A minha experiência na Escola Dominical e a de inúmeros outros irmãos e irmãs atestam a importância da Escola Dominical na vida da igreja
O pastor e teólogo Claiton Ivan Pommerening é o entrevistado desta edição da Ensinador Cristão. Ao longo desta conversa, ele discorreu sobre os principais desafios enfrentados na área de educação cristã hoje, sobre a importância da Escola Dominical em sua vida e para a vida da igreja, sobre o alcance do colégio CEEDUC às famílias em Joinville (SC) através do ensino secular influenciado pela Palavra de Deus sobre a necessidade de a Teologia estar a serviço da Igreja e traz algumas orientações fundamentais para quem quer se dedicar à área do ensino de forma relevante.
O pastor Claiton é comentarista de Lições Bíblicas de Escola
Dominical da CPAD e serve a Deus na Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Joinville
(SC) como pastor auxiliar. Ele é graduado em Teologia e Ciências Contábeis, com
doutorado e mestrado em Teologia pelas Faculdades EST; é diretor, professor e pesquisador de Teologia na Faculdade
Refidim em Santa Catarina; diretor do colégio CEEDUC; editor-chefe
da Azusa Revista de Estudos Pentecostais e editor executivo da Revista REPAS/CPAD.
Qual a importância da Escola Dominical para a sua vida,
em particular, e para a vida da igreja?
Como assembleiano desde o berço, eu cresci no ambiente da
Escola Dominical. Tenho lembranças de quando era criança, em que meu pai, sendo
pastor e professor de Escola Dominical, preparava e estudava as lições da CPAD
em casa. Depois, quando aprendi a ler, um dos meus passatempos era ler a lição
e ver as observações que meu pai havia feito. Ficava muito encantado com aquele
material. Sendo frequentador assíduo da Escola Dominical desde criança, aos 13
anos comecei a ministrar a lição de adultos na classe de jovens, pois ainda não
haviam sido criadas as lições específicas de jovens e depois disso, nunca mais
parei de ser aluno e professor de Escola Dominical. Essas experiências na
Escola Dominical forjaram minha vivência e compreensão do Evangelho, me fizeram
conhecer Jesus, bem como os primeiros rudimentos teológicos.
A minha experiência na Escola Dominical e a de inúmeros
outros irmãos e irmãs atestam para a importância da Escola Dominical na vida da
igreja. Sem Escola Dominical, a igreja, e consequentemente os crentes, definham
espiritualmente e se tornam superficiais na vivência do Evangelho. A Escola
Dominical é a melhor agência geradora de discípulos de Jesus que seguem os
passos do mestre da Galileia.
Além disso, a Escola Dominical é um instrumento de
evangelização, discipulado e missão. Ela ajuda a formar novos líderes, a
fortalecer a comunhão entre os irmãos e a ampliar o testemunho cristão na
sociedade. A Escola Dominical também é uma forma de preservar e transmitir a
tradição e a identidade da igreja, bem como de promover a renovação e a
atualização da sua mensagem.
Que ferramentas podem ser utilizadas na Escola Dominical
a fim de otimizar o ensino e conquistar mais alunos conscientes de suas
responsabilidades no Reino de Deus?
A mais nobre das ferramentas – se é que podemos chamá-la de
ferramenta – é a exposição contextualizada, inteligente e atrativa da Palavra
de Deus numa linguagem acessível ao cidadão do século 21. O preparo didático e
pedagógico do professor, bem como o acesso a subsídios teológicos disponíveis
em vários meios midiáticos e textos, são imprescindíveis. Estes precisam fazer
frente às inúmeras concorrências tecnológicas e midiáticas que chamam atenção
do aluno, geralmente mais do que a própria sala de aula. Outra ferramenta é a
apropriação, por parte do professor, das tecnologias disponíveis, sabendo que
cada vez mais elas estarão evoluindo e presentes, ciente de que o aparelho
celular é uma potente sala de aula com tudo à disposição do aluno. O estudo
sistemático e contínuo é outra ferramenta imprescindível. Não há nada pior na
Escola Dominical do que um professor despreparado. As ferramentas de
administração, liderança e marketing também são necessárias.
O senhor trabalha há um bom tempo na área da educação,
inclusive com o Colégio CEEDUC. Devido ao atual contexto cultural do país,
muitas famílias, inclusive nãoevangélicas, têm procurado as instituições de
ensino cristãs. Quais os principais desafios nessa área?
As escolas cristãs devem oferecer uma educação integral, que
considere as dimensões cognitiva, afetiva, social e espiritual dos alunos. Para
isso, é preciso que os professores, gestores e funcionários estejam alinhados
com os princípios e valores cristãos que norteiam a proposta educacional da
instituição. Além disso, é necessário que as escolas cristãs estejam abertas ao
diálogo e ao respeito à diversidade religiosa, cultural e étnica, sem perder a
sua identidade confessional e sua ética pautada no Evangelho.
As escolas devem buscar conhecer as necessidades, os anseios
e as dificuldades das famílias que procuram seus serviços educacionais,
inclusive as nãoevangélicas. É fundamental que as escolas cristãs apresentem um
diferencial de qualidade em relação às demais escolas, tanto no aspecto
acadêmico quanto no aspecto pastoral, não apenas tendo o diferencial de serem
cristãs, mas também tendo o diferencial da qualidade e da excelência, tendo em
vista a excelência do Reino de Deus.
