Esses argumentos combinam com um texto da escritora evangélica Cecília Sfalsin, compilado na internet: “A vaidade está no coração de muitos, e não traz benefício algum. Ela não está relacionada somente ao exterior, mas na maioria das vezes se hospeda no interior de alguém, fazendo com que o mundo gire em torno de si, através de seus atos, pensamentos e palavras. A consciência do orgulhoso é cauterizada e inclinada a alimentar seu próprio ego, buscando se destacar, anulando o próximo, se esquecendo do aprender, do conhecer, do sentir e do ‘pertencer a Deus’ em quaisquer circunstâncias, não admitindo errar, procurando ser superior a tudo e a todos, tanto em sabedoria quanto na aparência exterior” (Obra Pensador).Três graves erros contribuíram para a soberba do “louco” da parábola: 1) o interesse em desfrutar a vida de forma avarenta, imaginando que a felicidade se resumia na abundância dos seus bens (“Aquele que confia nas suas riquezas cairá”, Provérbios 11.28); 2) o egoísmo exibindo a enorme colheita sem nenhuma modéstia (“Pois que aproveitaria o homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?”, Marcos 8.36); e 3) não se incomodar que o sucesso o tenha impedido de se preparar para a eternidade (“Eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo para dar a cada um segundo a sua obra”, Apocalipse 22.12). Revestido da exaltação pessoal, bordada com fios do orgulho, decerto que o fazendeiro se assustou com a voz que dizia: “Louco, esta noite te pedirão a tua alma, e o que tens preparado para quem será?”. O epílogo da parábola faz lembrar o histórico banquete promovido pelo vaidoso e arrogante Belsazar, utilizando de maneira inapropriada os vasos sagrados, ocasião em que foi reprovado por Deus com a sentença “Pesado foste na balança e foste achado em falta”, culminando com o fim do imponente império da Babilônia (Lucas 12.20,21; Daniel 5.22-30).
A narrativa da parábola do rico insensato também serve como censura prévia para os vulneráveis aderentes às cirandas do Diabo (Lucas 22.31), geralmente estimulados por interesses escusos e desatentos à solene recomendação: “Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que, a seu tempo, vos exalte [...]. Sede sóbrios, vigiai, porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (1 Pedro 5.6,8). Os tais não se incomodam que “Os olhos do Senhor estão em todo lugar, contemplando os maus e os bons” (Provérbios 15.3), aprovando ou reprovando a obra dos trabalhadores da Sua seara (Salmos 90.17; 1 Coríntios 3.13), como destaca o comentário da Bíblia de Estudo Pentecostal (CPAD) referente ao Salmo 139: “Deus conhece todos os nossos pensamentos, motivos, desejos e temores interiores, bem como nossos hábitos e ações exteriores. Ele conhece tudo que fazemos”. Outro notório fato bíblico comprovando que Deus reprova a vaidade pessoal é a censura ao anjo da igreja em Laodiceia, que se gabava do seu trabalho, dizendo: “Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta (e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu)”, o que nos leva a concluir que o estigma da vaidade contaminou o pastor da referida igreja na Ásia Menor (Apocalipse 3.17-19), e que, independente do tempo e ocasião, o Diabo cultiva astutamente a semente da vaidade no coração dos que, por não vigiarem, fazem a obra do Senhor fraudulentamente (Mateus 26.41; Jeremias 48.10), se arriscando a serem contados entre os que ouvirão o veredito: “Nunca os conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mateus 7.23). Imaginar que o ministério cristão é uma oportunidade para exibição da capacidade pessoal ou de usurpação dos valores sagrados é um equívoco. Tais ideais não combinam com a recomendação de humildade para quem deseja o episcopado. Reiteramos que os resultados do trabalho de um obreiro não significam frutos da sua própria capacidade ou produto do interesse pessoal. Na seara do Mestre, o atestado de aprovação divina da obra de alguém está reservado para os humildes que se portam com fidelidade e dependência do Senhor (Mateus 25.23), os quais “habitarão na terra e, verdadeiramente, serão alimentados” (Salmos 37.3). Portanto, contraditando com o exemplo hedonista do personagem da parábola referida, vale a pena evitar o terrível mal da vaidade, causadora de males por vezes irreparáveis, fugindo de sua destrutiva e prejudicial aparência (1 Tessalonicenses 5.22), acatando a recomendação bíblica: “Deleita-te também no Senhor, e ele te concederá o que deseja o teu coração. Entrega teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele tudo fará. Descansa no Senhor e espera nele; não te indignes por causa daquele que prospera em seu caminho, por causa do homem que executa astutos intentos” (Salmos 37.4-7). A Deus toda glória!
por Kemuel Sotero Pinheiro
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