O Evangelho Segundo João é uma peça literária da Nova Aliança de estilo ímpar. Orlando Boyer o denominou de “João: o Evangelho do Filho de Deus”. Diferente dos três evangelhos sinóticos, o evangelho de Jesus na perspectiva joanina traz detalhes, relatos e narrativas que não encontramos em nenhum outro lugar do Novo Testamento. O 4º Evangelho foi o último a ser escrito, no final do século I d.C., por volta do ano 80 a 95 da Era Cristã, e tem como objetivo principal apresentar e defender a divindade de Jesus Cristo (João 20.30). Para tanto, João utiliza vocábulos da língua grega, garimpando termos da filosofia pré-socrática e dando-lhes uma roupagem teológica para elucidar a doutrina da deidade de Jesus.
O texto em apreço é um relato com a peculiaridade de João,
ao narrar o encontro secreto de Jesus com Nicodemos. Esse diálogo entre o
Mestre dos mestres e um mestre da lei estabelece uma das doutrinas elementares
da dispensação da graça, a saber: a doutrina do novo nascimento. É em
decorrência do conceito de regeneração apresentado pelo Senhor Jesus a
Nicodemos que Ele deixa clara a sua missão ao ser enviado ao mundo: morrer em
nosso lugar, para que, uma vez moreendo a nossa morte, nós pudéssemos viver a
vida eterna.
Jesus, então, reverbera para Nicodemos: “Porque Deus amou o mundo
de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê
não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16). Aqui, apontamos pelo menos três
grandes pontos localizados no supramencionado versículo. Em primeiro lugar,
vemos em João 3.16 um grande Deus. Esse é o Deus que detém todo o poder, que
realizou feitos grandiosos ao longo das páginas da Bíblia e da história. Ele
criou os céus e a Terra (Gênesis 1.1); Sua criação é um pequeno lampejo da
imensidão do Seu extenso poder (Salmos 19.1-4); Ele é o sustentador e
mantenedor de todas as coisas. O Deus Todo-Poderoso fez jorrar água da rocha (Êxodo
17.6), abriu o mar (Êxodo 14.21), enviou o maná para o Seu povo no deserto (Êxodo
16.1-10) e levantou líderes para zelar pelo Seu povo (Salmos 78.70-72). O
Eterno também curou a esterilidade de ventres inférteis (Gênesis 21.2; 25.21;
30.22; Juzíes13.2,3; 1 Samuel 1.29,20; Lucas 1.24,25). O Senhor abriu as águas
do rio Jordão para que o Seu povo avançasse rumo à Canaã (Josué 3.15,16). É Ele
que levanta reis e remove reis (Daniel 2.21). O grande Deus é onipotente (Salmos
91.1; Jr 32.17), onipresente (Isaías 57.15; Salmos 33.13,14) e onisciente (Jó 37.16;
1Jo 3.20; Salmos 139).
Em segundo lugar, encontramos no texto que está sob a nossa análise
um grande amor. A mais bela história de amor não pode ser lida nos versos de
Shakespeare, nos romances e histórias de amor versadas nas páginas de clássicos
da literatura universal. A mais esplêndida história de amor não é encontrada
nos filmes e séries, que reproduzem as venturas amorosas na esfera humana. O
maior brado de amor foi dito a partir da cruz do Calvário. Quando Jesus assumiu
os nossos pecados, culpas e iniquidades no lenho da cruz, Ele se tornou a prova
do amor de Deus para conosco, “em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores”
(Romanos 5.8; Isaías 53.1-7). É esse amor que nos constrange (2 Coríntios
5.14), que nos impulsiona a romper com os laços pecaminosos e nos remove da
sepultura para o trono, fazendo-nos assentar nas regiões celestiais em Cristo Jesus
(Efésios 2.1-6). É esse amor que transforma em nova criatura o mais desgraçado
dos pecadores, por mais que tenha cometido as práticas mais execráveis possíveis
(1 Timóteo 1.15) e o faz andar em novidade de vida (Romanos 6.4), pois, uma vez
alcançado pela Graça, o outrora pobre pecador agora faz parte da família de
Deus (Romanos 8.17).
Em terceiro lugar, encontramos em João 3.16 uma grande
dádiva. Um presente que só Deus poderia dar à humanidade: a concessão da Salvação
como dom gratuito de Deus para aqueles que creem na mensagem do Evangelho e
entregam suas vidas a Deus pelo mérito de Cristo. Essa graça é tão inexplicável
que não conseguimos encontrar outra palavra para aplicar a esse texto, além do
termo graça, que é o favor imerecido de Deus para conosco. O justo morrendo
pelos injustos, o Santo pelos profanos, o Verbo divino se fazendo carne, esvaziando-se
a si mesmo (João 1.14; Filipenses 2.5-8). Achado na forma humana, Cristo foi
escorraçado, rejeitado, pisado, esbofeteado, humilhado e pregado em uma cruz
para morrer em nosso lugar. Diante disso, faço minhas as palavras do autor de Hebreus:
“Como escaparemos nós, se não nos atentarmos para uma tão grande salvação?” (Hebreus
2.3).
Ao apreciarmos João 3.16, que é conhecido como o texto áureo
da Bíblia, concluímos que o grande Deus teve um grande amor, enviando Seu Filho
Unigênito como propiciação pelos nossos pecados e nos deu uma grande dádiva,
porque Ele “veio para o que era seu, e os seus não receberam. Mas a todos quantos
o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filho de Deus: aos que creem em
seu nome” (João 1.11,12).
Referências
Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2002.
BOYER, Orlando S. Espada Cortante, volume 2. Rio de Janeiro:
CPAD, 2006.
por Geovane Leite
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