Os prejuízos causados pela vaidade (Parte 2)

Os prejuízos causados pela vaidade (Parte 2)

A vaidade é um mal que domina a mente de quem busca galgar, a qualquer custo, o ilusório pódio do orgulho. Biblicamente, é considerada como provocação ao Criador, constando na advertência de Moisés para o povo de Israel: “A zelos me provocaram com aquilo que não é Deus; com as suas vaidades me provocaram à ira...” (Deuteronômio 32.21). As Escrituras tratam a vaidade como coisa vã, fútil, vazia e inútil, caracterizando pecado de iniquidade, conforme escreveu o profeta Isaías: “Ai dos que puxam pela iniquidade com cordas de vaidade e pelo pecado, como se fosse com cordas de carro” (Isaías 5.18). A iniquidade, do grego anomia, significa “desprezo à lei”. Ela expõe o perfil pecaminoso de quem se acostuma com a vaidade e vive em razão dela. O iníquo é insensível à voz de Deus e falido do sentimento de arrependimento. No Velho Testamento, a palavra traduzida do hebraico metzorá, também é atribuída aos leprosos abandonados no degredo até a morte, figura da degeneração espiritual dos que, na iniquidade, estão distantes de Deus (Isaías 59.2), vivendo acomodados numa situação concordante com o que escreveu Salomão: “Quanto ao ímpio, as suas iniquidades o prenderão, e com as cordas do seu pecado, será detido. Ele morrerá, porque sem correção andou, e, pelo excesso da sua loucura, andará errado” (Provérbios 5.22,23).

Esses argumentos combinam com um texto da escritora evangélica Cecília Sfalsin, compilado na internet: “A vaidade está no coração de muitos, e não traz benefício algum. Ela não está relacionada somente ao exterior, mas na maioria das vezes se hospeda no interior de alguém, fazendo com que o mundo gire em torno de si, através de seus atos, pensamentos e palavras. A consciência do orgulhoso é cauterizada e inclinada a alimentar seu próprio ego, buscando se destacar, anulando o próximo, se esquecendo do aprender, do conhecer, do sentir e do ‘pertencer a Deus’ em quaisquer circunstâncias, não admitindo errar, procurando ser superior a tudo e a todos, tanto em sabedoria quanto na aparência exterior” (Obra Pensador).Três graves erros contribuíram para a soberba do “louco” da parábola: 1) o interesse em desfrutar a vida de forma avarenta, imaginando que a felicidade se resumia na abundância dos seus bens (“Aquele que confia nas suas riquezas cairá”, Provérbios 11.28); 2) o egoísmo exibindo a enorme colheita sem nenhuma modéstia (“Pois que aproveitaria o homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?”, Marcos 8.36); e 3) não se incomodar que o sucesso o tenha impedido de se preparar para a eternidade (“Eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo para dar a cada um segundo a sua obra”, Apocalipse 22.12). Revestido da exaltação pessoal, bordada com fios do orgulho, decerto que o fazendeiro se assustou com a voz que dizia: “Louco, esta noite te pedirão a tua alma, e o que tens preparado para quem será?”. O epílogo da parábola faz lembrar o histórico banquete promovido pelo vaidoso e arrogante Belsazar, utilizando de maneira inapropriada os vasos sagrados, ocasião em que foi reprovado por Deus com a sentença “Pesado foste na balança e foste achado em falta”, culminando com o fim do imponente império da Babilônia (Lucas 12.20,21; Daniel 5.22-30).

A narrativa da parábola do rico insensato também serve como censura prévia para os vulneráveis aderentes às cirandas do Diabo (Lucas 22.31), geralmente estimulados por interesses escusos e desatentos à solene recomendação: “Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que, a seu tempo, vos exalte [...]. Sede sóbrios, vigiai, porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (1 Pedro 5.6,8). Os tais não se incomodam que “Os olhos do Senhor estão em todo lugar, contemplando os maus e os bons” (Provérbios 15.3), aprovando ou reprovando a obra dos trabalhadores da Sua seara (Salmos 90.17; 1 Coríntios 3.13), como destaca o comentário da Bíblia de Estudo Pentecostal (CPAD) referente ao Salmo 139: “Deus conhece todos os nossos pensamentos, motivos, desejos e temores interiores, bem como nossos hábitos e ações exteriores. Ele conhece tudo que fazemos”. Outro notório fato bíblico comprovando que Deus reprova a vaidade pessoal é a censura ao anjo da igreja em Laodiceia, que se gabava do seu trabalho, dizendo: “Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta (e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu)”, o que nos leva a concluir que o estigma da vaidade contaminou o pastor da referida igreja na Ásia Menor (Apocalipse 3.17-19), e que, independente do tempo e ocasião, o Diabo cultiva astutamente a semente da vaidade no coração dos que, por não vigiarem, fazem a obra do Senhor fraudulentamente (Mateus 26.41; Jeremias 48.10), se arriscando a serem contados entre os que ouvirão o veredito: “Nunca os conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mateus 7.23). Imaginar que o ministério cristão é uma oportunidade para exibição da capacidade pessoal ou de usurpação dos valores sagrados é um equívoco. Tais ideais não combinam com a recomendação de humildade para quem deseja o episcopado. Reiteramos que os resultados do trabalho de um obreiro não significam frutos da sua própria capacidade ou produto do interesse pessoal. Na seara do Mestre, o atestado de aprovação divina da obra de alguém está reservado para os humildes que se portam com fidelidade e dependência do Senhor (Mateus 25.23), os quais “habitarão na terra e, verdadeiramente, serão alimentados” (Salmos 37.3). Portanto, contraditando com o exemplo hedonista do personagem da parábola referida, vale a pena evitar o terrível mal da vaidade, causadora de males por vezes irreparáveis, fugindo de sua destrutiva e prejudicial aparência (1 Tessalonicenses 5.22), acatando a recomendação bíblica: “Deleita-te também no Senhor, e ele te concederá o que deseja o teu coração. Entrega teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele tudo fará. Descansa no Senhor e espera nele; não te indignes por causa daquele que prospera em seu caminho, por causa do homem que executa astutos intentos” (Salmos 37.4-7). A Deus toda glória!

por Kemuel Sotero Pinheiro

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