Média é de 5 mil cristãos martirizados por ano; Natal foi sangrento
A Nigéria tem se destacado nos últimos anos como um dos principais focos de perseguição aos cristãos, com assassinatos, apropriação de terras, sequestros outras formas de violência que tornam a vida da igreja naquele país muito difícil. Segundo relatório da International Christian Concern (ICC) – organização que luta pelos direitos humanos dos cristãos no mundo –, nos últimos 20 anos, cerca de 100 mil cristãos foram assassinados na Nigéria. Isso dá uma média de 5 mil cristãos martirizados anualmente naquele país.
Jeff King, presidente da ICC, destaca que o relatório da
organização, denominado Persecutors of the Year (“Perseguidores do Ano”),
mostra a extensão dos problemas. “A maioria não tem ideia do que está
acontecendo na Nigéria”, frisou. O relatório também revela que 3,5 milhões de cristãos na Nigéria perderam
suas terras para muçulmanos radicais e criminosos e que “o governo praticamente
não fez nada”. Segundo o especialista, “os islâmicos radicais estão
incorporados ao governo”. Ele disse que estes indivíduos e grupos “possuem os órgãos
do Estado”, incluindo o exército, a agência de inteligência e a polícia, o que
dificulta ainda mais qualquer progresso.
Uma das ironias que rodeiam a Nigéria é que a população
cristã é enorme. “Quase metade da população é cristã. E uma proporção assim tão
grande faz com que o problema da perseguição pareça confuso para quem está de
fora”, ressalta King. “O que temos visto nos últimos dez, vinte anos, é que os
cristãos foram expulsos do norte do país. Agora, a batalha chegou ao centro do
país, que era em grande parte cristão, e agora eles estão sendo expulsos também
de lá. E os ataques também estão indo para o sul”, explica.
Carnificina contra cristãos em plena noite de Natal
Pelo menos 140 cristãos
foram assassinados na Nigéria em ataques promovidos na véspera e no dia de
Natal passados, no estado de Plateau, na Nigéria. Homens armados invadiram
aldeias cristãs com um único objetivo: matar. Os cristãos nigerianos vivem sob constantes
ataques de extremistas islâmicos nos últimos anos, de maneira que este é o mais
recente capítulo de uma longa onde violência que parece não ter fim.
De acordo com o chefe do governo local, Caleb Mutfwang, em entrevista
à agência de notícias France Press, os ataques atingiram 20 comunidades da
região e ainda deixaram mais de 300 pessoas feridas. As autoridades nigerianas
afirmaram que os agressores atacaram os cristãos “sem razão alguma e sem que
houvesse provocações”. Segundo os moradores da região, demorou mais de 12 horas
até que as forças de segurança pública respondessem ao pedido de ajuda, o que é
uma denúncia recorrente em países onde ocorrem massacres de civis cristãos.
Até o fechamento desta edição, a ONG Anistia Internacional
na Nigéria havia confirmado pelo menos 140 mortos. Em entrevista aos canais de
televisão locais, o governador Mutfwang disse que “só na província de Mangu enterramos
15 pessoas” e “em Bokkos contamos pelo menos 100
cadáveres. Ainda estamos realizando um balanço das mortes em Barkin Ladi”. Em
outras palavras, o número de mortes pode ser bem maior, ainda mais que algumas
pessoas permaneciam desaparecidas.
“O fracasso descarado das autoridades em proteger o povo da
Nigéria se torna gradualmente a normalidade”, declarou Isa Sanusi, diretora da
Anistia Internacional na Nigéria. O presidente nigeriano Bola Tinubu, eleito em
2023 depois de prometer enfrentar os desafios da segurança pública que o seu
antecessor não conseguiu resolver, determinou as agências de segurança para
“vasculhar cada trecho da região e prender os culpados”. Em nota, o governo da
Nigéria também determinou a “mobilização imediata de recursos de socorro” para
os sobreviventes e o pronto atendimento médico para os feridos.
Segundo a porta-voz da agência Portas Abertas na África Subsaariana,
Jo Newhouse, as comunidades agrícolas cristãs vêm sofrendo esses tipos de
ataques por extremistas entre o povo fulani há muito tempo. “É trágico que
muitos irmãos que ansiavam por uma celebração pacífica de Natal com seus entes
queridos e suas congregações locais tenham sido brutalizados mais uma vez. Aqueles
que conseguiram escapar da carnificina com vida estão agora desenraizados,
traumatizados e de luto. Precisamos orar fervorosamente para que nossos irmãos
experimentem a graça abundante do Senhor em meio a essas circunstâncias”,
relatou Newhouse.
Conforme os dados da Lista Mundial da Perseguição (LMP) 2023
da agência Portas Abertas, a Nigéria é um dos países mais mortais do mundo para
os cristãos hoje. Mais de mil
cristãos foram assassinatos em todo mundo ano passado somente na Nigéria.
Pastor sequestrado e morto
Em 14 de novembro passado, ocorreu a trágica morte do reverendo
David Musa, pastor da Igreja Evangélica Ganha Tudo, na região de Obajana, no
condado de Lokoja, na Nigéria. Terroristas armados haviam sequestrado o pastor
em sua fazenda no dia 11 de novembro. Os sequestradores exigiram inicialmente milhões de nairas (cerca de 23.676
dólares). De acordo com o site de notícias The Christian Post, dos Estados
Unidos, um membro da igreja, John Emmanuel, compartilhou a triste notícia. Ele
explicou que os sequestra-dores mataram o pastor após o pagamento do resgate. A
igreja, incapaz de reunir o valor total exigido, conseguiu pagar apenas uma
fração.
“Reverendo Musa foi morto pelos terroristas depois que a
liderança da igreja pagou um resgate de 1 milhão de nairas”,
relatou Stephen Danladi, outro membro da igreja. Os sequestradores concordaram
com o pagamento reduzido antes de dois membros da igreja irem resgatar o
pastor. Contudo, ao retornar, o pastor foi morto pelos sequestradores. O
conselho da igreja do distrito de Obajana confirmou o sequestro e o assassinato
do pastor Musa em um comunicado, pedindo orações pela família, pela igreja e
pelo conselho da igreja local.
Estudante cristão foge do cativeiro após 2 anos
Ainda em novembro passado, um estudante cristão que fora sequestrado
por homens armados que invadiram a sua escola cristã na Nigéria encontrou a
liberdade depois de escapar do cativeiro depois de mais de dois anos preso. Treasure
Ayuba tinha apenas12 anos quando ele e outros 120 estudantes foram sequestrados
da Bethel High School em Damishi, estado de Kaduna, em julho de 2021.
Segundo o site Christian Today, agora com 14 anos, Ayuba era
o último sobrevivente do sequestro que ainda estava em cativeiro antes de
conseguir escapar. Os outros foram libertados aos poucos depois que a escola e
os pais se uniram para pagar centenas de milhares de libras em resgate. Um
pastor familiarizado com a situação, anônimo por questão de segurança, falou
sobre a fuga de Treasure. “Ele caminhava à noite e se escondia durante o dia. Eventualmente,
ele encontrou caçadores que o levaram para sua cidade natal e a partir daí ele
conseguiu encontrar o caminho para casa”, revelou o pastor.
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