Essa perícope é corroborada por outras passagens bíblicas?
O versículo de Mateus 12.45 registra as seguintes palavras de Jesus: “Então vai, e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele, e entrando, habitam ali; e são os últimos atos desse homem piores do que os primeiros. Assim acontecerá também a esta geração má”. Este versículo, embora inserido num discurso simbólico e pastoral, nos oferece uma importante janela para compreendermos a realidade dos espíritos malignos à luz do ensino de Jesus Cristo. De imediato, a expressão “espíritos piores do que ele” já nos aponta para a possibilidade de distinção qualitativa entre demônios. Jesus afirma que aquele espírito que fora expulso de um homem retornou trazendo outros sete que eram “piores”, termo que, no grego original (cheirón), indica uma condição mais grave, mais destrutiva ou mais maligna. A inferência direta do texto é clara: há espíritos malignos que se diferenciam em intensidade de maldade, capacidade de opressão ou grau de perversidade.
Essa ideia não é isolada no Novo Testamento. Em Marcos 9.29,
ao ser questionado sobre por que os discípulos não conseguiram expulsar um
demônio, Jesus respondeu: “Esta casta não pode sair com coisa alguma, a não ser
com oração e jejum”. A palavra “casta”, traduzida do grego genos, aponta para
tipos ou categorias diferentes de demônios, o que também sugere graus distintos
de resistência espiritual, poder destrutivo e, por extensão, de maldade.
Outra referência significativa é encontrada em Efésios 6.12,
onde o apóstolo Paulo nos alerta que nossa luta não é “contra carne e sangue,
mas contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas
deste século, contra as hostes espirituais da maldade”. Este versículo
apresenta uma estrutura hierárquica entre os seres espirituais malignos,
sugerindo que há uma organização entre eles, talvez similar à de exércitos ou
impérios. Adicionalmente, no Antigo Testamento, embora o foco esteja menos
detalhado sobre o mundo demoníaco, encontramos em Daniel 10 um vislumbre das
batalhas espirituais travadas entre seres angelicais e entidades malignas. O
“príncipe da Pérsia” e o “príncipe da Grécia”, mencionados na visão de Daniel,
são interpretados por muitos estudiosos como seres espirituais malignos que
governavam regiões e sistemas, o que implica uma distinção de poder, influência
e atuação.
Concluímos, portanto, que sim, a Bíblia sustenta a ideia de que
existem graus de maldade entre os demônios. Jesus afirmou que alguns são
“piores” do que outros; Paulo descreveu estruturas hierárquicas nas regiões celestiais;
e os evangelhos narram confrontos com espíritos imundos de diferentes
capacidades. Esta realidade exige que a Igreja do Senhor esteja revestida de
toda a armadura de Deus (Efésios 6.10-18), discernindo, com oração, jejum,
santidade e autoridade espiritual, os desafios impostos por esse inimigo
invisível, mas real. Em Cristo, temos não só discernimento, mas também poder e
vitória sobre todo o mal.
por Brayan Lages
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