos fatores causadores, “as profundas transformações em torno dos papéis, aspirações e expectativas de gênero”.

Outro fator que não pode ser ignorado é a campanha internacional nas últimas décadas, capitaneada por ideólogos ocidentais liberais e encampada por organismos internacionais, pregando a diminuição da população mundial como um bem para o mundo, com investimentos altos em propaganda de “planejamento familiar”, que nada mais tem sido, na prática, do que disseminação de métodos contraceptivos e promoção da legalização do aborto e de educação de mulheres na agenda feminista.

A motivação para tal campanha internacional é a ideia de que o mundo estaria superlotado de seres humanos, logo seria preciso promover tais coisas para desestimular a procriação em grande escala. Mas isso está muito longe ser verdade. Não há problema de superpopulação de seres humanos na Terra. Existe, sim, é problema de superpolução nos grandes centros, porque, de algumas décadas para cá, a população mundial passou a migrar do campo para a cidade. Em 1950, mais de dois terços da população mundial vivia na área rural; seis décadas depois, mais precisamente desde 2007, a população urbana ultrapassou a rural. Os grandes centros estão superlotados; o campo, não.

Se fossem dados 100 metros quadrados para cada pessoa na face da Terra viver, toda a população do mundo caberia no estado norte-americano do Texas. Claro, não basta caber em um espaço; é preciso também ter condições de prosperar naquele lugar, razão pela qual a população mundial busca os grandes centros. A solução, portanto, seriam políticas de governo que mudassem isso, que fizessem com que as pessoas pudessem ter mais chances de prosperar vivendo em suas cidades do interior, em vez de precisar migrar aos grandes centros para melhorar suas condições. O episódio da Torre de Babel em Gênesis nos indica, dentre tantas lições que aprendemos dele, que o desejo de Deus era que o homem se espalhasse sobre a face da Terra, e não vivesse concentrado em um único lugar (Gênesis 11.1-9).

Outro discurso que tem sido repetido há muito tempo é que uma sociedade cujas famílias têm muitos filhos tem seus índices de pobreza aumentado. Isso, porém, não é verdade. A pobreza não é decorrente de uma sociedade ter famílias grandes. A falta de condições de prosperar somada ao fato de se ter famílias com muitos filhos apenas amplia a pobreza, não a causa. Logo, se tentarmos diminuir a pobreza levando as pessoas a diminuir a quantidade de filhos, não só não resolveremos o problema da pobreza como criaremos outros problemas. É um cobertor curto: se cubro a cabeça, descubro os pés; se cubro os pés, descubro a cabeça. Se são os países mais prósperos financeiramente que estão sofrendo mais com a baixa taxa de natalidade (não somente eles, mas principalmente eles), isso não é porque a baixa taxa de natalidade enriquece mais as sociedades, mas porque esses países, além de serem mais abertos a essas discursos e campanhas de desestímulo à procriação do que, por exemplo, os países da África, têm também uma classe média maior e mais rica, que acaba, pela prosperidade material, se tornando mais individualista e mais voltada para divertimentos e entretenimentos do que para investir nas relações e em família.

Por outro lado, em contrapartida a essa campanha internacional de desestímulo a se ter muitos filhos, temos, nos últimos cinco anos, dois terços dos países europeus, além da Rússia, lançando medidas para aumentar as suas taxas de natalidade, usando desde bônus pagos a cada bebê nascido até licença-paternidade remunerada. A Coreia do Sul está fazendo o mesmo. A Rússia estabeleceu ainda merendas escolares gratuitas por quatro anos para mães de primeira viagem e redução de impostos para famílias numerosas. A Itália, por sua vez, chegou a oferecer um pagamento único de 800 euros por cada filho nascido, enquanto a Rússia propôs um pagamento único equivalente a R$ 30 mil para famílias que tivessem dois filhos ou mais.

Como se vê, governos de vários países tentam reverter agora os efeitos de décadas de políticas antiprocriação pelo mundo. Se tivessem seguido o preceito bíblico e impedido essas políticas em seu início, não estariam nessa situação hoje.

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