Cristãos sob ataque de radicais no Paquistão

Cristãos sob ataque de radicais no Paquistão


“Nós não vamos parar! O inimigo se levanta para tentar nos parar. Ele assusta. Às vezes nos dá medo, mas graças a Deus que maior força vem lá do céu. É Ele quem nos dá a força!”

Nos dias 16 e 17 de agosto, cristãos no Paquistão foram alvos de ataques perpetrados por radicais muçulmanos, que incendiaram dezenas de igrejas e centenas de casas, provocando a fuga desesperada de mais de 500 famílias da cidade de Faisalabad, onde um rapaz cristão foi acusado de ter profanado o Alcorão e cometido crime de blasfêmia. Nesta entrevista exclusiva ao Mensageiro da Paz, o pastor paquistanês Younas John, atuante na obra missionária desde 1997 e representante da Missão Até Que Todos Saibam, administrada pelo Instituto Tia Jô, traz luz aos fatos e fala exatamente o que desencadeou os ataques, que deixaram desabrigados e sem templos para congregar. Ele também fala sobre como tem sido a retomada da rotina dos cristãos às suas atividades e às realizações dos cultos; sobre o que é considerado como o maior desafio da igreja paquistanesa na atualidade; sobre como é viver e realizar a obra de Deus em um país considerado como o sétimo no mundo em perseguição aos cristãos; e sobre o que os países onde há maior liberdade de pregar o evangelho podem fazer pelos cristãos perseguidos.

Segundo divulgado pela mídia paquistanesa, os ataques ocorreram após grupo de cristãos terem profanado um exemplar do Alcorão. O que exatamente aconteceu? De que os extremistas acusam os cristãos?

A mídia não está divulgando a real história. Os cristãos nunca irão queimar o livro e nem desrespeitar a religião deles. O que exatamente aconteceu foi uma briga pessoal. Um rapaz cristão queria sair do país dele, queria ir para outro país. Aí ele deu um dinheiro para um rapaz muçulmano, mas depois quis de volta. Por esta razão, o rapaz muçulmano levou a questão para a religião dele. Ele falou que o rapaz cristão havia acusado a religião dele. Então, pegaram um papel do Alcorão, colocaram o nome dele, a foto dele, divulgando para todo mundo, para culpá-lo da queima. Eles foram até a mesquita e disseram aos religiosos que ali estavam que o rapaz cristão havia queimado o Alcorão, desrespeitando a religião deles. Aí, a pessoa responsável por chamar os muçulmanos à oração divulgou a história no sistema de som. Depois, a multidão saiu queimando as casas dos cristãos, quebrando coisas, roubando as coisas e levando tudo deles.

Quanto aos ataques extremistas, quantas igrejas e casas de cristãos foram atingidas e quais os prejuízos decorrentes do ocorrido?

Destruíram e queimaram 36 igrejas. Inicialmente foram 23. Visitei pessoalmente mais de 10 delas em Faisalabad. Mais de 500 famílias, mais de 500 casas, tiveram móveis roubados. Levaram TV, levaram moto. Tudo o que tinha de valor nas casas eles levaram. Até dinheiro roubaram. Também houve casas e móveis queimados.

Como os cristãos conseguiram escapar com vida dos ataques promovidos pelos extremistas? Onde eles se refugiaram?

Entre eles mesmos foi avisado. Parece que um dos muçulmanos era amigo de um dos cristãos. Não sabemos ao certo. Sei que, por causa do aviso, eles conseguiram sair de lá, escapar de lá. Onde conseguiram lugar para se esconder, se esconderam. Alguns se esconderam na floresta, outros foram para outros bairros, de forma muito corrida, pois ficaram com medo. Um pastor que foi atacado. Jogaram tijolos nele. Como não conseguiram machucar, pegaram ferro e bateram nele. Havia até pessoas com motos e carros por lá, mas ninguém os ajudou a escapar. Houve até pedido de ajuda, mas todos se negaram a ajudar. Todos eles, homens, mulheres e crianças, saíram descalços. Foi muito difícil! Onde eles pousaram não tinha nada para comer. O que se ouvia eram crianças gritando e chorando pedindo comida.

Como tem sido a retomada da rotina dos cristãos às suas atividades e às realizações dos cultos?

