Os homens serão julgados no Juízo Final por suas obras?

Se a salvação não vem das obras, como conciliar os textos de Efésios 2.8,9 e Apocalipse 20.12?

O texto de Efésios 2.8, 9 afirma: “pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie”. As expressões em itálico apresentam dois agentes: a graça e a fé; e o segundo depende do primeiro para existir. Então eu diria que o segundo é um “agente-paciente”. Senão, vejamos:

O contexto (Efésios 2.1-10) trata da salvação dos pecados e consequentemente da condenação da alma. Isto só é possível porque “Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou” (v. 4), disponibilizou-se, por meio da Sua graça, a nos salvar. Por isso que pela graça somos salvos, e ela “não vem de nós; é um dom de Deus” (v. 8) para nós. Portanto, ela é o agente de Deus para nos alcançar com salvação. Ela não é fruto de obra humana que mereça recompensa (v. 9; Jó 41.11; Romanos 11.35).

A segunda ação é exercida pelo homem que, “por meio da fé” (v. 8), aceita o que foi-lhe disponibilizado pela graça de Deus e se apropria da salvação. Surgem duas obviedades: sem a graça divina, de nada valeria o homem crer; não adianta o homem crer se não for exclusivamente na providência da graça divina. Segue-se, então, que o homem deve crer para ter salvação e que sua fé deve ser na provisão da graça – Jesus (Tito 2.11). Por isso que este segundo agente é um dependente do primeiro, tornando-se agente-paciente. Assim, “pela graça” é a mão de Deus em socorro ao homem perdido, enquanto “por meio da fé” é a mão humana agarrando-se à oportunidade e aceitando a graça. Essas mãos se entrelaçam deixando claro que a salvação “não vem das obras humanas” (Romanos 4.1-5).   

Já Apocalipse 20.12 assevera “vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante do trono, e abriram-se os livros. E abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados cada um segundo as suas obras”. Este texto está no contexto do julgamento do trono branco (Apocalipse 20.11-15), que é um lugar onde comparecerá toda humanidade para o julgamento final, à exceção da Igreja. A ele comparecerão todos os mortos não-salvos, de todas as épocas, desde Adão (“o mar, a morte e o inferno deram os mortos que neles havia” – Apocalipse 20.13 – e não haverá distinção de classe social – “os mortos, grandes e pequenos” – Apocalipse 20.12); os salvos que sobreviverem ao período da Tribulação e entrarem no Milênio; e aqueles que nascerem no período do Milênio. A base legal e justa desse julgamento serão os registros nos livros. A grande questão levantada aqui é o julgamento ser executado “segundo as suas obras” (vv. 12,13). Há contradição com o texto de Efésios 2.8,9, que afirma que a salvação “não vem das obras”? Evidentemente que não. Como a Bíblia não se contradiz, ela é autoexplicativa, a expressão “segundo as suas obras” não se opõe a Efésios 2.8-10. Simplesmente o confirma, pois as obras registradas nos livros, para serem válidas para salvação, terão de ser obras de fé na pessoa de Cristo e na providência de Deus. Observe que só serão justificados e salvos nesse tribunal do trono branco aqueles cujos nomes forem achados escritos no Livro da Vida, o que só se dará pela fé dos tais (Apocalipse 3.5; Filipenses 4.3; Lucas 10.20; Salmos 51.11; Êxodo 32.32,33; etc.). Note ainda que serão vistas todas as obras registradas nos livros as quais, com certeza, tendo o elemento da fé salvífica, também levarão à inscrição do nome no Livro da Vida. Não fosse isso, não haveria necessidade dos demais livros.

Lembremo-nos de alguns personagens bíblicos que foram salvos pela fé demonstrada por meio de obras. Cornélio (Atos 10.1-48) não foi salvo porque “fazia muitas esmolas ao povo” (v. 2) ou por suas práticas religiosas que agradavam a Deus (vv. 2-4), mas porque essas obras eram realizadas no temor a Deus; o que se confirmou quando ouviu falar de Jesus e creu nEle (vv. 34-48). A mulher hemorrágica (Mateus 9.22), o cego de Jericó (Marcos 10.52) e tantos outros ouviram do Senhor “a tua fé te salvou”, após demonstrá-la com atitudes. O centurião de Cafarnaum (Lucas 7.1-10), o ladrão na cruz (Lucas 23.40-43) e outros tantos foram salvos e viram suas petições respondidas após um ato de fé.

Por Celso de Castro Costa.

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