Se no Antigo Testamento não tem nenhuma profecia que afirme que o Cristo seria chamado “Nazareno”, por que Mateus afirma que Jesus foi morar em Nazaré para cumprir tais profecias? Como interpretar corretamente o texto que lemos em Mateus 2.23?
Nos evangelhos encontramos a realização das promessas de Deus, vemos o Verbo Divino se encarnar e habitar entre nós, cheio de graça e verdade (João 1.14). Em se tratando da construção textual dos evangelhos, sabemos que cada autor descreveu os acontecimentos da vida e obra do Senhor Jesus com um olhar próprio. Embora os sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) narrem a história por uma ótica similar, cada um dos evangelistas tem as suas especificidades e singularidades, em cada relato constatamos detalhes, ênfases que são peculiares de cada autor, sabemos que Mateus escreveu para os judeus, Marcos para os romanos, Lucas para os gregos e João para todos os cristãos de modo geral.
O evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus, fora escrito
provavelmente nos anos 60 do século
I da era cristã. O autor, Mateus não “assina” sua obra, embora existam
divergências em torno de quem seria o verdadeiro escritor da obra em apreço, os
pais da igreja, os apologistas, reformadores e a maioria dos eruditos concordam
que este Mateus, é o mesmo que também era chamado de Levi, que antes de ser
comissionado pelo Senhor Jesus, era um publicano, coletor de impostos (Mateus 9.9-13;
Marcos 2.14-17; Lucas 5.27-32).
Mateus procurou ao longo do seu relato apresentar com
argumentos e provas cabais que Jesus era o Messias prometido conforme as
escrituras e profecias veterotestamentárias. Há que se registrar que, segundo Warren
Wiersbe, Mateus faz pelo menos 129 citações
ou alusões ao Antigo
Testamento, é evidente o uso dessas referências por Mateus, que sendo judeu e
conhecendo as tradições do seu povo, sabia que esse embasamento seria uma conditio
sine qua non para dar veracidade a sua narrativa, e há registros dos pais
da igreja que afirmam Mateus escreveu esse relato primeiramente em Hebraico.
Pois bem, ao analisarmos o texto, “E chegou, e habitou numa cidade
chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito pelos profetas: Ele será
chamado Nazareno” (Mateus 2.23 ARC). Ao contrário de outras citações de profecias do AT, como por ser exemplo
Miqueias 5.2, que se cumpre a risca em Mateus 2.1-6; essa citação em questão não aparece de forma direta em nenhum livro da antiga aliança.
Em relação à problemática proposta, Mateus faz uso de
questões etimológicas e de aplicações de raízes semânticas de profecias do AT,
o nome Nazaré em hebraico é Nezér, que significa broto, rebento ou renovo.
Nesta perspectiva, Mateus está utilizando-se de profecias que apresentam Jesus
como o Messias que é a raiz do tronco Davídico, senão vejamos: “Porque brotará um
rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará (Isaías 11.1);
“Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que
levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei, reinará e agirá sabiamente, e
praticará o juízo e a justiça na terra”(Jeremias 23.5); “Ouve, pois, Josué, sumo sacerdote, tu e os teus companheiros que
se assentam diante de ti, porque são homens portentosos; eis que eu farei vir o
meu servo, o renovo”.
Portanto, é a aplicação do significado do vocábulo Nazaré no
texto hebraico que faz com que Mateus utilize profecias do Antigo testamento
para corroborar que Jesus era o messias prometido conforme a Lei e os Profetas.
Referências
HOLLADAY, William L. Léxico hebraico e aramaico do Antigo
Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2010.
WIERSBE, Warren W. Comentário bíblico expositivo. Vol.
5. Santo André: Geográfica
Editora, 2006.
por Geovane Leite
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