Pesquisas apontam os principais desafios da igreja no Brasil e Ocidente

Pesquisas apontam os principais desafios da igreja no Brasil e Ocidente

O desafio evangelístico, o alfabetismo bíblico, a resistência à atual onda cultural anticristã e o aumento da qualidade da vida de oração dos crentes

Todo período histórico tem seus desafios e com o nosso não é diferente. Pesquisas no Brasil e no exterior têm apontado quais são os principais desafios da Igreja no Brasil e no Ocidente em nossos dias, com vários pontos sendo ressaltados. Porém, nesta edição do Mensageiro da Paz, queremos destacar quatro deles: o desafio evangelístico, o alfabetismo bíblico, a firme resistência à atual onda cultural anticristã e a necessidade do aumento da qualidade da vida de oração dos crentes.

Analfabetismo bíblico

Em 2020, o Instituto Pró-Livro, em parceria com o Itaú Cultural, realizou mais uma edição da sua pesquisa em nível nacional denominada “Retratos da Leitura”, divulgada em setembro daquele ano e que traz um diagnóstico da leitura em nosso país. Segundo o levantamento, que entrevistou 8.706 pessoas em 208 municípios de 26 estados brasileiros, o Brasil havia perdido, de 2015 para 2020, 4,6 milhões de leitores, com 52% da população tendo hoje o hábito de ler enquanto em 2015 eram 56%. Na pesquisa, são considerados leitores aqueles que haviam lido nos últimos três meses pelo menos um livro ou partes dele. O detalhe desse levantamento é que não obstante a Bíblia continuar a ser o livro mais lido em nosso país, houve uma queda considerável no seu número de leitores: em 2015, 42% dos brasileiros liam a Bíblia; em 2020, o número caiu para 35%. Isso representa mais de 8 milhões de pessoas que estão lendo menos a Bíblia no Brasil, provavelmente substituindo sua leitura das Escrituras por entretenimento e maior engajamento nas redes sociais.

Um ponto importante a ser frisado ainda é que essa pesquisa foi feita antes da pandemia de Covid-19 chegar ao Brasil. As entrevistas foram feitas entre o final de 2019 e janeiro de 2020, enquanto o primeiro lockdown decorrente da pandemia se deu em meados de março. Esse ponto é importante porque uma pesquisa nos Estados Unidos mostrou que a pandemia levou os cristãos daquele país a lerem muito menos a Bíblia, provavelmente gastando mais tempo com entretenimento e internet, hábito que se manteve pós-pandemia, e é provável que o mesmo tenha acontecido em nosso país nesse período.

O relatório anual denominado “O Estado da Bíblia”, produzido pela Sociedade Bíblica Americana, viram as estatísticas da pesquisa em 2022 apresentarem dados preocupantes. Até antes da pandemia, 50% dos norte-americanos liam a Bíblia, uma média que se mantinha desde 2011. Porém, após a pandemia, o número despencou para 39%, o que significa que cerca de 26 milhões de pessoas tinham praticamente ou completamente parado de ler a Bíblia no país. Este é o maior e mais acentuado declínio já registrado nos EUA. “Revisamos nossos cálculos. Verificamos novamente nossa matemática e repassamos os números de novo e de novo, e o que descobrimos foi surpreendente, desanimador e perturbador”, escreveu John Plake, pesquisador-chefe da Sociedade Bíblica Americana no relatório de 2022. De acordo com o relatório anual da Sociedade Bíblica Americana, não foram apenas os leitores ocasionais das Escrituras que deixaram de abrir suas Bíblias em 2022. “Mais de 13 milhões dos leitores da Bíblia mais engajados – assim classificados pela frequência de leitura, pelos sentimentos de conexão com Deus e pelo impacto nas decisões do dia a dia – disseram ter lido menos a Palavra de Deus. Atualmente, apenas 10% dos norte-americanos afirmam ler diariamente a Bíblia. Antes da pandemia, esse número era de aproximadamente 14%”, enfatiza matéria do site da revista Christianity Today.

Voltando para o Brasil, é preciso ainda informar que, antes mesmo dessa queda da leitura da Bíblia, uma média pequena de evangélicos estava lendo a Bíblia regularmente. Uma pesquisa feita pelo site JC na Veia no final de 2017 com mais de 1,6 mil evangélicos no nosso país indicou que mais de 10% dos evangélicos brasileiros não liam a Bíblia nunca enquanto mais de 40% deles só a liam uma ou duas vezes na semana, basicamente apenas quando iam à igreja. Além disso, 43% dos evangélicos brasileiros diziam que não liam livros evangélicos. Apenas 7% dos entrevistados afirmavam ler com frequência livros cristãos. Isso aponta para um déficit na qualidade do conhecimento bíblico da maioria dos evangélicos no país.

A Convenção Geral dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus no Brasil (CGADB) e a Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD) promoveram em 2021 a Campanha A Promessa, que entre outras iniciativas promoveu a leitura da Bíblia entre a membresia assembleiana no país durante a pandemia, com um programa de leitura de toda a Bíblia ainda naquele ano. No final de 2022, a CPAD ainda promoveu em suas lojas pelo Brasil e peças publicitárias a campanha Persiste em Ler, objetivando levar os cristãos em nosso país a não procrastinarem em sua leitura bíblica e de conteúdos cristãos para seu crescimento espiritual.

