Igrejas que mais parecem boates

Igrejas que mais parecem boates


Umas das marcas da pós-modernidade é o desconstrucionismo, que chegou ao arraial evangélico mediante certas doutrinas filosóficas, como o pragmatismo, derivado do pensamento de Charles Sanders Peirce (1839-1914), William James (1844-1910) e Oliver Wendell Holmes Jr. (1841-1935). Estes e outros filósofos posteriores investigavam as coisas concretas e criticavam as concepções metafísicas tradicionais.

Pragmatistas se baseiam no conceito de que ideias e atos só são verdadeiros quando servem para a solução imediata de problemas. Ensinamentos e condutas são validados pelo seu bom êxito prático, havendo, assim, uma tendência de trilhar-se caminhos mais fáceis para consecução de pretensos bons resultados. Nesse caso, o que funcionar melhor é o certo; não há compromisso com princípios ou valores; o fim justifica os meios (cf. Mateus 7.13,14).

No campo da moral, o pragmatismo se relaciona com o hedonismo, centrado na busca do prazer, e o utilitarismo, que visa — segundo Jeremy Bentham (1748-1832) à maior felicidade possível para o maior número de pessoas. Junta-se a essas filosofias o multiculturalismo, que prioriza a ideia de que todas as culturas são moralmente equivalentes. Como há várias comunidades humanas, necessariamente serão muitas as diferentes “verdades”, que podem existir umas ao lado das outras.

Essas doutrinas filosóficas estão por trás de ensinamentos e práticas da “igreja emergente”, movimento que, no afã de atender ao ser humano de acordo com as suas necessidades pós-modernas, tem procurado desconstruir doutrinas, valores e costumes. Quando aplicado à pregação e à prática evangélicas, o pragmatismo, especialmente, se torna a base para o surgimento de heresias e modismos. Pastores pragmatistas não perguntam: “Isto é bíblico?”, pois querem saber o que funciona, agrada e motiva as pessoas, gerando crescimento numérico.

Um exemplo claro disso é o fato de muitas igrejas não parecerem mais com igrejas! Seus líderes adotam uma abordagem pragmática: priorizam as preferências das pessoas, fazendo com que o culto não seja culto, e sim uma grande festa dançante e cheia de novidades. Eles ignoram que, segundo o Novo Testamento, quando o povo de Deus se reúne, tudo deve ser feito “decentemente e com ordem”, a fim de que — mediante as ministrações do louvor (salmo), da Palavra (doutrina) e do Espírito (revelação, língua e interpretação) — todos sejam edificados (1 Coríntios 14.26-40).

Por que dificilmente vemos tais ministrações, especialmente de modo conjunto? E por que os lugares de culto (também conhecidos como igrejas, na atualidade) estão cada vez mais parecidos com boates, bares ou casas de eventos? Por influência da “igreja emergente” — que tem como gurus os famosos líderes Brian McLaren, Dan Kimball e Rick Warren —, muitas igrejas se mostram “inclusivas”, progressistas, relativistas, apresentando ao mundo mensagens que atendem aos anseios do homem pós-moderno.

Consequentemente, o “evangelho” está se tornando tão mundano, e o mundo tão “evangélico”, que já não se sabe mais onde começa um e termina o outro. Aliás, líderes influenciados pelo movimento “igreja emergente” não gostam do termo “igreja”. Preferem “comunidade”, “projeto” ou, mesmo estando no Brasil, “church”. Mas o primeiro a empregar esse termo, que hoje muitos evitam — “igreja” (gr. ekklesía) —, foi ninguém menos que o Senhor Jesus (Mateus 16.18)!

Boa parte dos líderes e membros da “igreja emergente” veio de igrejas conservadoras e tradicionais. Eles não suportam sermões expositivos nem Teologia Sistemática. Protestam contra a visível falha do evangelicalismo em interagir com outras tradições e contra o conservadorismo de classe média. Pensam sobre integridade e credibilidade de sua fé numa cultura pós-moderna. No entanto, sua fonte de autoridade não é a Palavra de Deus, infalível e inerrante, e sim os pressupostos do pós-modernismo.

Na essência desse movimento desconstrucionista está a convicção de que mudanças na cultura sinalizam que um novo segmento evangélico está emergindo, o qual tolera diferenças e trata com generosa dignidade pessoas que sustentam visões opostas. Essas “igrejas” da pós-modernidade — que parecem cada vez mais com boates — têm como trunfo o fato de não excluírem pessoas, como sempre fizeram (segundo dizem) as igrejas tradicionais, ao pregar o arrependimento em seus cultos arcaicos.

Alguns dos seus líderes afirmam que não precisam de púlpito, pois, na Igreja primitiva, todos estavam no mesmo nível, sendo desnecessário o uso de qualquer tribuna. Ora, o púlpito não é invenção das igrejas tradicionais! Jesus procurava lugares mais altos para falar ao povo (Lucas 5.1-3). E já nos dias de Esdras havia um púlpito de madeira de onde se lia a Palavra de Deus, “declarando e explicando o sentido” (Neemias 8.1-8).

Visando a agradar as pessoas, os líderes da “igreja emergente”, quando não eliminam o púlpito, procuram torná-lo o mais atraente possível. Usam tambores, pranchas, parte dianteira de carros etc. Além disso, pintam as paredes de preto e escurecem o ambiente. Quanto ao pregador, assentado em um banquinho, cercado de luzes que brotam do chão e embalado com músicas de fundo melodramáticas, fala como se estivesse em uma apresentação de stand-up.

Louvor congregacional? Corais? Nem pensar! Líderes “emergentes” preferem a “balada gospel”, com muita dança e coreografia, ao som de ritmos eletrizantes e luzes coloridas. Há igrejas que até contratam músicos seculares! “É isso que a galera gosta”, dizem. “Chega de pregação expositiva! Ninguém suporta mais isso”. Nas igrejas que parecem boates, a pregação “boa” não é a exposição das Escrituras, e sim a pregação malabarista, a animação de auditório, o coaching etc.

Quando criticados, os proponentes da “igreja emergente” dizem que tudo é válido para “ganhar almas”. Não por acaso, há blocos de carnaval gospel, festa “jesuína” (imitação da festa junina), Halloween gospel, que chamam, irrefletidamente, de “Elohim”. Entretanto, quando Paulo disse: “Fiz-me tudo para todos, para, por todos os meios, chegar a salvar alguns” (1 Coríntios 9.22), não estava falando em salvar almas, de fato, pois a salvação é pela graça de Deus (Tito 2.11). Antes, referiu-se a estratégias de evangelização, não pecaminosas nem prejudiciais à pregação Cristocêntrica, evidentemente (cf. 1.18-23; 2.1-5).

O Deus da Assembleia não mudou! E não quer que a Assembleia de Deus se pareça cada vez mais com o mundo! Pregação não é stand-up nem animação de auditório! Culto não é show! Igreja não é boate! Não nos conformemos com as influências filosóficas desses tempos pós-modernos (Romanos 12.1,2). Deus continua dizendo: “prega a palavra” (2 Timóteo 4.2, ARA). Preguemos, pois, o que as pessoas precisam escutar, e não o que elas desejam ouvir!

por Ciro Sanches Zibordi

Compartilhe este artigo. Obrigado.

Comentário

Seu comentário é muito importante

Postagem Anterior Próxima Postagem