Obtendo equilíbrio em tempos difíceis

Obtendo equilíbrio em tempos difíceis

A expressão equilíbrio tem origem no latim æquilibrium e significa harmonia e estabilidade. Na Física, é o estado de um corpo que se mantém sem se inclinar para nenhum dos lados. No sentido figurado, indica moderação e autocontrole. No aspecto emocional, sinaliza controle entre a razão, a emoção e a fé. No mundo espiritual, refere-se ao domínio sobre os desejos pecaminosos da carne. Serve como uma espécie de freio quando nossa vontade humana deseja prevalecer em oposição à vontade do Espírito. Assim, lemos em Gálatas 5.16,17: “Digo, porém: Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne; e estes opõem-se um ao outro; para que não façais o que quereis”. Em Tiago 1.12, lemos: “Bem-aventurado o varão que sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam”.

Neste artigo, veremos a importância de o autêntico cristão manter o equilíbrio entre a fé, os sentimentos e a lógica humana.

O equilíbrio e as emoções

Manter-se em equilíbrio não é uma tarefa simples, principalmente quando somos atingidos por fortes emoções. O termo latino para emoção é emovere, que significa “agitar”. Refere-se a uma alteração do estado de calma para o estado de perturbação emocional e mental. As emoções, quando em descontrole, provocam alterações físicas, tais como palpitações cardíacas, desajustes na pressão arterial e respiração ofegante. As emoções também alteram o comportamento, a postura e o humor das pessoas, provocando euforia, tristeza e frustração.

Controlar as emoções e manter a tranquilidade é um grande desafio. Quando agimos pelo impulso dos sentimentos, ficamos desprovidos da razão. Geralmente, decisões tomadas no calor das emoções são desastrosas, e as consequências, irreversíveis. Não obstante, o exercício do necessário autocontrole não é possível por meio de nossas forças ou pelo uso de técnicas humanas. Somente uma pessoa controlada pelo Espírito Santo é capaz de manter suas emoções e pensamentos subjugados a Deus. 

As Escrituras afirmam que “melhor é... o que domina o seu espírito do que o que toma uma cidade” (Provérbios 16.32). Implica dizer que aquele que controla as suas paixões é mais forte que o herói de guerra que captura uma fortaleza. Uma pessoa sábia não age com precipitação e nem de acordo com os sentimentos. Em lugar disso, analisa a situação com clareza, averigua os fatos e, assim, consegue agir com prudência e muita paciência.

Nesse aspecto, somente o poder espiritual é capaz de dominar todos os impulsos de nossa carne. “Antes, subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado” (1 Coríntios 9.27).

O equilíbrio, a razão e a fé

A palavra razão vem do latim ratio e refere-se à faculdade de raciocinar. Trata-se de uma habilidade humana capaz de avaliar e tomar uma decisão com prudência e sensatez. É a capacidade de observar, processar e chegar a conclusões lógicas. Por causa disso, considera-se o homem como sendo um ser racional apto para pensar e, portanto, responsável por todas as suas ações. Por meio do intelecto, é possível encontrar soluções plausíveis para diversas circunstâncias da vida. Porém, a razão humana não pode analisar a mente divina e nem os elementos espirituais (1 Coríntios 2.16).

Contudo, lançar a razão contra a fé é algo desnecessário. Em muitos casos, a razão é compatível e se harmoniza com a fé, e algumas vezes a razão pode conflitar com a fé. Neste caso, como ensina o filósofo Tomás de Aquino (1225-1274), a fé transcende a razão. Em contrapartida, como já foi afirmado, a emoção é uma reação imediata a um estímulo, e não raro resulta em atitudes desagradáveis.

Contudo, a razão desprovida de sentimentos torna-se insensível ao sofrimento e ao bom senso. A razão destituída da fé trilha o caminho do racionalismo, do ceticismo e até do ateísmo. A razão não pode negar o valor da fé e das experiências espirituais e nem sufocar as emoções. Por outro lado, a emoção e a fé desarraigadas de raciocínio se tornam inconsequentes. Portanto, os extremos sempre são prejudiciais. Razão, fé e emoção precisam viver em equilíbrio.

O equilíbrio, o bom senso e a insensatez

As Escrituras oferecem instruções para a busca do equilíbrio no viver diário. Dentre elas, orienta-se o uso do bom senso (Provérbios 3.21), o que requer serenidade a fim de evitar decisões levianas. A pessoa que assim procede será recompensada com uma vida longa e agradável (Provérbios 3.22). As orientações bíblicas incluem tomar cuidado no falar (Provérbios 21.23). As palavras precipitadas e descuidadas são um erro a ser corrigido (Provérbios 23.16). Quem assim caminha não tropeça e desfruta de segurança (Provérbios 3.23).

A Bíblia aponta para Abigail como um exemplo de vida equilibrada. Ela era casada com um homem próspero e maligno chamado Nabal (1 Samuel 25.3). Nesse tempo, Davi e seus homens precisaram de suprimento (1 Samuel 25.4-9) e Nabal recusou-se a ajudá-lo (1 Samuel 25.10,11), levando o filho de Jessé a uma reação violenta (1 Samuel 25.13). Informada do perigo iminente, Abigail foi ao encontro de Davi e negociou a paz (1 Samuel 25.23-28). Assim, o bom senso daquela mulher poupou a sua família da tragédia (1 Samuel 25.32-35).

Em contrapartida, a Palavra de Deus registra a insensatez de Safira, que com o seu marido Ananias procedeu com hipocrisia (Atos 5.1). Eles venderam uma propriedade e foram dominados pelo sentimento de avareza, retendo consigo parte do dinheiro e simulando uma doação de todo o valor para a obra do Senhor (Atos 5.2). O apóstolo Pedro lembrou a Ananias que eles poderiam fazer o que quisessem com o imóvel, exceto mentir para Deus (Atos 5.3,4). Ao interrogar Safira, a mulher manteve a versão mentirosa do marido e ambos foram fulminados pelo juízo divino (Atos 5.5-10). A falta de bom senso, o descuido no uso das palavras e o desequilíbrio espiritual resultaram em tragédia. 

Considerações finais

Os conceitos aqui apresentados e os exemplos citados servem de alerta para a necessária busca do temor a Deus em nossas vidas. A postura de Ananias e Safira representa o modelo de insensatez e desequilíbrio a ser desprezado. Abigail, por sua vez, soube lidar com situações de forte estresse. Sua lição de equilíbrio entre emoção, razão e fé deve ser observada por todos aqueles que primam pela maturidade cristã. A Bíblia Sagrada assim nos exorta: “Guarde consigo a sensatez e o equilíbrio, e nunca os percas de vista” (Provérbios 3.21).

por Dirlei da Silva da Costa Baptista

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