Israel, Machado de Guerra de Deus

Israel, Machado de Guerra de Deus

“Esconder-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja? Diz o Senhor. Porventura não encho eu os céus e a terra? diz o Senhor” (Jeremias 23.24).

O versículo citado acima trouxe à memória um caso ocorrido num passado recente em Israel. Certo homem, judeu, sentindo-se perseguido e injustiçado pelo Criador, recorreu à justiça israelense para pedir uma espécie de medida protetiva, um afastamento de Deus. O caso, descrito pelo site ‘The Times of Israel’, foi referido pelo site “Veja” em6 de maio de 2016. Segundo o requerente, por três anos tentava conseguir uma ordem com a polícia local que, em resposta, ‘apenas’ enviou patrulhas à sua casa por dez vezes, atitude que não conseguiu resolver a questão – o homem continuava a sentir-se perseguido e incomodado pela presença de Deus. O juiz Ahsan Canaan considerou a causa ridícula, e acrescentou que o queixoso precisava, sim, de ajuda, mas “de outras fontes”, sugerindo ter o mesmo algum distúrbio mental. De qualquer forma, por ironia, lavrou-se a Ata da audiência, ficando registrado que o acusado não compareceu à sessão. O juiz Canaan deu o caso por encerrado, ironicamente, pela ausência do Onipresente.

O assunto pode parecer risível e, certamente, não reflete a saúde espiritual de Israel. Mas é verificável e sintomático que algumas pessoas literalmente prefiram fugir da face do Senhor ou, ao menos, tentar. O salmista respondeu à problemática de forma incisiva: não é possível ao homem esconder-se, nem nas maiores alturas, nem no mais profundo abismo. Para onde quer que vá, lá encontrará o Todo Poderoso, mesmo no tribunal dirigido pelo meritíssimo juiz Ahsan. Diante dEle, toda a causa é julgada e o martelo é batido. Aliás, o ocorrido foi trazido à luz pela mídia sob o título de “o martelo de Deus”, fazendo menção à uma das ferramentas símbolo da justiça que aquele homem procurava. No entanto, o Senhor pode oferecer-lhe outra ferramenta em resposta às suas reclamações. Um homem, julgando-se importunado por Deus, pode receber, em lugar do martelo da justiça, o machado da Palavra (da qual, sejamos justos, o martelo também é símbolo).

O machado é, por definição, uma ferramenta de corte, e é um instrumento primitivo e essencial, seja para a limpeza de terrenos, abertura de estradas, construções, livramento (uso que dele faz os bombeiros), bem como é instrumento de guerra e de aplicação das leis. Nesse último quesito, lembramos que seu símbolo estava presente nos palácios de justiça romanos, por vezes representado com duas lâminas opostas, representando o direito e o poder. Desde o primeiro machado, feito de pedra amarrada a um pau, até os modernos instrumentos, resultado da chapa incandescente de ferro, dobrada, batida, afiada e devidamente presa a um cabo longo que permite não apenas segurar e bater (o que de mandaria um excessivo trabalho para os músculos), mas deslizar a mão, aproveitando o peso e o corte da ferramenta em seu vai e vem, o machado passou à História como objeto útil, símbolo do trabalho e da dignidade de seu possuidor. Carregar um machado apontava a responsabilidade de um trabalhador que, em sua maioria, não possuía horário para iniciar ou encerrar suas atividades na busca pelo sustento de sua casa. A passagem para a simbologia da justiça deu-se durante o império romano, quando passou a evocar a pena máxima, a decapitação. Já para saber como o machado mudou-se de instrumento de trabalho pertencente ao cotidiano do homem comum para ferramenta de guerra é necessário recorrer aos escritos de Dostoiévski.

O machado requeria uma boa confecção (caso em que o ferreiro marcaria a fogo seu próprio nome), boa aderência ao cabo (normalmente preso e acrescido de uma cunha de madeira e de uma argola de ferro para maior fixação) e de um excelente corte. Somente bem afiado o machado produziria um corte com precisão, com lateralidade, criando fendas enquanto penetrava a madeira de forma oblíqua, criando fendas, abrindo espaço, para cortar vigas, fazer colunas e todo o tipo de trabalho de maneira funcional. Dessa maneira poderia ser comparado à Palavra de Deus que “é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até a divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Hebreus 4.12).

O profeta Jeremias compara Israel a um machado: “Tu és meu machado de batalha e minhas armas de guerra, e por meio de ti despedaçarei as nações e por ti destruirei os reis” (Jeremias 51.20). Muito embora, estranhamente, em lugar de forjar o Seu próprio nome na ferramenta, aquEle que possui o verdadeiro fogo decidiu gravá-la nas palmas de Suas Santas Mãos (Isaías 49.16).

