Ataques e ameaças a escolas: o que fazer?

Ataques e ameaças a escolas: o que fazer?

Em decorrência de uma onda de violência no contexto escolar no Brasil e no mundo, com vítimas em ataques brutais, como ocorreu em abril deste ano no município de Blumenau (SC), onde quatro crianças foram mortas e outras ficaram feridas em uma creche, o medo tem tomado conta dos alunos, pais e educadores. Mestre em Psicologia Clínica pela PUC de Campinas, com experiência como psicólogo clínico atuando profissionalmente com adolescentes, adultos e casais, o pastor Jamiel de Oliveira Lopes fala, nesta entrevista exclusiva ao jornal Mensageiro da Paz, sobre como enfrentar o problema e prevenir futuros. Ele também é articulista e comentarista da revista Lições Bíblicas Juvenis da CPAD, psicopedagogo, professor universitário e autor dos livros Psicologia Pastoral, Psicologia Aplicada à Educação Cristã e E Agora o que fazer? Todos publicados pela CPAD, entre outros.

Uma onda de violência tem tomado escolas no Brasil e no mundo, vitimando crianças, adolescentes e educadores. Nesse contexto, como tratar o medo dos pais de enviar seus filhos à escola, dos filhos de irem à escola e dos profissionais de irem trabalhar?

Após os ataques nas escolas que ocorreram ultimamente, infelizmente no nosso país isso tem gerado uma onda de medo e, principalmente, pela circulação de boatos. Isso está gerando pânico. Então, diante dessa situação, se faz importante, tanto os pais e os filhos como os próprios profissionais se acalmarem. O pânico só piora a situação. É necessário que se construa agora, depois de tudo isso, uma cultura de paz nas escolas. Eu vejo que a escola tem que se reunir com as famílias e semear uma cultura de paz.

Quais comportamentos identificam uma pessoa tendente a cometer violência nas escolas?

Geralmente essa pessoa começa a falar. Ela dá alguns sinais. Às vezes as pessoas ignoram porque acham que elas não são capazes de fazer isso. Nessa cultura de paz, nesse trabalho feito em conjunto entre pais, filhos e a escola, é importante se trabalhar as crianças, trabalhar os alunos adolescentes para eles comunicarem para a direção da escola se eles perceberam ou se ouviram alguém fazer algum tipo de ameaça. É importante também a escola acompanhar as redes sociais desses alunos. Então, é possível, sim, você identificar uma pessoa que tem tendência a cometer violência na escola. Uma coisa que a gente pode também observar às vezes é a mudança de comportamento. Faz-se necessário observar a atitude ou a reação de uma pessoa que sofre bullying constante. Estar atento ao que ela fala e levar a sério aquilo que é falado e procurar tratar essa pessoa, encaminhando-a para algum atendimento, algum acompanhamento psicológico para receber suporte e apoio.

Quais cuidados os pais e responsáveis devem ter com crianças e adolescentes para guardá-los de ser agentes e vítimas de ações de violência nas escolas?

Às vezes acontecem muitos conflitos entre os alunos. Então, os pais precisam orientar os seus filhos a evitarem esse confronto com os colegas; educar os seus filhos em relação à questão do bullying, para que eles não estejam envolvidos nessa atitude de estar fazendo chacota das pessoas; e trabalhar também no sentido de eles falarem as coisas. Os pais precisam ser mais presentes nas escolas, estarem mais juntos ali nas escolas, porque vai ser a partir desse trabalho conjunto, dessa relação da família com a escola, que poderemos evitar tragédias como essas que têm acontecido.

Qual ou quais os elementos desencadeadores de violência nas escolas?

A violência nas escolas é decorrente de vários fatores, mas vejo que o problema começa principalmente dentro de casa. É fruto da transferência do papel dos pais na educação dos seus filhos, da ausência dos pais. Então, começa com a má educação. Os pais estão deixando de ser referência para os seus filhos. Logo, esses garotos vão para a escola e lá existem problemas muito sérios de relacionamento. Um dos pivôs é o bullying. A criança é muitas vezes até torturada pelos seus colegas. Isso gera uma sensação de ódio muito forte e que resulta, muitas vezes, na agressão no futuro. Hoje, a gente observa também que há uma insuficiência de políticas públicas. Vejo como um fechar de olhos do poder público em relação à questão do combate à violência nas escolas. Então, isso está sendo um problema. Também há falta de limites dentro das escolas. Esses são alguns dos fatores que contribuem acentuadamente para a violência dentro das escolas.

