Segundo a Wikipédia, o laicismo é uma doutrina filosófica que defende e promove a separação do Estado das igrejas e comunidades religiosas, assim como a neutralidade do Estado em matéria religiosa.
A separação entre Igreja e Estado, diferente do que muitos podem
pensar, não foi uma iniciativa da Revolução Francesa, mas sim uma consequência
da liberdade de pensamento oriunda da Reforma Protestante:
“Mais do que quaisquer outros grupos religiosos dos sécs. XVII
e XVIII, os de convicção batista patrocinaram o conceito de que a consequência
lógica da doutrina da liberdade religiosa era o princÃpio da separação entre a
igreja e o estado. Com base em passagens como Mateus 22.15-22 e Romanos 13.1-7
eles argumentaram que esse era o único meio de salvaguardar a liberdade
religiosa e o sacerdócio dos crentes. Com isso eles queriam dizer que o estado
não tinha o direito de interferir nas crenças e práticas religiosas dos indivÃduos
e das igrejas, e que à igreja, por sua vez, não tinha o direito de receber
qualquer sustento financeiro do estado” (Fonte: Matos, Alderi Souza de, “Igreja
e Estado: Uma Visão PAnorâmica” / htep://www.mackenzie.br/7113.html).
Este conceito foi se aperfeiçoando com o passar do tempo e
com a progressiva substituição do regime monárquico pelo republicano, no
ocidente o padrão é o estado laico. Isto é, questões religiosas não é assunto
de governo, nem cabe a estes privilegiarem certas igrejas em detrimento de
outras.
Isto é o que deveria acontecer.
Na prática, pessoas influentes tentam proibir a utilização de
sÃmbolos religiosos ou mesmo cercear o direito de expressão da fé, não apenas
em órgãos governamentais, mas em qualquer espaço público.
Ao defenderem a restrição a liberdade de expressão religiosa
em nome de um pretenso respeito a minorias de outras religiões, ou mesmo
não-religiosas, o que querem é restringir toda e qualquer atividade religiosa Ã
vida privada e, no máximo, às quatro paredes dos templos.
Na verdade, as elites das civilizações ocidentais as
encaminham rapidamente para uma mudança de paradigma. Elas estão deixando de
ser sociedades alicerçadas em valores cristãos para se transformarem em
sociedades pós-cristãs. E este é um movimento de cima para baixo.
As chamadas elites destas sociedades, especialmente na
Europa e agora, com mais força nos EUA, veem a religião não mais como um
folclore ou um dado cultural, como até pouco tempo viam, mas sim como um
inimigo, um empecilho ao desenvolvimento da raça humana.
Esta visão de mundo levou a Dinamarca ao caminho contrário:
lá foram publicadas charges ofensivas aqueles que professam a fé islâmica. Por
que fizeram isso? Porque na gélida Europa, a fé foi reduzida a folclore e não
passou pela cabeça deles que para a maioria dos povos do planeta, fé não é
fábula. mas sim uma visão de mundo que envolve não apenas suas crenças, mas
também seus sentimentos mais profundos e que alguém pudesse se sentir ofendido
por uma crÃtica a algo tão arcaico quanto a fé. Quando os protestos islâmicos
começaram, jornalistas do mundo inteiro se levantaram contra este “atentado a
liberdade de expressão”. A mim me pareceu um conflito entre dois dogmas: um
lado exigindo o direito ao respeito por aquilo que creem, o outro exigindo o
direito de falar e escrever o que bem entender. E ao restante dos pobres
mortais cabia o direito de bater palmas para o que eles produzem.
Pelo o que percebi, para esta elite, o direito de expressão
é apenas para quem publica o que quer, ofendendo quem quer que seja. O ofendido
não tem direito de também expressar livremente seus protestos contra o que foi
publicado. Afinal, para ser religioso em pleno século XXI, só sendo um fanático
e, desta forma, sua opinião é irrelevante.
Com isto, pipocam textos em revistas conceituadas, no Brasil
e no mundo, onde articulistas reconhecidos por sua argúcia e sabedoria, de
forma nem sempre sutil, tratam de intelectualmente inferiores aqueles que nos
dias de hoje ousam crer em algo transcendente ou espiritual. Se este algo se
chamar Deus ou Jesus Cristo, pior: tais pessoas são homens de Neanderthal ou
mesmo um Osama Bin Laden em potencial. Há alguns anos, na França, foi
promulgada uma lei proibindo alunos de ostentarem adereços religiosos na escola
por ser esta um espaço laico. A escola é um espaço laico, o aluno não. E o
direito à liberdade de expressão do aluno, agora não vale? Foi uma lei feita
sob encomenda para proibir alunas muçulmanas de usarem o shador. Mas também
afeta judeus de usarem o quipá, cristãos de usarem o crucifixo ou de portarem
uma BÃblia. Ao longo do século XX, a fé no espiritual e a religião foram
sistematicamente expulsas da sociedade ocidental, mas, sem sua base moral e ética,
a decadência veio muito rapidamente. Porque junto com a fé vem a consciência de
que somos mais do que meros homo sapiens (atualmente, mais homo do que
sapiens). Não. Nós somos mais do que simples moléculas de carbono. Nós temos
sensibilidade. E o que é a sensibilidade senão a manifestação da alma? A arte é
filha da alma e a alma não está presa a moléculas de carbono. Viver é mais do
que simplesmente existir. Por isso a vida é sagrada e inviolável. É isso o que
nos faz humanos.
Mas isto também é um empecilho para os avanços da ciência,
pois é necessário que sejamos reduzidos a condição de ratos de laboratório para
que possamos ser manipulados e as fronteiras do conhecimento se expandam. Mas a
que preço?
O que muitos humanistas não perceberam é que quanto menos
espiritualizada for nossa sociedade, menos humana ela também o será, pois o
espÃrito é inerente a natureza humana. Se não há transcendência, a vida se
torna fútil e vazia, e a sociedade individualista, hedonista e materialista.
Quanto tempo durará uma sociedade assim, antes de seu completo esfacelamento?
Não importa se nossas elites não creem que temos uma alma, um espÃrito ou que
Deus exista. Independente do que creem, continuaremos a ter alma e espÃrito, e
Deus continuará existindo.
Se nós, como sociedade, continuaremos a existir é que eu não
sei.
por Robson Rocha
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