Machados podem ser fabricados em todo o lugar, muito embora, durante tempos sombrios, tenha faltado a Israel essa possibilidade. Nos dias de Samuel (1 Samuel 13.20), não era permitido aos judeus nem ao menos afiar suas ferramentas, sendo-lhes necessário recorrer aos filisteus. Mas, excluídos aqueles dias, o machado tem sido uma ferramenta de fácil acesso e que, infelizmente, pode ser perdida, extraviada ou, até mesmo, usada indevidamente, quer por vontade própria, quer por descuido. Por essa razão, o livro de Deuteronômio prevê que, se alguém ferisse, inadvertidamente, alguém pela soltura do machado de seu cabo, vindo a provocar uma morte, o usuário poderia acolher-se numa das cidades de refúgio previstas pela Lei, para aguardar um julgamento justo, já que não provocou a morte por dolo.

O segundo livro de Reis, capítulo 6, inicia com a narrativa de um incidente que, graças ao Senhor, não teve piores consequências. Homens reuniram-se com um bom propósito e com a a provação de seu líder espiritual. Já estavam trabalhando, já se esforçavam, já estavam envolvidos na causa quando aconteceu um incidente: o ferro de um machado emprestado caiu na água. Felizmente, a resposta daquele que portava a ferramenta não foi qualquer ação impulsiva como jogar-se no rio, a negação do ocorrido, ou a transferência da culpa, fosse pela proximidade do rio, o fabricante do machado, a força utilizada, a resistência da árvore ou sua própria inépcia. Tais atitudes não logram resultado, mas o pedido sincero de ajuda sim. Reconhecida a perda, evitando prosseguir na tentativa de cortar sem a parte essencial perdida, o que apenas repetiria o movimento que a memória mecânica já havia gravado, o jovem profeta deu lugar ao clamor e ao milagre.

O poder que faz flutuar o machado distingue-se do poder da criação, pois, por criação, é da natureza do ferro, lançado na água, afundar. Sem linhas ou técnicas que lhe permitissem plainar à superfície, o machado desce ao fundo do rio. O poder que o fará flutuar é o poder da ressurreição – o poder que ergueu Enoque, arrebatando-o, que elevou Elias ao céu num redemoinho e que ergueu Nosso Senhor às nuvens – esse é o poder único que faz voltar uma ferramenta ao seu lugar. Trata-se da força que renova, rompe as barreiras naturais e desconhece as prisões da impossibilidade, restaurando para a obra de Deus aquilo que já estava sendo dado como perdido. Cada retorno de um instrumento do Senhor caído, afundado sob as muitas águas, compara-se à ressurreição dos mortos, à visitação de vida num vale de ossos sequíssimos e ao retorno de Lázaro ao seio de sua família.

O poder de Deus faz voltar à posição e reconduz ao centro da vontade do Senhor. Esforços, mesmo cheios de compromisso e de lealdade, não conseguem mais do que fatigar alguém que pense cortar uma prateleira sequer para a casa de Deus com o esforço de um cabo de madeira destituído de lâmina. O poder da ressurreição, ele sim, restitui, restaura, renova… A alegria advinda do processo somente é comparável à alegria do novo nascimento.

Quando alguém reconhece que uma área de sua vida espiritual foi afetada e que o incidente pode ter afetado outras pessoas, se, com humildade, clama ao Senhor, pelo madeiro da cruz ser-lhe-á restituída a porção perdida e ainda mais. Mesmo numa escola de profetas, onde todos eram instrumentos do Senhor, verdadeiros machados de Deus, cortando pelo ensino que divide claramente aquilo que é bom ou mau, pela prática de uma vida em aliança com Deus, sempre feita a partir dos cortes da renúncia, ou seja, pela palavra profética que anuncia a todos o juízo que virá, pois “já está posto o machado à raiz das árvores”, incidentes podem acontecer, mas, glorioso recurso, podemos clamar e ver o agir sobrenatural de Deus a nosso favor.

Para que um homem – quisesse fora apenas um – em Israel, dentre os filhos de Abraão, de Isaque e de Jacó chegasse a declarar seu incômodo com a presença do Eterno, como calcular a quantidade de vezes em que os valores espirituais foram perdidos e tais perdas não foram percebidas? Por que razão a Presença do Santo, tão desejável, passou a ser tão desprezível a ponto de suscitar a louca petição de uma ‘medida protetiva’? Quando um homem quer fugir da presença do Criador não está mais do que tentando, de forma ineficaz, esconder suas vergonhas, a vergonha de seu pecado da presença do Juiz. O martelo, nesse caso, apontará o machado; o machado apontará o martelo: a Palavra de Deus está pronta a efetuar o corte curativo, a nova circuncisão, que é do coração do homem, para estabelecer uma nova aliança, pelo sangue do Cordeiro, que restaure cada um em Israel, até que restaure todo Israel ao seu lugar, ao lugar emotivo de sua existência como nação nascida para glorificar a Deus. O machado quer cortar curativamente, antes que o peso do martelo, inexoravelmente, se faça sentir.

Por, Sara Alice Cavalcanti.

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