Como interpretar a frase de Jesus de que as crianças pertenciam ao Reino de Deus? O Mestre se referia somente aos filhos dos crentes ou a qualquer criança?
A Paz do Senhor, queridas irmãs e irmãos leitores do MP. Como professor que sou, fico sempre muito feliz com boas perguntas. Tenham certeza disso: indagações despretensiosas e humildes sempre suscitam as melhores discussões. Os leitores de nosso jornal MP desejam saber sobre o estatuto soteriológico das crianças em geral. Dito de outra forma, a pergunta endereçada procura entender qual a condição espiritual de todas as crianças, tanto aquelas que vivem em lares orientados pelos valores cristãos como as que são criadas apartados da Palavra.
Apesar da pergunta não especificar o texto bíblico que
suscita a dúvida, parece ser possível deduzir que nosso leitor está referindo-se
às palavras de Jesus ditas em Mateus 19.14, Marcos 10.14,15 e Lucas 18.16,17.
Partindo dessas referências, podemos compreender o debate sob dois aspectos importantes.
Em primeiro lugar, fica claro, numa rápida leitura dos textos, que nesta cena
Jesus não está tratando de questões que se referem apenas à salvação de crianças.
Na verdade, as crianças são tomadas como modelos, paradigmas para os aspirantes
à salvação; ou seja, quem é alcançado pela graça experimenta outro modelo de
vida; abandona as velhas práticas de pecado, rebeldia e maldade, para receber
de Deus um novo coração e, assim, desenvolver uma vida em pureza e
simplicidade.
Como canta o salmista no Salmo 15, a pureza é pré-requisito para
quem deseja morar na pátria celeste e, por isso, tal como Jesus declarou a
Nicodemos, precisamos passar pela experiência do novo nascimento (João 3.3,7),
para assim experimentarmos a nova existência, pautada em valores e critérios
celestiais. Como se depreende da explicação do Mestre ao experiente mestre
judeu, assim como não se tratava de um processo físico de rejuvenescimento para
retornar ao ventre materno, mas, sim, de um processo espiritual de libertação
das velhas práticas iníquas, também ao tratar sobre a questão de receber o
Reino dos Céus como uma criança, Jesus não está falando sobre práticas de
infantilização de pessoas, mas da experiência de ser guiado em todas as
escolhas da vida pelas mãos poderosas do nosso bondoso Pai Eterno.
Retomando à questão principal de nosso leitor, para ser
devidamente atencioso à sua dúvida, como cristãos pentecostais clássicos, ligados
à perspectiva soteriológica assumida por nossa igreja ao longo dos anos, nós
não acreditamos na danação eterna, previamente determinada, daqueles que não
são ainda capazes de discernir sobre suas ações. Um inferno com crianças inocentes
é algo tão bizarro quanto inconciliável com nossa tradição bíblica. Assumir que
somos todos pecadores, e que não há um justo sequer (Romanos 3.23; 5.12) –
inclusive entre os pequeninos –, é bem diferente de advogar que estes, deliberada
e conscientemente, pecam para a morte (1 João 5.16).
Por fim, para encarar o cerne da questão inicial
apresentada, na perspectiva soteriológica tradicional de nossa igreja quanto às
crianças, elas precisam de salvação como um adulto, por todos sermos descendentes
de Adão, contudo estas vivem alcançadas pelo sacrifício universal de Jesus até
o momento de – por decisão livre – agirem com pecaminosidade. Não cremos na
condenação de crianças pelo mesmo motivo que não as batizamos – por entender
que as tais ainda não têm consciência ou domínio de seus atos e, por isso
mesmo, não poderiam ser responsabilizados por eles. Não importa onde moram,
todas as crianças são de Jesus.
por Thiago Brazil
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