As escolas cristãs devem lidar com os altos custos
operacionais, os impostos, a concorrência acirrada, a inadimplência dos alunos,
a falta de recursos para investimentos e a legislação educacional complexa.
Esses fatores podem comprometer a sustentabilidade e a viabilidade das
instituições de ensino cristãs. Por isso, é essencial que as escolas cristãs
tenham uma gestão profissional, transparente e eficiente, que busque otimizar
os recursos disponíveis, reduzir os gastos desnecessários, captar novos alunos e
fidelizar os antigos.
Além disso, as escolas cristãs não podem deixar se levar
pela grande onda de desinformação que invade o país, oriunda de vários
espectros ideológicos, pois prejudicam o aprendizado. Isso requer muito
discernimento dos tempos que estamos vivendo, oração e sabedoria para tomar as
decisões corretas. Envolve também constante atualização pedagógica e teórica,
pois muito rapidamente as informações que neste momento são relevantes daqui a
pouco não serão mais. Outra necessidade de discernimento é a não politização da
educação, pois, ao acontecer, perde-se o propósito da escola, que é educar para
o futuro, para que o educando se torne mais colaborativo, participativo,
humanizado e praticante das virtudes do Evangelho.
Para além disso, o grande desafio é convencer as lideranças
evangélicas que chegou o grande momento de as igrejas terem suas próprias
escolas que, de início, poderão demandar grandes investimentos financeiros e
pouco retorno, mas que, com uma boa gestão administrativa, poderão se tornar em
grandes rendimentos sociais e especialmente espirituais.
Como teólogo, fale sobre a importância de não apenas se
fazer teologia academicamente, mas de colocá-la a serviço da comunidade de
irmãos, tornando-a relevante para a vida da igreja.
Sempre oriento nossos alunos à necessidade de que a Teologia
deve tornar a pessoa mais humilde e servidora. Se o estudo faz com que a pessoa
se ensoberbeça e a faz se voltar contra a igreja ou sua liderança, é prova de
que não lhe está fazendo bem. Jesus mesmo enfatizou que entre Seus discípulos
não imperam os valores do mundo (Marcos 10.43), mas os valores do Reino de
Deus. Ele mesmo pegou a toalha e a bacia e serviu Seus discípulos. A atitude
principal de todo teólogo ou estudante de Teologia deve ser o serviço e jamais
orgulhar-se de seu conhecimento ou nível intelectual. Assim, a Teologia sempre
deve se colocar a serviço da igreja e da comunidade. O ponto de partida é a
comunidade de fé. O teólogo deve agir e pensar em função de sua comunidade,
servindo-a com humildade e estando inserido em sua vida e missão. A Teologia
leva a servir os outros, conduzindo-os na sã doutrina de Cristo. A Teologia
deve ainda ser espiritual, fruto da comunhão com Deus pelo Espírito Santo, que
ilumina a mente, aquece o coração e inspira a vontade do teólogo cristão.
Dessa forma, para ser relevante, a Teologia deve ser crítica
de si mesma deve dar ferramentas à igreja e à sua liderança deve ser crítica da
pregação e do agir da Igreja para que as ações e palavras da Igreja sejam realmente
reflexo das ações e da Palavra de Deus. Assim agindo, a Teologia e o teólogo
não buscam a autoglorificação, mas a glorificação de Deus.
Esses princípios podem ajudar o teólogo cristão a fazer uma
teologia que não seja apenas acadêmica, mas também prática que não seja apenas
teórica, mas também vivencial que não seja apenas informativa, mas também
formativa que não seja apenas racional, mas também do coração. Assim, a
Teologia pode servir à comunidade de irmãos como um instrumento de edificação,
orientação e capacitação para o serviço do Reino de Deus.
Quais conselhos o senhor daria para quem almeja ingressar
na área do ensino?
Gostar de ler e de estudar, ou ao menos se esforçar para
fazê-lo. Somente quem faz a autogestão do seu conhecimento consegue ter
amplitude e profundidade para ensinar. E buscar uma formação acadêmica
adequada. Existem cursos de graduação, pós-graduação e extensão em Educação
Cristã, Teologia, Pedagogia, Psicologia e outras áreas afins que podem
contribuir para o preparo profissional e ministerial. Também é preciso
desenvolver as habilidades de leitura, interpretação, comunicação e expressão.
É necessário estudar a Bíblia com profundidade e fidelidade.
A Palavra de Deus é a fonte primária e suprema da educação cristã, pois revela
a vontade de Deus para a vida do ser humano e da igreja. É preciso se dedicar
ao estudo sistemático, exegético e prático das Escrituras.
Outra coisa muito importante é saber ouvir a voz do Espírito
Santo e, para isso, é preciso desenvolver a disciplina da oração, da súplica e
do silêncio, algo negligenciado num mundo agitado, competitivo e mercadológico.
Somente os que ouvem o Espírito conseguem discernir a confusão que o nosso
mundo vive e assim atingirem as necessidades do coração das pessoas com a
Palavra de Deus.
Deve-se também desenvolver uma visão integral da educação
cristã. A educação cristã não se limita ao ensino formal ou informal da
doutrina cristã, mas abrange todas as dimensões da vida do educando: cognitiva,
afetiva, social e espiritual.
Por fim, é preciso participar de uma comunidade de fé e de
aprendizagem. A educação cristã é uma tarefa coletiva e cooperativa, que
envolve a participação ativa e responsável de toda a igreja. Assim, é salutar
integrar-se a uma comunidade de fé que valorize e apoie a educação cristã em
seus diversos níveis e modalidades.
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