Peregrinos em terra estranha

Peregrinos em terra estranha

“Ora, Jetro, sacerdote de Midiã, sogro de Moisés, ouviu todas as coisas que Deus tinha feito a Moisés e a Israel seu povo; como o SENHOR tinha tirado a Israel do Egito. E Jetro, sogro de Moisés, tomou a Zípora, a mulher de Moisés, depois que ele lha enviara, com seus dois filhos, dos quais um se chamava Gérson, porque disse: Eu fui peregrino em terra estranha; e o outro se chamava Eliézer, porque disse: O Deus de meu pai foi minha ajuda e me livrou da espada de Faraó” (Êxodo 18.1-4).

Não temos muitas informações sobre Jetro, sogro de Moisés, também chamado de Reuel. Ele não era da descendência de Abraão, mas, de alguma forma, conhecia o Deus verdadeiro. Neste ponto, precisa-se entender que aqui ainda não havia a Lei e o povo de Israel ainda estava para se tornar uma nação. Nessa perspectiva, Jetro se une a gigantes espirituais do Antigo Testamento. É provável que sua origem, seu lugar no plano de Deus e sua fé vencedora são coisas que jamais venhamos a conhecer plenamente nessa existência. Podemos ver Reuel, cujo nome significa “Deus é seu amigo”, sendo usado pelo Senhor para acolher um homem que ele não sabia, mas que entraria para a história como um dos maiores líderes que a humanidade já conheceu (Êxodo 2.11-22). Um homem que, no futuro, falaria com Deus face a face; e que se tornaria, inclusive, sob sua permissão, esposo de uma de suas filhas.

Essa história é cheia de ensinamentos. Mas, nesse pequeno texto, existem algumas questões que gostaria de pontuar nessa conhecidíssima historia e que, acredito eu, serão bênção para nossos leitores.

A primeira questão está relacionada aos anos de silêncio. Moisés, o futuro libertador de Israel, torna-se pastor de ovelhas aos 40 anos, cuidando dos rebanhos de seu sogro. Não sabemos o que aconteceu nesse período, mas parece que foi um período de silêncio. Um período que durou 40 anos!

Não há informações históricas sobre esse período, sobre os sentimentos que vinham sobre Moisés. 

Os escritores sagrados, inspirados pelo Espírito Santo, entenderam que não era importante essa parte da história e, com isso, essas informações nos foram omitidas. Mas, o que eu posso ter certeza é que humanamente eram anos de silêncio.

O Egito continuava a sua marcha; o império se desenvolvia, o povo seguia sua vida e Moisés, o seu caminho, mas do Céu os olhos do Senhor estavam vendo tudo. Os anjos do Senhor continuavam acampando, ensinando os caminhos do deserto, deserto no qual, por outros 40 anos, Moisés lideraria o povo. Foram três estágios iguais na vida de Moisés: 40 anos no Egito, 40 anos no deserto e 40 anos liderando o povo.

Um olhar atento ao texto bíblico nos fará perceber que a mão invisível de Deus (Êxodo 2.6) guiou o cesto do menino até que ficasse preso no junco, o choro na hora certa e a compaixão no coração da filha de Faraó. A providência de Deus guiou essa criança, adolescente, jovem e homem; guiou esse legislador.

De alguma forma, Moisés percebeu e sentiu o cuidado de Deus, pois os nomes que deu ao seus filhos demonstra isso. Ao primeiro, Gerson – “Sou peregrino em terra estranha”. E ao segundo, Eliezer –  “Deus me ajudou e livrou”.

A segunda questão a ser destacada é um possível sentimento de exclusão em Moisés. Ele sabia que não pertencia àquele lugar. Quando fugiu do Egito, deixou tudo para trás, mas aquela já não era a sua pátria, não era o seu lugar. Antes de Moisés, José também sabia disso, os patriarcas sabiam disso. Quando ele foge para Midiã, continua peregrino. De certa forma, essa situação de peregrinar, de ser estrangeiro em uma terra estranha, é uma situação na qual nós, que somos Igreja, nos encontramos. Somos estrangeiros, somos peregrinos. Estamos nesse mundo, mas não pertencemos originariamente a esse sistema. Esta vida é um estágio temporário para o cristão. Esse princípio é complicado, pois possuímos passaporte, documentos, CPF, contas a pagar, vivemos em sociedade e com isso devemos nos envolver com as pessoas. Contudo, a nossa esperança não se resume ao que perece. Sabemos que tudo passa – juventude, riquezas, saúde, tudo terá um fim –, mas, para aqueles que esperam no Senhor, suas esperanças não se resumem às folhinhas do calendário!

O triste é que muitos se estabelecem de vez nessa vida, perdem a expectativa do futuro glorioso. Conta-se a história de um pelotão de soldados que atravessava rapidamente o território do inimigo. Quando pararam para descansar à noite, levantando suas barracas, um dos saldados começou a fincar as estacas com todas as suas forças no chão. O sargento correu até ele e perguntou: “Soldado, o que você está fazendo?”. A resposta foi: “Ora, sargento, estou apenas martelando estas estacas”. “Bem”, respondeu o Sargento, “só não as finque muito fundo. Vamos embora ao amanhecer”. Todos os servos de Cristo são peregrinos, passando por esse caminho uma única vez. Devemos aprender a colocar as estacas apenas o suficiente; aprender a estarmos prontos a partir quando o nosso Senhor nos chamar.

Em um dia comum, o silêncio se quebra. Moisés olha para o lado e vê um arbusto queimar. Nos seus quarenta anos pelo deserto, deve ter visto outros arbustos queimar, clima seco, muito quente... Mas aquele era diferente: ele não se consumia! Deus o estava chamando, conforme Êxodo 6.6: “Sou o Deus de teus pais”. Em outras palavras, Deus estava dizendo a Moisés: “Eu estou acompanhando essa história! Chegou a hora de manifestar a minha glória!”.

Não importa para onde o Senhor nos guie nesse mundo temporal. Ele é um deserto a ser atravessado a caminho de casa. Há muitas lutas e privações, mas o Senhor nos chamou. Talvez o silêncio de Deus lhe incomode, mas em dia comum, a sarça vai arder, a manifestação de Deus se tornará clara. Tudo fará sentido. Ainda mais importante: “amanhã” estaremos em casa, para sempre!

por Eduardo Leandro Alves

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