A importância da Escola Dominical

Mas, o Alfabetismo Bíblico envolve não apenas a leitura sistemática e constante da Bíblia, mas o estudo dela. A Escola Bíblica Dominical é, sem dúvida, uma ferramenta poderosa nesse sentido, pois ela é uma escola permanente e semanal de estudo da Bíblia em uma linguagem acessível a todos os crentes e com um conteúdo específico voltado para todas as faixas etárias.

Em 2014, uma pesquisa feita pela revista Comunhão apontou que 36% dos evangélicos no Brasil não vão à Escola Dominical, além do que nem todos os 64% que vão à Escola Dominical são tão frequentes, de maneira que a média de frequência à EBD tem sido de 40% da membresia, com alguns lugares chegando a 30%. De acordo com o levantamento, a principal alegação dos que não vão é “falta de tempo” – ao todo, 60% deles alegam isso. Outros 16,7% dizem que sua ausência se deve à “falta de adequação com o horário”. Segundo a pesquisa, 14,8% dos que não vão à Escola Dominical – o que equivale a 5,3% de todos os pesquisados – declararam não ter Escola Dominical em suas igrejas. Essa é uma marca, porém, de algumas igrejas neopentecostais. Igrejas pentecostais tradicionais, como a Assembleia de Deus, têm Escola Dominical.

Evangelismo e oração

Como divulgado ano passado, várias pesquisas feitas durante a pandemia de Covid-19 mostraram que os cristãos passaram a orar mais nesse período. Por exemplo, uma pesquisa feita pelo aplicativo Glorify, com mais de mil pessoas nos Estados Unidos, Europa e América Latina, indicou que 70% dos cristãos passaram a orar mais no período da pandemia. O problema é que geralmente esse hábito da oração só surge em períodos de crise. Um exemplo são pesquisas que mostraram que logo após o atentado de 11 de setembro de 2001 os cristãos norte-americanos passaram a ser mais engajados na sua fé, orando mais e indo mais às igrejas, como o jornal Mensageiro da Paz divulgou à época. Porém, logo que o impacto inicial daquele acontecimento começou a arrefecer, esse engajamento caiu abruptamente nos Estados Unidos.

Quando estamos vivendo tempos difíceis, nada melhor do que intensificar a oração, mas o ideal é que a oração seja sempre uma constante em nossas vidas, assim como a leitura das Escrituras, e não só em tempos de crise. Como dizia Lutero, “a oração é o oxigênio da alma”. Além disso, como sabemos, não há avivamento sem a Palavra de Deus e sem uma vida de oração (2 Crônicas 7.14; Salmos 119.50,107). Estamos vivendo tempos difíceis e o fortalecimento da vida de oração é muito importante para nos capacitar para estes tempos. Inclusive para a missão de comunicar o Evangelho ao mundo, pelo revestimento de poder que vem do Alto (Atos 1.8; 4.24-31).

Por falar de comunicar o Evangelho, outro grande desafio é o evangelístico e missionário. Conforme divulgado na edição de agosto do ano passado do jornal Mensageiro da Paz, levantamento do Joshua Project mostra que 42% da população mundial ainda não foi alcançada pelo Evangelho e apenas 3% dos missionários do mundo estão trabalhando nessas regiões onde essas pessoas se encontram. E são poucos não porque as igrejas e agências missionárias não se importam (muito ao contrário), mas devido às dificuldades para se enviar alguém para trabalhar na evangelização dessas regiões extremamente inóspitas ao Evangelho. Oremos por esses povos.

Mesmo aqui no Brasil ainda temos muito a alcançar. Por exemplo, segundo levantamento do portal Povos e Línguas, 309 cidades no Brasil têm menos de 5% de evangélicos e outras 24 cidades têm menos de 2%. Essas cidades estão especialmente no Rio Grande do Sul, Piauí, Paraíba, Alagoas e Santa Catarina.

O avanço da cultura anticristã

Pela graça de Deus, não obstante a queda do Cristianismo no hemisfério norte – Estados Unidos, Canadá e Europa –, as igrejas evangélicas nas Américas do Sul e Central, no continente africano e na Ásia têm crescido muito, sobretudo as pentecostais. Porém, isso não significa dizer que a onda anticristã que tem cada vez mais ganhado espaço no Hemisfério Norte não tenha mostrado as suas caras nesta parte do globo. A diferença é que aqui essa onda enfrenta um forte avanço da fé cristã, que se lhe opõe mais fortemente.

No que tange a essa onda, o pastor Trevin Wax, diretor do The Gospel Project, uma publicação do instituto de pesquisa cristã Life Way Christian Resources, nos Estados Unidos, listou recentemente os seguintes desafios da Igreja no Ocidente hoje: (1) uma sociedade fascinada pelo individualismo expressivo; (2) uma visão pragmática da religião que relega nossa fé à esfera privada dos valores pessoais; (3) um número crescente de pessoas que vê a moralidade cristã não apenas como “antiquada”, mas também como “extrema e perigosa”; e (4) as pessoas estão cada vez mais isoladas, fragmentadas e polarizadas.