Como os pais devem tratar esse tipo de assunto em casa, uma vez que a mídia repercute das mais variadas formas, às vezes até de forma sensacionalista? A exposição midiática dos casos de violência nas escolas ajuda ou atrapalha na solução do problema? E por quê?

É importante também que os gestores acolham professores e alunos, que criem estratégias para dialogar com as famílias. Esse diálogo é fundamental. Existem muitas famílias disfuncionais. A escola precisa detectar isso e dar um suporte, um apoio para essas escolas. Outro ponto importante é destacar canais de denúncias e se debater, inclusive, os perigos de fake news, de boatos, de coisas que são espalhadas, que geram muitas vezes pavor, que geram pânico nas pessoas. Sobre a questão midiática, observa-se que geralmente um fato que ocorre vai desencadear outros fatos. Por quê? Porque existe também o papel da mídia, pois ela difunde o ocorrido e o criminoso, e isso encoraja outras pessoas a fazer o mesmo. É por isso que há uma repetição desses episódios em outros lugares, porque as pessoas, com a sua mente enferma, mente doente, captam isso e vão automaticamente fazer, repetir aquilo que aconteceu. Essa é a premissa do filme sobre o Coringa. Ele se revolta. O comportamento dele é decorrente de um ressentimento, de uma mágoa da sociedade. É uma mente enferma, uma mente doente. Essas pessoas precisam ser tratadas. Elas precisam ser detectadas para serem trabalhadas e serem tratadas. 

Uma pesquisa recente nos Estados Unidos mostra que esta geração atual de jovens é a que mais sofre de depressão e ansiedade, a que mais se suicida e a que mais se droga e morre de overdose. A imprensa e alguns especialistas têm atribuído isso à internet e ao longo confinamento durante o período da pandemia. A que o senhor atribui isso?

Um fator que é realmente muito agravante é o uso desordenado, desenfreado, da internet. Hoje as pessoas estão perdendo o contato com a realidade e estão passando a viver no mundo virtual. A geração atual é uma geração que tem sofrido de ansiedade e depressão. Um dos grandes motivos disso está sendo a falta de objetividade de vida. Uma pessoa que fica o tempo inteiro no celular, apenas ali nas redes sociais ou nos jogos eletrônicos, desenvolve um comportamento de se tornar alheia às coisas reais. Ela não quer estudar, não quer fazer as tarefas de casa e, às vezes, evita até relacionamentos reais. Elas preferem mais o mundo virtual. Isso está adoecendo as pessoas. Vejo isso até como também um dos motivos da violência nas escolas. As pessoas estão com a mente doente, adoecendo psiquicamente. Hoje, se precisa disciplinar crianças e adolescentes; os pais, inclusive, devem estabelecer limites dentro de casa quanto ao uso do celular e o uso da internet. Hoje está sendo muito sério isso! Outra coisa: muitos pais não têm noção do que os filhos estão acessando, com quem eles estão conversando, com o que eles estão se relacionando. Isso está sendo um problema, porque eles estão aprendendo a fazer coisas erradas.

O que a Bíblia traz de conselhos aos pais e filhos para que casos de violência sejam evitados?

Uma família funcional, uma família bem ajustada, uma família na qual não haja violência, tem que ter a sua casa edificada sobre a Rocha, que é Cristo. A casa precisa estar edificada pelo Senhor, como diz o Salmo 127. Esse texto mostra que Deus cuida de e sustenta os Seus amados, e dá os filhos como herança, um presente do Senhor. São os pais que estimulam os filhos a buscarem o Senhor, a levarem uma vida com Deus. Uma família assim é uma família melhor, uma família funcional, uma família abençoada. Isso é muito importante. A nossa base é a Palavra de Deus. Assim sendo, os pais devem ensinar aos filhos a Palavra e instruí-los a permanecerem na obediência no caminho do Senhor. Esse estímulo deve incluir a leitura da Bíblia, o conhecimento da Palavra. A Bíblia diz no Livro do profeta Oséias: “O meu povo foi destruído porque lhe faltou o conhecimento”. Em seguida, ele estimula o povo, dizendo: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor”. Então, os pais precisam se preocupar com a espiritualidade do lar e deixar que Deus comande suas vidas, comande o seu lar. Este é o antídoto contra qualquer tipo de violência e contra qualquer tipo de abuso.

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