A rotina deles ainda não voltou ao normal, porque as igrejas e as casas estão todas queimadas, não tem nada. Mas eles estão se juntando e fazendo orações, cantando hinos na rua mesmo. Ainda não estão realizando cultos como faziam antes.

O que o senhor considera como o maior desafio da igreja paquistanesa na atualidade?

Essa perseguição é um desafio bem grande para nós lá. Desde 1993 está acontecendo isso. Já faz mais de 25 anos que eles fazem isso com os cristãos. Este é um grande caso que aconteceu, mas tem os casos “pequenininhos”, onde eles batem e queimam pessoas. Eles dão dinheiro para a polícia, aí a polícia cala a boca e não faz nada. É grande o desafio! Temos que ter muito cuidado quando realizamos cultos. Temos que ter muito cuidado quando falarmos com as pessoas. Se falarmos alguma coisa tida como errada, eles podem falar que desrespeitamos a religião deles. Dizem que cometemos blasfêmia. É grande o desafio que enfrentamos no Paquistão. Só Deus mesmo. Estamos orando por isso.

Como é viver e realizar a obra de Deus em um país considerado pelo Portas Abertas como o sétimo no mundo em perseguição aos cristãos?

Realmente é muito difícil viver no Paquistão. Lá, a lei é muçulmana mesmo, islâmica. Eles vivem o islamismo mesmo. Nós não podemos fazer nada que eles considerem errado. Eles ainda oferecem dinheiro para nós nos convertermos. Aconteceu com o meu filho. Ele estava na escola, no colégio, e pessoas amigas dele lhe ofereceram dinheiro para ele virar islâmico. No Paquistão, eles forçam as meninas cristãs. Oferecem dinheiro para casar com elas. Já aconteceram vários casos de casamentos forçados no Paquistão. Como é a lei deles, nós não podemos fazer nada depois disso. Certa ocasião, eles atacaram um irmão de nossa igreja com golpes de faca, mas o governo não fez nada, a polícia de nossa cidade não fez nada. Realmente, é muito difícil, mas a obra de Deus para nós é muito importante. Nós não vamos parar! O inimigo se levanta para tentar nos parar. Ele assusta. Às vezes nos dá medo, mas graças a Deus que maior força vem lá do céu. É Ele quem nos dá a força!

O que, além de orar, os países onde há maior liberdade de pregar o evangelho podem fazer pelos cristãos perseguidos?

A primeira coisa que nós precisamos muito é de oração pelo Paquistão. Nós pretendemos, e estamos orando por isso também, começar no Paquistão um canal internacional, onde as pessoas possam saber realmente como as coisas estão acontecendo, sem fake news, sem mentiras. Eles escondem muito as coisas lá no Paquistão, não deixam sair a verdade. Como o governo é deles, eles pagam para a mídia e eles falam. Segundo, nós queremos escolas, muitas escolas lá. Em cada estado, em cada cidade, queremos escolas no Paquistão. As crianças deles ganham educação de graça, não precisa pagar nada. Terceiro, nós queremos escola bíblica lá, de Teologia, para crianças, jovens, meninas, mulheres, homens, todos. A maioria dos cristãos não sabe ler, não consegue ler. Então, é muito importante nós termos essas escolas e escolas bíblicas para darmos educação sobre a Bíblia para eles. Quarto, nós queremos começar um trabalho lá para abrir empresas, microempresas. Isso é importante, pois eles não precisarão ser mais escravos de ninguém. Muitos cristãos trabalham como se fossem escravos, sendo explorados e xingados muitas vezes por patrões muçulmanos. Nós estamos libertando famílias agora. Eles mesmos estão comprando moto, carro para eles. Eles mesmos são os chefes daqueles moto, carros. Aí, todo o dinheiro que entra é só para eles. Eles conseguem sustentar a família deles. Claro que o valor não é muito alto, mas pelo menos eles estão conseguindo sobreviver. Precisamos muito das orações dos irmãos. O quinto ponto que quero colocar é que, se possível, nós queremos tirar alguns de nossos irmãos cristãos do Paquistão. Levar alguns mais perseguidos para outros países, na Europa, no Brasil, onde há liberdade para eles fazerem as coisas. No Brasil, há liberdade. Tem pessoas na rua orando, pregando. No Paquistão, não tem isso não.

por Edilberto Silva

Compartilhe este artigo. Obrigado.

Comentário

Seu comentário é muito importante

Postagem Anterior Próxima Postagem