Em relação ao individualismo expressivo, Wax, que foi missionário na Romênia, é professor universitário e tem contribuído há anos com artigos para jornais seculares e revistas cristãs nos EUA, ressalta que “Seja você” e “Seja fiel a si mesmo” são hoje “os slogans favoritos da sociedade, os primeiros e maiores mandamentos para nosso estilo de vida”, de maneira que “o individualismo expressivo representa um desafio para a igreja”, já que “a Palavra de Deus desafia o ‘Eu’ com o ‘Nós” e então coloca o ‘Nós’ abaixo de Deus”. Enquanto “a tendência humana é olhar para dentro, a Palavra de Deus diz para olharmos para cima. Nós, seres humanos, resistimos a olhar para cima porque isso implica que alguém ou algo está acima de nós e que este Alguém pode ter autoridade. E por sermos formados por [novas] suposições ocidentais sobre liberdade e felicidade, nos irritamos com reivindicações de autoridade moral sobre nós ou instituições que nos pedem algo. Resistimos a qualquer coisa que possa sufocar nossa liberdade autodefinida. Se os catecismos cristãos dizem que ‘O fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre’, o individualismo expressivo inverte isso: ‘O principal objetivo da religião é glorificar o homem para que ele possa se divertir para sempre’”.

Em relação à visão pragmática da religião, Wax lembra que “no mundo de hoje as pessoas tendem a ver a ciência como o árbitro da verdade e dos fatos públicos. A religião é uma influência sobre os valores, mas esses valores não são absolutos ou transcendentes.

A religião é relegada ao privado e pessoal, algo a ser mantido longe da praça pública. Sua importância está ligada apenas ao sentido de significado ou de identidade que dá aos seus adeptos”. Logo, “as exigências morais do Cristianismo são aplicáveis somente se trazem o tipo de felicidade que já decidimos ser o objetivo da vida. [...] Quando a religião é privatizada, a natureza do que é ‘bom’ muda. Não temos mais algum padrão ‘lá fora’ a qual estamos tentando nos conformar, ou algo que estamos tentando alcançar, ou uma meta pela qual precisamos nos esforçar para nos tornarmos plenamente e gloriosamente humanos. Em vez disso, redefinimos o bem em termos de tudo o que é recompensador. O pragmatismo permeia”.

No que diz respeito à visão que muitas pessoas, absorvidas pelo espírito do nosso tempo, têm hoje sobre a moralidade cristã, Wax alerta sobre um equívoco comum cometido por muitos cristãos: muitos erroneamente “se consolam com a ideia de que, desde que nos distanciemos de vozes estridentes que não representam o tom ou a cativação necessários para defender de forma persuasiva a teologia e a ética cristãs, as pessoas perceberão o quão razoável e respeitável é o ensino cristão, mesmo que discordem dele. Mas isso não é verdade. Estamos em uma revolução moral na qual crenças de longa data em nossa cultura estão sendo viradas de cabeça para baixo. À medida que o individualismo expressivo se espalha e se torna a visão dominante do mundo, os ensinamentos cristãos básicos são agora considerados não apenas antiquados, problemáticos ou errados, mas extremos e perigosos”. Ou seja, o problema não é tanto a forma talvez imprópria de alguns irmãos ao expressar a sua fé e a discordância sobre alguns temas a partir dela; a questão é que há um ataque mesmo ao conteúdo do que cremos, e é preciso, como Igreja, nos mantermos firmados nos princípios e valores da Palavra de Deus.

Finalmente, no que tange ao isolamento, à fragmentação e à polarização da sociedade, o mundo de hoje está, como frisa Wax, perdendo a confiança nas instituições, logo se segue o aumento da “desorientação e da fragmentação”, e “junto com essa fragmentação e isolamento vem o problema da polarização. A internet agrava o problema”. Portanto, a Igreja deve se levantar como farol, guiando as pessoas a Cristo, à verdade, ao verdadeiro sentido da existência, aos valores eternos. Devemos, como ressalta Wax, “resistir à transformação de nossas reuniões em lugares onde todos buscam meramente a realização mútua. Para muitos hoje, se vai à igreja porque ela nos ajuda a nos autorrealizarmos, e não porque nos torna bons ou porque buscamos glorificar a Deus. As pessoas vão à igreja como vão a qualquer outro lugar, para serem confirmadas” em seus próprios planos.

Sabemos que a Igreja, o Corpo de Cristo, sempre avança, pois Seu Senhor garante: “As portas do Inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus 16.18). Porém, devemos trabalhar em sinergia com o Espírito de Deus para que mais pessoas sejam trazidas ao Corpo de Cristo. Logo, urge atentarmos para esses desafios e cumprirmos a nossa missão nesta geração. Afinal, muitas vidas ainda precisam ser alcançadas e a Vinda do Senhor se aproxima.

Compartilhe este artigo. Obrigado.

Comentário

Seu comentário é muito importante

Postagem Anterior Próxima Postagem